I
Sempre imaginei que, nesta vida, não teria ninguém para amar, por conseqüência também não haveria ninguém que me amaria. Tão logo deixasse a vida seria esquecido, meu nome cairia no silêncio, minha história no esquecimento, por que não ficaria quem perpetuasse meu nome, ou um único ser que se lembrasse de mim, ou que em tempo fúnebres me levasse flores.
Na verdade, não haveria ao menos quem choraria, não haveria quem lamentasse, ou seja, á noticia da minha morte não levaria ninguém a desmaiar, ninguém entraria em sofrimento, como também ninguém comentaria, não mobilizaria ninguém, portanto, não mexeria a serio uma única alma viva, simplesmente porque não há quem se importe tanto.
E depois de segundos, meu nome, minha historia, o que vivi seria apagado já que ninguém saberia que passei pela vida, porque simplesmente não deixaria rastros, pegadas, legado nenhum. Acho que somente a solidão resignada lembraria, pois, por muito tempo, foi minha amiga inseparável.
Confesso que até já sentir vontade de amar, de ser amado. Já sonhei que era feliz, que coisas simples, como abraçar, beijar, namorar eram corriqueiros na minha vida, aliás, acreditei que eram as mãos da realidade me proporcionando sorrir, e por isso, manteve-me irredutível sonhando, vivendo.
Mas aí, acordei, e a vida, implacável, fez questão de mostrar que beijos, abraços, namoro, coisas normais do dia a dia, não ficaram pra mim. Ela, a vida, fez questão de jogar na minha cara, que nunca terei. Fez questão de lembrar que sou diferente, que não me encaixo, sou um filho do acaso cuja solidão é a minha condenação por ser quem sou.
Namoro, amor, paixão, felicidade não ficou pra mim. Eu já aceitei essa realidade. Já não brigo por isso, já não questiono, aceitei.
Agora, pelo fato de conviver com a solidão não significa que transpareço essa realidade na face, pelo contario, não sou digno de pena, aliás, o que odeio é o sentimento de penas das pessoas, e como odeio se por ventura demonstrasse de pronto seria objeto de pena. Não, não suportaria.
Assim quando digo que aceitei, e olha que aceitei por vias amargas que não nasci para bailar com a felicidade, estou dizendo que vivo tal qual me foi imposto, resolvi me adequar as circunstancias, permitir ser levados pelas ondas do mar sem criar obstáculos, sem teimosia.
O problema é à noite quando estou distante dos olhos da pessoa. O problema é quando vejo os casais de namorados em afagos, em beijos ardentes, de alguma forma me afeta, devora-me por dentro. É como um soco no estomago que me faz perder a respiração. Porque, por mais que procure me adequar às circunstâncias, ainda quero ser envolvido pelos braços másculo de um homem, ainda quero embriagar-me nos beijos ávidos de um homem a quem faça meu coração disparar, a perna tremer.
O problema é quando descanso minha cabeça sobre o travesseiro e os pensamentos ganha vida, divagam enquanto involuntariamente as lembranças persistem em me dominar. Dói, como dói. O meu passado persiste em conviver comigo, a permanecer comigo testemunhando o fato claro: por ser quem sou não sou digno de ser feliz. Porém, é só a noite ceder para o dia que estou em pé disposto, sem lamento, para viver tal qual a vida tem me oferecido, satisfeito por respirar.
E assim quando havia aceitado sem discussão, um vento calmo e suave afagou meu rosto. Verdade que foi rápido como um piscar de olhos, mas, ainda assim, a vida soprou a meu favor.
E aqui começa a minha história...
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