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Texto para o dia em que eu morrer
Isabela Oliveira


Mortes são muito inconvenientes, então, pra começar: desculpa qualquer coisa aí.
Vai ter muitas ligações, algumas lamentações, planos cancelados, viagem de última hora, acertos com funerária.. Enfim.
Ninguém tá preparado para despedidas, é muito difícil acreditar que existe uma tal “hora certa”, mas acho que conforta um pouco pensar em coisas como “vontade de Deus”. Espero que eu não saia dessa vida em um acidente de carro porque morro de medo de estradas e não quero que ninguém chocado com uma morte inesperada. Até que seria poético morrer num acidente de avião, mas eu ia ficar muito indignada com os comentários mimimi tipo “coitadinha, ela amava aviões”. Mas pode colocar ai com certeza que eu aproveitei bem os meus dias da minha maneira alucinada de querer tudo e tentando tirar o melhor de cada dia. Se tem uma coisa que tenho notado cada dia mais em mim é uma angustia crescente de sentir que meus dias estão passando e que eu deveria estar fazendo alguma coisa maravilhosa! Essa busca incessante as vezes cansa, mas esse texto não é sobre isso.
Antes de tudo: não me coloquem deitada num caixão no meio de um salão com minha família em volta. Tenho pavor de ficar deitada e as pessoas me olhando. Já que as pessoas têm essa tradição estranha e essa necessidade de ficar olhando pra alguém num caixão, me deixe num canto, isoladinha por uma parede móvel, quem quiser dar uma chegadinha lá, tá permitido. Mas nada de ficar sentada em volta. Se rolar de cremar também, tá valendo. Claro que não dá pra prever o horário da morte, mas nada de velório extenso porque ninguém merece um dia torturante se arrastando. Não entupir o caixão de flores, pelo amor! Um buquezinho de flores do bosque tá de bom tamanho.
Servir cafezinho, agua, se rolar um refrigerante. Eu ousaria dizer cerveja também, mas não sei como seria encarado pela sociedade. Eu vejo meu velório como um lugar pras pessoas poderem conversar e ter memórias sobre mim e como a gente se marcou. Uma cervejinha só ajuda. Pãozinho de queijo sempre bem vindo também. Nada de inibir as pessoas. A ideia é uma grande reunião. Musica ambiente, nada daqueles “lounge”.
Sei que muita coisa fica ‘pendente’ quando alguém se vai.. muitos assuntos não resolvidos, muita coisa que se deixou de falar. Eu acho que seria interessante deixar várias daquelas velas pequenininhas redondas lá, e quem quisesse, poderia acender uma e colocar no “memorial” (memorial: algumas flores e uma foto minha bacana) enquanto fizesse uma oração por mim ou “acertasse alguma pendência”. Já adianto que quero ir embora de bem com todo mundo.
Acho que seria legal algum Padre fazer uma leitura (não necessariamente bíblica) e também falasse algumas palavras (breve = 5 minutos). Não precisa de nenhum amigo dizer nada. Mas vale colocar bilhetinhos no memorial também. Pode colocar tudo no caixão depois sem problemas. Ou queimar, caso eu já tenha virado cinzas também. Hahaha.
Talvez uma música católica ou importante pra mim no final. Seria legal ver as pessoas se unindo num misto de emoção e felicidade pela vida legal que eu tive.
Deixo meus bens para meus filhos. Não pera. Não tenho filhos. Nem bens.
Vou parar por aqui porque já está ficando bem ruim. Mas já demonstra o espírito que eu quero no meu velório. É isso. Desculpa fazer você que está lendo dar essas notícias pra minha família.


Biografia:
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Publicações de número 1 até 4 de um total de 4.


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