Sei que saíste cedo para o trabalho,
mas, por favor, ao menos uma vez,
olhe de lado,
a florista tem uma flor nas mãos,
talvez queira te dar,
aquecer teu coração,
do outro lado da rua
o marceneiro com seu arco de pua
constrói a cadeira de balanço,
talvez queira te dizer
que precisas de descanso,
o que pede sentado na beira da calçada
talvez queira te dar o afeto guardado
e não te pedir nada,
olhe, ao menos uma vez,
para o transeunte apressado,
cópia do teu desejo
que vive sem prazer e cansado,
repare nas crianças que atravessam a rua,
uma delas pode te lembrar da alma sua
que brincava na enxurrada em dia de chuva,
dos teus amigos que também
tinham almas nuas,
pela última vez, olhe para quem espera receber um pouquinho
do que tem dentro do seu peito,
essa força imensa,
chamada às vezes de amor,
às vezes de carinho...
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