Oh como dói ver no pasto o boi
que amanhã vai estar congelado
nos braços do supermercado
a esperar por quem foi
comprar hambúrguer ou bife,
sem mugir nem dizer oi,
a caixa como esquife...
Mas vamos vê-lo no pasto
a pastar o colonhão alto,
chifres pontiagudos,
essência do vigor,
boi de pasto,
não de touradas,
mudo horror...
Deixemos o boi de lado
e olhemos o homem na carroça
com dois bois a puxarem
suas encurvadas costas,
indo à cidade negociar
quem lhe serve de rumo;
voltei a falar do boi,
isso eu sei, eu assumo...
Boi pra cá, boi pra lá,
o homem é mesmo assim,
come a carne daquele
que viveu só de capim...
Sandice ou não dessa raça
que aprendeu a comer
até os restos da carcaça
daquele que poderia viver
sem sobressalto na roça
com as muriçocas a picarem
o dorso de suas costas...
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