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O fogãozinho deficiente
Paula Vianna

O fogãozinho deficiente
     
Em uma grande fábrica de eletrodomésticos de última geração, três belos fogões de inox preparavam-se para passar pelo teste de qualidade. Eles estavam muito nervosos, pois sabiam que o exame era muito rígido, e que muitos colegas já tinham sido considerados inaptos para serem premiados com o selo de qualidade.
     Quem olhasse para os irmãos sem um olhar meticuloso diria que eles eram idênticos. Contudo eram muito diferentes, não só em sonhos como também em aparência. Um dos fogões tinha um dos pezinhos menor, quando recebia muito peso, era visível sua deficiência. Era justamente esse fogão da perninha curta que tinha o sonho mais belo: queria poder alimentar pessoas famintas, ver a comida feita por ele saciar aqueles que mais precisavam.
     Os outros dois fogões, perfeitos e orgulhosos, riam do amigo. Como ele podia ser tão ingênuo? Eles eram fogões de última geração, caríssimos e não um fogãozinho barato para ser comprado por pessoas pobres. Esses dois, sim, sabiam se valorizar e acreditavam que tinham sonhos dignos de sua grandeza. Um desejava cozinhar pratos requintados num restaurante de cinco estrelas, ser o braço direito de um famoso chef. O outro queria fazer parte de uma linda cozinha para que, quando as pessoas visitassem a peça, encantassem-se com ele.
     Quando o avaliador chegou, analisou-os atenciosamente. Logo percebeu o pezinho curto do primeiro fogão e, em vez de um selo de qualidade, grudou no pobre um papel branco com a palavra defeito em letras vermelhas. Os outros dois, após rígidos testes, receberam o tão desejado selo e foram transportados para o setor de empacotamento. Já o pobre fogão com defeito foi enviado para um porão escuro juntamente com outras máquinas que haviam sido reprovadas.
     Para completar a alegria das máquinas consideradas perfeitas, elas foram para os locais desejados. Uma foi para a cozinha de um famoso restaurante e a outa para a cozinha de uma linda mansão. Viveram seus sonhos um bom tempo, julgando-se dignas do paraíso. Enquanto isso, o fogãozinho rejeitado enfrentava uma luta de fé, tentava ter esperanças de realizar seu sonho, mas a cada dia que passava naquele porão escuro parecia mais difícil seu sonho se realizar.
     O tempo passou, a fábrica de eletrodomésticos iria fechar, pois sua sede seria transferida para outro país. Foi aí que resolveram doar para instituições beneficentes as máquinas inadequadas para serem vendidas, dessa forma a empresa lucraria com um bom desconto no imposto de renda. Foi assim que o nosso fogãozinho conseguiu realizar seu sonho, foi enviado para um abrigo que oferecia refeições a pessoas necessitadas. Todos os dias, ele passava horas aquecendo panelas e formas, cozinhando e assando deliciosas comidas e ainda podia observar o sorriso de agradecimento das pessoas que recebiam um prato de comida. Ele não podia ser mais feliz.
     Podemos afirmar que, dos três fogões, o único que estava satisfeito era o fogão com uma perninha mais curta, pois todos os dias via seu trabalho ser compensado pelas pessoas que saciava. Enquanto isso, o fogão comprado pelo chef estava desolado, pois só trabalha e não recebia elogios de ninguém, todos eram dirigidos ao chef. Por isso um dia resolveu fazer greve, não acendeu suas bocas, acreditava que dessa forma começaria a ser valorizado. Grande engano do pobre fogão perfeito, assim que parou de funcionar foi substituído por um modelo mais novo e utilizado como depósito de sacolas numa saleta que havia nos fundos do restaurante.
Outro infeliz era nosso amigo enviado para a linda cozinha da mansão. O pobre sentia-se inútil, pois servia apenas de enfeite, nunca teve a felicidade de utilizar uma de suas bocas. Naquela casa, ninguém cozinhava, toda a comida vinha de restaurantes e quando precisavam esquentar algo utilizavam o aparelho de micro-ondas.
Os dois fogões considerados perfeitos e egocêntricos pensavam no amigo defeituoso, imaginando como o sonho dele era bonito e o quanto gostariam de estar ajudando alguém. Descobriram que foram iludidos pelo mundo das aparências e do falso sucesso. Já nosso amigo considerado deficiente viveu todos seus dias com a felicidade de ser útil ao próximo.
     


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