Quem diria? A madame acabou no Irajá.
Diante das colegas de trabalho ela se sentia. A mais sofisticada sub auxiliar da coordenadora de serviços de apoio, traduzindo: ela era a encarregada das faxineiras em determinado setor do shopping.
Odiava o trabalho, o manuseio com tantos produtos que ela não conseguia diferenciar um do outro. Ler aqueles rótulos era uma tortura. Os olhos cansados há muito pediam óculos, que ela se recusava a admitir. Óculos só de sol na praia, preferencialmente com uma armação gigante para proteger também o rosto.
E as luvas? Era um verdadeiro horror, ter que esconder as belíssimas mãos, muito bem desenhadas pelo Criador, enfiadas dentro do plástico. Que elas protegiam da toxicidade dos produtos e do lixo, era um fato, mas que era insuportável isso era.
Desde a infância Maria, tinha sonhos de grandeza, cada vez maiores, à medida que o tempo passava e sua vida continuava na mesmice de menina pobre sem muito estudo, a imaginação desenhava outras paisagens para cenário de suas projeções.
Maria tornou-se mulher e entre os amigos tinha um apelido: Madame. Quando se encontravam trocavam espinhos. Ela sempre dizia, que não passava as férias e o reveilon na Times Square porque detestava frio. Paris, não iria jamais, aquela cidade feia, com um enorme museu cheio de história. Só de pensar em entrar lá, já se sentia cansada. E Madame sempre arranjava uma maneira de desfazer dos lugares onde não podia ir. Das roupas que não podia comprar, e dos amigos sinceros que não fazia questão alguma de cultivar.
Aconteceu uma tarde. Madame não leu direito o que estava usando, imaginou ser um desinfetante qualquer que usava na limpeza diária dos banheiros. Não enxergou direito o rótulo. Destapou o frasco, e jogou no chão do banheiro que estava limpando. O cheiro era muito forte. Madame aspirou, começou a ver tudo rodar, desmaiou indo ao chão, que se encontrava todo molhado.
No dia seguinte, seus inúmeros colegas de trabalho comentavam em seu velório: - Quem diria? Madame era tão fina e elegante, acabou no Irajá.
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