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Nunca pulei do 25º andar sem para-quedas,
nem subi num carro em movimento
e saltei no meio da rua;
nunca comi duas duzias de pedras
apanhadas no fundo do rio,
nem fervi água com a luz do sol,
dentro de uma panela de barro...
Por ser um homem comum devo ter vivido
como tantos vivem,
cresci, fiz a barba, bebi,
fumei, namorei, casei
com a mulher mais bonita
que já tinha visto,
fiz filhos, os vi crescer,
foram para o mundo,
comprei uma casa, abri crédito, gastei,
fui pescar, voltei sem nada, feliz,
adormeci no meio da noite de domingo,
sabia da segunda-feira, compromissos,
tudo o que Deus quer o Diabo concorda...
Nunca dormi nos braços de uma estátua, dessas nuas,
nem escrevi poesia nas asas dos aviões,
nem em montanhas,
nunca dormi enrolado no mel como abelha, nem fui zangão,
nem sequer cheguei perto de desfilar
meus ossos na passarela...
Por ser um homem comum fui como uma poesia
que sabe que é só um lamento de alma
ou um verso perdido,
por ser quem sou tomei nos braços
palavras abandonadas
e fiz este com a intenção
de juntá-las como num colar,
adornei o colo da vida,
achei a estrada que dá em lugar nenhum
e fui, até hoje, como estou indo,
sempre indo, a caminhar...
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