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O VÍRUS DA REVOLTA
FRANCISCO MEDEIROS QUARTA

O VÍRUS DA REVOLTA

Sinto-me envelhecer precocemente,
Mesmo a fazer das tripas coração!
Distinguir bem ou mal, sinceramente,
Não sou capaz, é tal a confusão…

Neste deserto, que é a minha vida,
Tão cheia de reveses, frustrações,
Não posso caminhar de fronde fronte erguida;
Para viver, careço de razoes!

É dura e revoltante a carestia
Que, sem contemplações, sobre mim pesa.
Ontem, hoje, amanhã, em cada dia,
Há mais fome que pão na minha mesa!

Numa tensa atmosfera, cerro os dentes:
Será rancor, ou medo do futuro?
Já não tolero amigos ou parentes;
É todavia a mim que mais torturo!

Vítima de injustiças sociais,
Que a ninguém mereceram punição,
Só vemos farsas pelos tribunais:
Ali qualquer larápio tem razão!

Quem na carne sofreu os aguilhoes
De leis injustas, vive sempre em guerra!
Aconselhar? Recomendar perdões?
Não consigo encontrar o céu na terra!

Vamos lá trabalhar para aquecer;
Pior: encher a pança aos empresários!
Sua expansão não pára de crescer,
Pois tudo aumente, menos os salários!

Para quem o direito à instrução?
Para os ricos senhores, nada mais!
Vamos ao campo: cada cidadão
Mal sabe ler notícias nos jornais…

Leva a vida a puxar por uma enxada…
Suas férias: a chuva, o sol, o vento!
Tanta canseira, mal remunerada!
Mas chega a casa, e ri, sem um lamento…

Vai aplicar a força desses braços
Em teu proveito, amigo camponês!
A quem te logra, e ri dos teus fracassos,
Prova que és ser humano, em altivez!

Não convém educar os ignorantes;
É melhor que só saibam rastejar:
Sendo asnos, ficarão mais tolerantes.
Porém, cavalos, podem respingar!

Estamos em crise; paga-a, Zé-povinho,
Que és o maior culpado, eis a questão!
Se queres resmungar, fá-lo, sozinho.
Nada de envenenar a multidão!

Este país é só dos emigrantes,
Que, para viver, dele desertaram.
Os campos não produzem, como dantes,
Porque os seus donos os abandonaram…

Preferem ir buscar ao estrangeiro
O que bem nasceria em sua casa.
E depois gritam que não há dinheiro,
Ante a penúria atroz, que nos arrasa!

Viver de datas, comemorações,
É só o que fazemos, nesta vida!
Há b banquetes de boas intenções,
Morrem milhões de fome e… sem guarida!

Prometemos lutar contra o aborto;
A droga, o álcool, a prostituição!
Legislar para os outros dá conforto.
Mas, cumprir nós as leis, isso é que não!

Vão lá chamar gatuno ao presidente,
Ministro ou secretário, qualquer um!
Fazem decretos; lixam toda a gente,
Mas trabalhando… para o bem comum!...

Ai, pobre de quem geme, sem um tacho,
E aceita o que lhe dão, bem pouco ou nada!
Nossa miséria serve de capacho
A essa exploradora canalhada!...


Este texto é administrado por: ANTÓNIO MANUEL FONTES CAMBETA
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