O que escrevo como, bebo, cago,
não sou um animal rasteiro,
nem tenho rabo,
ereto como raio de sol
vivo a despregar-me
da saia da mamãe,
do papai que vai para o trabalho,
da conta pendurada no prego, do salário,
vivo a costurar meu corpo
à luz que vara o infinito,
estrela que brilha
enquanto durar,
da vida,
o mito...
O que faço pouco importa
aos manuais de emprego,
acordo tarde, acordo cedo,
tenho coragem, tenho medo,
devo, pago, recebo,
enquanto durar este corpo e sua alma,
enquanto durar os átomos
da raiva e da calma,
do bem e do mal,
enquanto ferver a chaleira
onde cozinho os ovos,
às vezes com,
às vezes sem sal...
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