Era um homem bom,
tão simples e esforçado,
um homem resignado.
Quando alguém dizia:
- Ô Sêo Jão,
não se deve viver assim
cuidando só do seu quadrado.
Veja a quantas anda
o preço da gasolina.
O Sêo Jão respondia:
- Tem pobrema não, minino.
Eu num bebo!
...
- Mas veja só, Sêo Jão,
subiu também o preço do arame farpado,
das pedras, da areia, e do cimento.
O preço está muito alto,
o preço está muito acima,
e nosso salário anda muito defasado.
Vinha o Sêo Jão,
novamente,
e dizia:
- Tem pobrema não, minino.
Eu num como!
...
Então resolveram reunir muita gente
para convencer o Sêo Jão
de que todo mundo deveria tentar
mudar as coisas, o Governo, e o Estado.
E dizer para Ele, também,
que as coisas não vão bem
e que não se pode contar
só com a sorte,
já que o preço da madeira,
das tintas, do verniz,
das flores, e até do caixão
de defunto está
por hora da morte.
Dizer pra ele
que assim não dá
pra gente ser feliz.
Mas viram Sêo Jão lá,
despreocupado,deitadão,
como se estivesse a dizer:
- "Tá tudo tranquilo,
tá tudo favorave".
Tem pobrema não, minino,
e faz o favô,
de dexá eu aqui drumindo.
Só então todo mundo percebeu
que Sêo Jão já era.
Que Sêo Jão morreu.
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Biografia: Tércio Sthal, Natural de Tupã, SP, Poeta e Escritor, MBA em Gestão de Pessoas, Cadeira de nº 28 da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, com publicações em coletâneas da Shan Editores, Autor de a Cidade das Águas Azuis e O Menino do Dedo Torto, Do Abstrato ao Adjacente, Inferências, Referências e Preferências em http://bookess.com e Lâminas e Recortes em Widbook.com
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