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TURISMO, ARQUITETURA E LEIS DE INCENTIVO*
Flavio F. A. Andrade

Turismo é hoje uma das maiores prioridades de Jundiaí. Atrair turistas é palavra de ordem para a administração municipal e empresários. A queixa: a ocupação dos hotéis na cidade cai 30% nos fins de semana. O desafio: “criar uma estrutura capaz de segurar parte dos visitantes nos fins de semana”.
A prefeitura anuncia que quer criar um fundo para investir na melhoria de pontos turísticos e promoção de atrativos. Outros acham que investimentos em roteiro gastronômico, ecológico e Serra do Japi será a solução. Talvez. Importante e necessário, mas não o suficiente para equiparar-se com outros lugares que vivem muito bem do turismo. Jundiaí precisa de algo ousado.
A Revista Griffe avaliou quais são as atrações turísticas no mundo mais procuradas e constatou que estruturas elevadas são as que mais atraem turistas e geram renda. Não é uma redescoberta da roda. Apenas uma comprovação. Quem alertava para o fato já em 1896 era o arquiteto Louis Sullivan: “O edifício deve ser elevado, em todas as acepções do termo [...] Esta dignidade é o que lhe confere o aspecto fascinante.” Outro pensamento contemporâneo sobre a importância de edificações elevadas é da arquiteta e urbanista da USP Adriana Silva Patrício: “sua representação em imagens - fotografias, cartões-postais, pinturas, filmes, anúncios, etc. - é que fixa aquela primeira representação como coisa existente. Mas uma existência glamurosa, moderna, promissora, sublime.”
Os americanos são os criadores dos arranha-céus e os idolatram, seja através da TV, cinema, cartão-postal ou qualquer outra mídia. “O arranha-céu é espelho da sociedade americana,” afirma a arquiteta Adriana Silva Patrício. O mais importante símbolo-espelho, maciçamente divulgado durante sua existência, foi o World Trade Center. Derrubado por terroristas em 2001. As duas torres significavam para os americanos o que a Torre Eiffel significa para os parisienses: identidade cultural. Monumento que gera riquezas para este país. As duas torres não mais. Porém, por pouco tempo. Até que o novo WTC seja erguido e transformado no símbolo máximo da cidade novamente. Serão três prédios, sendo uma torre com mais de 500 metros de altura. E o cinema (a mídia número um dos Estados Unidos), espera ansioso.
Hoje, prédios altos e ousados são construídos não apenas para servirem como escritórios, casas ou antenas de transmissão. Eles servem também como atrativos para turistas e fonte de renda. Prédios que são considerados obras de arte, obras de arte que são prédios. No passado serviam para uma única finalidade. Com o passar dos anos, os empresários e o poder público entenderam que estas composições eram verdadeiras fábricas de dinheiro. Um exemplo significativo é a CN Tower no Canadá. Foi construída originalmente como torre de transmissão, porém após a inauguração perceberam que era muito mais lucrativa como atração turística. Os 63 milhões gastos na construção foram pagos em apenas 15 anos. Ela seduz mais de dois milhões de turistas por ano. É o maior edifício público do mundo, com 553 metros e 33 centímetros. Sonho de consumo de milhares de pessoas que visitam Toronto. (Na página anterior, imagem manipulada da Avenida 9 de Julho em Jundiaí com a CN Tower.)
Cria-se, desde modo, uma personalidade na edificação. Neste momento de contemplação e de retorno mútuo, nasce a alma do edifício. “I felt that, somehow, they had a kind of soul,” escreve Will Eisner no clássico livro “O Edifício”, que retrata a morte de um velho prédio em Nova York. Na visão de Adriana Silva Patrício “o arranha-céu representa e personifica uma reflexão. As paredes externas do arranha-céu, sua pele, refletem a cidade à sua volta, os transeuntes, automóveis sobre um viaduto, aviões. (...) mostra-se - vitrine - a (velo)cidade passando em eterno movimento; não há tempo para demoras e pausas.” O arquiteto e especialista em projetos urbanos, Caio de Souza Ferreira, da FAU - PUC - Campinas, define: “Edifícios são vivos. Podem ser inanimados, mas têm vida!”
Não é possível falar em turismo sem investimento do governo e de empresas, sem mencionar leis de incentivo. E os países ricos sabem disso. No mundo todo, a construção de prédios altos teve por objetivo resolver o problema da falta de espaços nas grandes cidades. Tempos depois, nos anos 30, era dada a partida para ver quem construiria o edifício mais alto do mundo. Esta corrida acontecia às vezes na mesma cidade. Nova York saiu na frente. Interrompida por crises mundiais, a competição está de volta. Com a força tecnológica que não existia naquela época.
Atualmente, quem rouba a cena são as torres Petronas Towers, em Kuala Lumpur, Malásia, com 452 metros e Taipei 101, em Taipé, Taiwan, com 508 metros de altura. Mas nada se compara com o edifício que será o mais alto do mundo. O Burj Dubai tem estimativa não oficial de 705 metros, com término previsto para 2008. Não oficial porque a altura máxima não foi divulgada pelos construtores. Especialistas prevêem a incrível marca de um quilômetro.
Os construtores e governantes destes países não estão apenas querendo bater os recordes mundiais de mega-construções. Não é somente uma questão de ostentação. Em Dubai, por exemplo, eles sabem que o petróleo, principal produto de exportação nos Emirados Árabes Unidos, está acabando, com no máximo 18 anos mais para gerar riquezas. Dubai está bem informada sobre esta mudança no comércio globalizado e por isso investe em construções altas e magníficas com a finalidade de atrair turistas.
De volta ao país das praias e do Cristo Redentor, a comparação é humilhante em relação ao prédio mais alto do Brasil: o Mirante do Vale, em São Paulo, tem apenas 170 metros. Sinal de que o governo não se importa em gerar riquezas com o turismo. Aliás, estamos na contramão da tendência mundial. Proibimos construções com mais de 40 andares em São Paulo, ao ponto de mandar derrubar os 30 metros ultrapassados por um edifício residencial. Pior ainda, permitir a construção de um prédio com apenas sete andares na Avenida Paulista, o metro quadrado mais caro do país. Incompreensível.
Temos os melhores engenheiros, que são chamados inclusive para dar assessoria aos construtores de prédios em concreto armado em Nova York. Por que então não podemos construir torres cada vez mais altas e transformar nossas cidades em atrações turísticas? A indicação da estátua do Cristo Redentor, que concorre com outros 21 monumentos para fazer parte das novas Sete Maravilhas do Mundo, prova este potencial. A CN Tower não entrou na lista.
Seria papel do governo incentivar a construção de arranha-céus com intenção turística. A mídia brasileira faria a sua função de divulgar os ícones. Algumas emissoras de TV fazem estas divulgações com novelas e séries, principalmente na cidade do Rio, mas ainda é pouco. Na mesma proporção da altura de nossos prédios. A vizinha São Paulo sofre não com falta de investimento em grandes estruturas, sejam elas residenciais ou comerciais, mas com a Lei de Zoneamento. Com o pretexto de que estamos preservando, estamos na verdade impedindo e desestimulando o crescimento.
Portanto, seja qual for a decisão do poder público e dos empresários em Jundiaí para tentar atrair turistas ao município e assim trazer retorno financeiro suficiente para vencer a pesada concorrência, ela deve ser pensada com ousadia. Torna-se claro que investir pesado e rápido, como fazem outros países, é atitude indispensável. Só assim Jundiaí será projetada no cenário internacional. Afinal, “... não há tempo para demoras e pausas.”

*Texto publicado na revista Griffe (www.revistagriffe.blogspot.com)



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