Ao assentar-me a primeira vez numa aveludada cadeira,
passou-se o tempo, a noite inteira.
Vi numa das visões da madrugada uma figura destacar-se da clareira.
Pús-me a perguntar o que seria aquela estranha figura
e a resposta veio de repente:
_Sou o passado, o hoje e o amanhã...
O espectro ainda continuou:
_O que se foi em mim está,
e o que já é não mais será...
O que virá com o tempo vai ficar...
E em todas as visões da madrugada,
arrepios me passou por toda a alma.
Um vento forte entrou pela janela.
Senti o gelar completo em minhas veias.
Não de mêdo e sim, pelo segredo agora revelado
de proporções tão gigantescas do que era anunciado.
A voz forte retumbou e um vidro da janela se quebrou.
Vi estilhaços completamente espalhados pelo chão.
Um deles fez sangrar a minha mão.
E o espírito mais alto me falou:
_Vês o líquido que jorra da tua palma?
_Sim. Respondi.
A voz intensa assim continuou:
_O sangue é igual ao que caiu no chão do Éden.
quando Caim do seu primeiro homicídio tomou.
E no mesmo timbre de voz continuou:
_Levanta agora a tua mão direita e sorve esse líquido
que escorre quente e completamente nodoso.
Ele faz parte da sua alma.
_Anda, sorve-o agora!Sorve-o sem demora.
Asim o espírito falou e assim o fiz.
Aquele líquido que era meu próprio sangue,
misturou-se intenso em minha entranhas.
Sentindo tremendas amarguras,
tive visões de terríveis criaturas.
E ali, nas visões da madrugada,
completamente apegado a minha cadeira aveludada,
vi entre os estilhaços um brilho rubro.
Era o fogo de uma cidade incendiada.
Uma cidade para o juízo destinada.
Cidade no passado sodomizada.
A voz ainda retumbando diz claramente:
_Vês o fogo a queimar?
_Vejo. É intenso. Respondi.
_Representa o desejo do teu intimo.
_Bem sei o que estás a desejar.
_Loucura das loucuras é o teu pensar.
_Tudo como Sodoma eu vou queimar.
Entre as visões da madrugada numa hora mais silenciosa
ouvi um dos trincos da janela ranger.
O meu ser todo estremeceu.
_Sabes o significado deste rangido?
_Não.Foi minha resposta.
_É o grito de desespero dos muitos que já morreram
em meio a crimes e vis pecados cometidos diante do Criador.
_Vivem completamente acorrentados num vale escuro de sombras.
_É lá que vais estar se o arrependimento não te modificar.
Então, naquelas visões da madrugada pude ver quem da clareira
todo o tempo seu segredo a mim revelava.
Não era o anjo da morte.
Ele era belo e era forte.
Nas visões a madrugada,
vi a luz e vi Jesus!
Escrito em 26/05/1988 às 12:52'45" na residência de meu falecido pai.
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