Para que serve, ajoelhado,
o homem, se por dentro o pecado
lhe pede um naco, insaciado que está
seu coração de salteador vulgar?
Para que serve sua reza de repetição
se o rifle é mais robusto,
o que tem em mãos,
sua feérica alma de salva de tiros
é mais explosiva que seu espirro?
Para que serve dizer crer na moral,
o homem, esse invulgar animal,
se tranca, trança, trancafia,
fia o cântico da masmorra,
se o que mais ouço
é a sinfonia do calabouço,
do café a borra?
Para que serve o código de ética
se sua filosofia patética
discursa debaixo de sol e de chuva
a mesma prolegômena curva
entre o êxtase e o sofrimento,
se ele, o homem,
de todos, é o pior invento?
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