Um dia tivemos um lugar para ir,
descansar, estar, viver sem terremotos sentimentais,
nenhum barco na beira do cais para levar embora nossos corações,
fazia sentido a água no córrego, a rolar, a rir,
a ir para dentro da moringa de barro,
havia um ar de tudo estar ao acaso,
sem leis e tabuletas,
a vida seguia, cintilante,
muito além das propriedades,
do caos das sarjetas,
do medo, muito distante...
Éramos a poesia em carne e osso,
havia cabeça sobre o pescoço,
versos no espaço, soltos,
éramos tão jovens,
éramos o sol que surgia
além do fosso onde crocodilos banquetes urdiam,
éramos anjos sobrevoando sobre a fome
de amor que muitos sentiam na cidade,
até hoje não sei uma letra do seu nome,
nem sabes o quão era forte a minha vontade...
Hoje te procuro
como se fosse possível achar um brilhante no escuro,
nos perdemos entre os vãos da filosofia,
quero te ver de novo, eu juro,
nem que for por só mais um dia...
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