Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Em buscado tempo escrito - Tuberculose VII
R.N.Rodrigues

VII

No corredor da Unidade Mista Itaqui-Bacanga, aguardando Dona Dalva para receber os remédios pra o meu prolongado tratamento. Uma caminhada suava, a feirinha e seus ambulantes montando as suas barracas, aquele velho sonho de achar uma sacola ou um saco com dinheiro e assim realizar as necessidades imediatas - a minha saúde em primeiro lugar. Um rapaz saiu meio-manquejando, outro entrou - uma senhora morena de cabelo liso com uma atraca na cabeça, uma blusa cor-de-rosa e uma saia longa preta estavam em pé na porta entrou. Há poucas pessoas sentadas, ao meu lado uma menininha brincando com uma garrafa pet de água mineral com um restinho dentro, alguém tosse baixinho. Uma outra, uma magrinha depois de esperar em pé na soleira da porta, quando a senhora acompanhante saíram, ela rapidamente escanfandeu-se fechando a porta em seguida. Uma branca baixa, de pernas grossas, toda de branco, de óculos escuros e uma prancheta desfila seu charme de gostosinha. Lembro-me vagamente, qu8ando criança parece-me que tive um começo de pneumonia e o medico recomendou a mamãe que me levasse de manhã cedo a beira-mar quando a maré tivesse cheia para aspirar o ar salgado para matar os bacilos. Também tive um dessaranjo intestinal muito grave juntamente com meu primo Jorge. o doutro recomendou uma dieta rigorosa de apenas agua do arroz cozido durante de um mês, segundo mamãe eu chorava de fome, mas ela seguiu a risca as ordens medicas e minha tia e madrinha ficou sensibilizada com o sofrimento do filho, não aguentou e quebrou a dieta. Desde então ele ficou com sérios problemas intestinais. Dei muito trabalho para minha mãe, era franzino e amarelo, não saia de casa de jeito nenhum somente para escola e os passeios eram somente nas tardes de domingo com papai (que eu detestava, mas era obrigado a acompanha-lo). Mamãe vestia a minha farda domingueira, uma roupa de marinheiro tão comum na época e saiamos em fila indiana, tendo papai austero na frente, parecíamos uns patinhos. Visitávamos vários lugares, mas o meu preferido era o Palácio dos Leões, olhávamos o por do sol no mirante, corríamos pela avenida deserta da Dom Pedro II até a fonte da Mãe D'agua em frente a Catedral da Sé e para encerrar tomávamos sorvete de ameixa no terraço do Bar do Hotel central na Praça Benedito leite. O sorvete era servido em taças rasas de aço inoxidável por garçons vestidos em ternos brancos. Dona Dalva atendeu-me maravilhosamente bem, deixando-me bem a vontade, fiz-lhe algumas perguntas -0 pesei-me, aumentei 300 gramas. Deu-me a cartela com os comprimidos e a triste noticia que vai entrar de ferias. Na volta, depois da Feirinha, antes da Pousada Bonaparte, encontrei-me com Índio, que trabalho muito tempo no Jornal Pequeno. Agora além de fazer alguns bicos, faz as vezes de descuidista nos comércios de ferragens afanando pequenas coisa que dão bobeira nas prateleiras. No livro de Niven, há um capitulo sobre os sofridos escritores que passavam pela escravidão nas coelheiras (local onde eles trabalhavam nos estúdios), batendo ponto com operários comuns, das nove as seis horas da tarde. Entre eles, há uma nota sobre o grande Scott Fitzgerald, que admiro muito - os seus últimos dias bebendo muito e tossindo também. Morreu tuberculoso. Deu-me saudade dos meus primeiros livros. "Paris em uma festa" de Hemingway, onde narra o seu encontro com Fitzgerald; "Tropico de Câncer" de Miller e sua miséria pelas ruas da mesma Paris e "Cem Anos de Solidão" de Marquez, o mesmo que se encontrou com Hemingway numa avenida também de Paris e deu-lhe um alô.

