Poderia tentar tocar nos vestidos das estrelas,
apanhar meteoros para o jantar,
escrever na areia do tempo palavras duradouras,
poderia rir quando fosse a horar de chorar
e calar quando a palavra precisasse estar presente...
Poderia arrumar os livros na estante,
não por autor e nem por ordem alfabética,
só por ordem de sentimentos,
a poesia mais dolorida,
o verso mais brilhante,
o silêncio mais desconcertante,
sim, eu poderia todas essas coisas,
sentir o que é a glória de ser fabuloso,
sentir a humildade do vaso de barro,
o poder do ouro e a força da prata,
mas eu não posso,
estou entregue a outros sentimentos,
a receber em meu rosto as mãos transparentes do vento,
escutar o riso da flor quando lhe faz cócegas a abelha,
deitar meu coração nas pedras do fundo rio e me esquecer,
voar com o pássaro que passa a passar seu voo,
estreitar minhas relações com o por-do-sol,
me ajoelhar e receber da vida o maior presente,
o pulsar infinito que ecoa dentro de minh'alma,
aceitar a igualdade de cada coisa diferente,
apaziguar minha ira com a mais doce calma,
cantar a canção de todas as coisas, silente...
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