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(In)Decisão
Myllenne Abreu

Resumo:
Apenas uma pessoa pode decidir o que é eterno. O inacabável, assim como o Agora, quem decide é você.

Criou coragem. Olhou no fundo dos seus olhos pelo reflexo angustiado do espelho quebrado e sussurrou: "cria coragem".

Era segunda-feira, e como no domingo prometera a si mesma que iria contar-lhe a verdade sobre seus sentimentos no dia seguinte, estava ali, desamparada, em um dos mais imundos banheiros da escola, e admirando-o como refúgio já que poucos ousam entrar e inalar aquele cheiro horrível.

"Cria coragem", sussurrou mais uma vez.

Ah, serão necessários mais que simples sussurros para suprir suas necessidades em relação àquele homem. Não era à toa que estava ali, sozinha, em um banheiro medíocre, sentindo o coração bater como nunca batera na vida.

Involuntariamente, e outra vez, ouvia sua voz. "Você é linda", dizia a voz, e também involuntariamente sorria.

Coisa de apaixonada, coisa de iludida, sobre o que era ao certo era impossível dizer. Sabia apenas que o que sentia era forte, que estava ali, nervosa como nunca, sorrindo boba por causa de um mero elogio e preparando-se para revelar seu maior segredo: que o amava incondicionalmente.

Sorria não só por causa do elogio. Sorria ao lembrar de tudo sobre ele. Do seu carisma, da sua eloquente barba sexy, da sua primeira e única conversa, e que foi troca de palavras o suficiente para fazê-la se apaixonar, do seu porte atlético, do seu cabelo ondulado e principalmente dos seus imensamente, infinitivamente belos olhos azuis.

Não cansava de pensar em seus olhos, não cansava de falar sobre eles. Coitados os que a aguentavam falar sobre o amado 24 horas seguidas.

Era amor demais. Era ilusão demais.

Afastou-se do espelho e pegou rapidamente a bolsa. Não saberia destingir se aquele era o melhor ou o pior dia de sua vida.

Com a bolsa nas costas, só passou a andar. Para onde? Ela não sabia. Ela só queria andar, correr para longe dalí, distanciar-se daquilo que a afetava, daquilo que estava comendo-lhe o juízo.

Não podia vê-lo. Se visse, tudo estaria perdido. Sem querer as palavras sairiam de sua boca e o seu mundo desabaria, sua vida acabaria, então ela podia tudo, menos encontrar-se com ele.

Pobre coitada. Mal sabe ela que o destino só tende a aniquilar esperanças. E foi flecha no alvo, na mosca. O destino ouviu seu desespero oculto e gozou de sua cara.

Dobrou a esquina, e no contexto perfeito de "lugar errado e hora errada", ou o contrário talvez, chocou-se com seu príncipe.

No momento nem identificara o indivíduo, só sentiu-se na obrigação de pedir um milhão de desculpas. Apanhou os livros que derrubara e deixou-os cair novamente quando descobriu a quem pertenciam.

Num riso ligeiro de seu amado, viu-o apanhar os livros que derrubara pela segunda vez. Estava paralisada. Seu coração parara de bater. E só percebeu que havia prendido a respiração quando precisou respondê-lo.

"Você está bem?"

"Sim", respondeu rapidamente. Mas não, ela não estava bem.

Eu te amo! Ela quis gritar o mais alto possível, quis arrebentar suas cordas vocais, mas se conteve. Resistiu. Piscou algumas vezes e finalmente desgrudou os olhos do homem.

Notou que estava fazendo papel de tola. Isso era inadmissível. Já bastava a sua inferioridade natural em relação à perdi/perfeição parada a sua frente.

Suspirou, e em meio a gaguejos, disse:

"Perdão".

Recebeu mais um sorriso demasiadamente sedutor/reconfortante e o viu partir, logo após uma breve despedida. Tão breve quanto a sua sorte.

Ele estava partindo. Pela milionésima vez.

Ficou um tempo parada, estúpida, olhando seu Adônis distanciar-se enquanto passava, também pela milionésima vez, por um momento de auto-aversão. Pela milionésima vez ela tinha deixado a chance escapar.

Respirou fundo. Percebeu que, de fato, as palavras não saíram sem querer de sua boca como havia previsto.

Pela milionésima vez.

"Prometo que amanhã direi tudo", pensou enquanto voltava ao percurso de casa como se nada tivesse acontecido.


Biografia:
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