   Hora do almoço, Antenor sentado na cabeceira oposta do sogro, come concentrado e sem muita conversa. A matriarca entrega o prato-feito para Seu Pietro que esta gripada, que vai para a sala de estar almoçar. Larissa continua enfurnada, também gripada. Quero reler todos os livros de Fitzgerald que possuo, começando por "Suave é a Noite" - ultimo publicado em vida - morreu novo aos quarenta anos em Hollywood. Tenho quatro livros deles "Grande Gatsby", "Os Seis Contos da Era do Jazz", "Suave é a Noite" e o seu inacabado romance "O Ultimo Magnata" - assim com fiz com o grande Dostoiévski, farei a semana Fitzgerald, intercalados com Tolstói, Niven, Soljenitsin - o importante é aproveitar para relê-los, absorver conhecimentos melhorar a minha narrativa.

   Relendo "O Grande Gatsby", sem duvida o melhor do mestre. Gosto desse romance, escrito na primeira pessoa, parece-me mais intimista. E com ele passeio nas tardes estivais de domingo em Nova York, assim como Miller me levou pelas ruas do Brooklyn. Não dormi depois do almoço, pois cochilei antes por meia hora. Minha cunhada, a matriarca colocou a bomba para funcionar, pois o valet Seu Pietro saira para namorar. Diálogos de um filme em francês. Larissa sentada perto da tábua de engomar divertindo-se no notebook que o pai trouxe do colégio e este vê um filme no desk-top. bebi o suco de acerola e volta para o meu humilde aposento querido e acolhedor. O barulho da bomba d'agua do vizinho e daqui.
   A luz diáfana do sol sobre as fachadas silenciosas das casas vizinhas. Uma nova pintura realça mais a beleza artística do muro da Escola Comunitária em frente, a rede de dormir de Antenor lavada pela sogra estendida sobre o portão. Professor, o patriarca saiu para sua caminhada vespertina. Um final de tarde com um céu de brigadeiro. O valet entra, Minha cunhada fumando debruçada na mureta, enquanto relembra alguns fatos. os gatos passeiam num entra e sai como todas as tardes.
- Passei muita noite de insônia com Seu Benedito, desde quando quis enforcar Dona Engracia. Angela é uma sacana, mas muito me ajudou nos últimos dias de Dona Engracia, mas Flor veio só no ultimo dia.
   Encerrei a leitura agradável do "O Grande Gatsby" - sempre maravilhoso - é na releitura que redescobrimos melhor o texto da estoria em si.


Biografia:
Sou ludovicense, serralheiro e adoro escrever. ja publiquei dois livros de poesias e agora estou publicando os meus poemas no site francês.
Número de vezes que este texto foi lido: 55544


Outros títulos do mesmo autor

Romance O primeiro caderno vermelho - o livro francês 9 R.N.Rodrigues
Romance O primeiro caderno vermelho - o livro fancês - 6 R.N.Rodrigues
Romance O primeiro caderno vermelho - o livro francês -3 e 4 R.N.Rodrigues
Romance O primeiro caderno vermelho - o livro françês - 2 R.N.Rodrigues
Romance O primeiro caderno vermelho - o livro francês 1 R.N.Rodrigues
Romance O primeiro caderno amarelo - XX a XXIII R.N.Rodrigues
Romance O primeiro caderno amarelo - XVIII a XVIX R.N.Rodrigues
Romance O primeiro caderno amarelo - XVI a XVII R.N.Rodrigues
Romance O primeiro caderno amarelo - XIV a XV R.N.Rodrigues
Romance O primeiro caderno amarelo - XII a XIII R.N.Rodrigues

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 171.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Minha Amiga Ana - J. Miguel 63037 Visitas
O DESAFIO DA INCLUSÃO - Simone Viçoza 60724 Visitas
A Importância da Educação Digital no Ensino Fundamental - FERNANDO JUNIOR PEREIRA 60626 Visitas
Os Hackers, os Crackers e Nós - Max Bianchi Godoy 60464 Visitas
🔵 Noite sem fim - Rafael da Silva Claro 59381 Visitas
Jazz (ou Música e Tomates) - Sérgio Vale 59353 Visitas
🔵 Só se vive uma vez - Rafael da Silva Claro 59126 Visitas
Sete sugestões úteis para advogados: - Professor Jorge Trindade 59103 Visitas
🔴Madonna de areia - Rafael da Silva Claro 58999 Visitas
O CONTROLE É SEU - Vinicius Pereira Brito 58828 Visitas

Páginas: Próxima Última