Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
A ceia de Natal
Aradia Rhianon

A Ceia de Natal

Os presentes estavam arrumados ao lado da árvore, nada pequena, nada modesta. A decoração do apartamento tão luxuoso estava um primor. A artista preferida da dona casa tinha dado suas pinceladas aqui e ali, podia ver-se o traço em pequenas gravuras, emoldurado especialmente para a ocasião.

No meio de tantos convidados adultos e escolhidos a dedo, apenas duas crianças. Os netos da empregada. Não que ela fosse participar da ceia, a coitada estava rezando para que tudo desse muito certo e não tivesse aquele “fim de festa” que ela já estava acostumada.

Mariana e Tadeu as únicas crianças presentes na sala. Tinham sido orientados pela Maria para não fazer feio, e estavam quietinhos no canto esperando a hora de receber seus presentes e depois “sumir”, conforme vovó tinha orientado. A presença das crianças foi um pedido da “madama”, pois sua festa sem crianças não teria o mesmo brilho, foi o argumento que usou para convencer, Maria a deixar os netos ficarem na sala. Eles também não teriam muita opção. Órfãos desde fevereiro passado, os meninos acharam a idéia estranha, mas preferiam qualquer coisa a ter que ficar lembrando-se dos pais mortos tragicamente na enchente.

E foi chegando gente, a casa estava muito cheia, e nada de Papai Noel chegar e as crianças abrirem os presentes. A comida estava cheirosa, pelo menos era o que parecia, pois o aroma vindo da grande cozinha era convidativo.

Mariana e Tadeu olhavam tudo meio apalermados, era a primeira vez na vida que viam tanto luxo e tanta gente besta em um só lugar. Enfim chegou a hora, Mariana recebeu seu presente das mãos da patroa de sua avó agradeceu muito tímida e logo depois seu irmão também recebeu seu presente. Agradeceram muito e ficaram com os presentes presos nas mãos sem coragem para abrir. Não estavam felizes, estavam surpresos, pois tudo para eles era novidade, acontecimentos muito diferentes. A música estava alta, mas deu para ouvir no fundo da grande sala, quando uma voz feminina se ergueu, o tom era de uma mulher jovem e bêbada: - Olha aí, agora está muito na moda, trazer os mendigos, sem terra, pobres de qualquer espécie, para o meio! Não é mole não, será que esses meninos tomaram banho? Um silêncio se fez presente, apenas por segundos logo depois começaram os risinhos bobos e as alfinetadas do pessoal. Mariana era muito inteligente e não ficou por baixo. Jogou a linda boneca      que acabara de ganhar no colo de quem não sabia e saiu pisando forte gritando. – Isso não é gente não, tem dinheiro, tem luxo, mas não tem coração, nem educação. Tadeu a seguiu amedrontado de que alguém fosse lhe tirar o presente. Mariana correu para o quarto onde estava sua avó rezando e falou: - Não precisavam ter-nos convidados para aquilo. Não é uma festa, é uma ostentação e chorou parte da madrugada no colo da avó. Não tinha sido a bobagem que escutara que a fez sofrer tanto. A dor maior era a falta dos pais, imaginar onde eles deveriam estar agora.

A festa continuou noite adentro. Todos os convidados bebiam muito, muito mesmo. Até que um deles, um velhote, feio mais muito rico, não gostou do “não” que recebeu de uma das convidadas, pois ele queria esticar na beira da piscina. Ela estava cambaleando, mas não perdera o juízo de todo. E começou a esbofeteá-la, foi uma vergonha, trocaram palavrões, e imagine a baixaria geral. Uma turma de homens mais novos resolveu a questão. Agarraram a convidada contra a vontade dela e ali mesmo na sala, despiram-na e a colocaram deitada em cima da mesa como se fosse um prato a ser saboreado. A jovem gritava, mas ninguém a ajudava estava todos drogados e o barato da festa ainda não tinha começado. Fizeram de tudo com a pobre moça. E resolveram jogá-la na piscina para ver se ela acordava.

Maria estava rezando para que aquele inferno acabasse, pois temia pelos netos. Na verdade já tinha tomado suas precauções e antes que a festa ficasse mais “quente” saiu com as crianças a pé foi parar na entrada do condomínio.

Os vizinhos já estavam acostumados com as festas da “madama” regadas a tudo, incluindo sexo liberado e drogas.

Os convidados foram aos poucos se retirando, quando o sol raiou, Maria voltou para casa com as crianças e ficou trancada em seu quarto. Ouviu um barulho muito grande muita gente falando. Ficou curiosa, mas não saiu do quarto. Só escutou as vozes, os diálogos. “Ela estava dizendo que ia se suicidar”. “Eu a conheço há muito tempo, é uma pena”. “Tão jovem”.

Na sala, entre as bandejas, louça e copos, o cadáver da jovem moça jazia estendido na mesa. Era uma cena apavorante, para uma manhã de Natal.

Acorda! Menina gritavam todos: Acorda! Menina! Gritavam todos.

Mariana custou a acordar, pois em seu pesadelo de Natal, o corpo daquela mulher detestável teimava em não desaparecer. Olhou assustada para a rodinha que estava ao seu lado. Era sua avó, seu irmão e os donos da casa eu lhe cumprimentavam na manhã de Natal. Ela apenas tinha tido um tremendo pesadelo terrível.

Com o presente que recebeu que não foi uma boneca, mas uma grande bicicleta Mariana deu inicio a uma nova fase de sua vida. E na hora do almoço participou do almoço com todos os moradores daquela luxuosa casa. Sentiu-se feliz, como não se sentia em seus pesadelos. Agradeceu em seu coração de criança. Obrigado Jesus, por ter sido apenas um pesadelo.


Biografia:
-
Número de vezes que este texto foi lido: 52924


Outros títulos do mesmo autor

Sonetos Sonhos Aradia Rhianon
Sonetos Exagerado Aradia Rhianon
Poesias Naufrago Aradia Rhianon
Poesias Natal é amor Aradia Rhianon
Sonetos Qual seria a resposta? Aradia Rhianon
Poesias ALDRAVIA 11 Aradia Rhianon
Crônicas Mosaico de Natal Aradia Rhianon
Poesias Onde existe poesia Aradia Rhianon
Poesias Suave brinquedo Aradia Rhianon
Poesias Aldravia 4 Aradia Rhianon

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 136.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 68892 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57830 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56643 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55697 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 54918 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54735 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 54721 Visitas
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54641 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54630 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54547 Visitas

Páginas: Próxima Última