Acrobatas reluzentes no trapézio de teu queixo
tremulam fogosas no instante do salto,
na ânsia de despertar o teu abraço cauto,
no receio de adormecer teu sensual desleixo.
Precipitam-se na busca da perfeição dos traços,
deslizando em gotas de transparência obscena.
São lágrimas da chuva que seu ato encena
de libertar o pecado da prisão de teus braços.
E o pranto da chuva foi tão longo e sentido
que o vento ruidoso soprou sibilante,
que os olhos que a vertiam nesse fluxo abundante,
eram do céu ofuscado e por teu brilho vencido.
Nas vestes molhadas o feitiço da sedução,
enrodilhado sem pudor na harmonia dos relevos,
que, d belos, me inspiram bem mais que o enlêvo,
de beber nesse corpo o suor da exaustão.
Parece delírio contemplar teus movimentos ciganos
de livres gingados na cadência da música,
num transe alegre e insensível à muda súplica
que do céu jorra em torrentes de desenganos.
O cabelo em desalinho - da fronte a realeza,
com úmidos cachos ondulando em rebeldia,
alforriados pela aragem concretizaram a fantasia,
de mostrarem à vaidade a essência da beleza.
E a pobre chuva se fez chuvisco e depois só lua,
ainda pálida pelo tormento de vê sofrer o céu,
que no luto da tristeza vestiu a noite de negro véu,
para abafar seus suspiros pelo desejo da posse tua.
No corpo molhado ainda um derradeiro beijo,
que vendo sucumbir o alento da esperança,
lançou-se ao chão com teu suor- única lembrança,
desse gozo malogrado adormecido no desejo.
Mas, se no adeus dessa paixão só restou o frio
a te podar a dança linda com gélido sopro,
eis a dádiva da espera a te adorar no topo
desse fogo que me incita a lareira de teu brio.
O choro do céu em vapor retornou à serra,
após líricas acrobacias nesse colossal picadeiro.
Se o amor é barca - és gentil gondoleiro;
E se circo - o maior espetáculo da terra.
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