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Um lugar para morar
Copyright© 2015 by Otaviano Maciel de Alencar Filho
otaviano maciel de alencar filho

Com a crescente industrialização e consequentemente o vertiginoso crescimento urbano, causado pela vinda das pessoas do sertão para as grandes cidades, em busca de trabalho, gerou-se um grande problema: o da habitação. Onde a maioria desses emigrantes irá estabelecer moradia, uma vez que o valor cobrado pelo aluguel de uma casa popular é altíssimo? Essa realidade tem levado muita gente a morar nas ruas a céu aberto ou em baixo de viadutos. A perda da dignidade humana, o preconceito, o viver à margem da sociedade e tantos outros fatores que degradam o ser humano têm contribuído para tornar esses indivíduos excluídos da sociedade. O desemprego, que, em grande parte, é ocasionado pela falta de qualificação de mão de obra, devido a ausência de políticas estratégicas de preparação do indivíduo para o mercado de trabalho, faz deles reféns de um sistema que exclui todos que não tenham tido acesso a uma educação que, além de gratuita, deveria ser de qualidade. E, assim, vemos no cotidiano pessoas necessitadas de um lugar para estabelecer moradia invadindo espaços públicos e privados, na esperança de verem seus sonhos de terem a casa própria, mesmo que seja um casebre feito de taipa.
Certa feita, pequeno grupo de pessoas invadiu um terreno desocupado situado às margens de um lago, em busca de um pedaço de terra para construírem suas moradias. Os integrantes do grupo foram chegando de mansinho, logo ao alvorecer do dia, e em pouco tempo já formavam um contingente expressivo de pessoas de ambos os sexos e idades diversas, que de imediato foram demarcando o local, fincando estacas nas quais eram amarrados cordões, dividindo dessa maneira, de modo uniforme, a terra para cada família que ali se encontrava.
A vizinhança acompanhava tudo com extrema apreensão. Na verdade não queriam aquelas pessoas assentadas ali, defronte suas residências, afinal o local estava situado em área nobre da cidade e não admitiam a formação de uma favela nas proximidades.
As crianças que participavam do ajuntamento corriam alegremente em um vai e vem constante ao encontro das águas da lagoa em busca de refrescarem os corpos, que expostos ao sol escaldante de uma manhã de verão estavam suados e grudentos de areia.
O trabalho de capinação continuava em ritmo acelerado. Já passava do meio dia quando três viaturas da polícia chegaram ao local. Haviam sido solicitadas pelos moradores das proximidades que, temendo serem importunados pelos invasores, não hesitaram em tomarem tal iniciativa.
A presença da polícia no local deixou as pessoas apreensivas e alguns mais exaltados já empunhavam enxadas e pás aguardando possível confronto, no entanto não foi isso que aconteceu. Os policiais conversaram com as pessoas que representavam o grupo, orientando-as a não fazerem baderna, deixando claro que a permanência definitiva deles no local seria decidida pela prefeitura municipal, através dos órgãos responsáveis. Permaneceram no local por cerca de duas horas e depois foram embora, deixando as pessoas aliviadas.
Ao cair da tarde a maioria das pessoas deixaram o recinto, indo para suas residências, deixando cerca de cinco integrantes para passarem a noite em vigiando o terreno.
Ao amanhecer, com os primeiros raios do sol despontando, Luiz Carlos, um dos integrantes do grupo voltava da casa da irmã onde fora dormir e trazia com ele Leozinho, seu filho de oito anos de idade. Ao chegarem, foram interceptados por dois rapazes da prefeitura e um oficial de justiça que já que se encontravam no local acompanhados de três viaturas da polícia. Um dos homens perguntou:
- O senhor faz parte deste movimento?
- Estou aqui querendo adquirir um local para construir nem que seja um barraco para mim e minha família podermos morar debaixo dele. Respondeu prontamente.
- Este terreno pertence a prefeitura, e a mesma tem planos de urbanização desta área com a criação de área de lazer e construção de um ginásio poliesportivo. Nós estamos aqui exatamente para informar-lhes que a prefeitura entrou na justiça para evitar que o local seja ocupado, inclusive este senhor que se encontra aqui conosco é oficial de justiça e traz consigo uma ordem judicial para que seja providenciada a retirada dos senhores deste local. Contudo, uma proposta também foi enviada para apreciação dos senhores.
- Puxa vida tão rápida esta tomada de decisão por parte da prefeitura! Temos que levar a notícia ao conhecimento das lideranças do movimento. - Acrescentou Luiz Carlos.
Foram adentrando o local que estava todo demarcado, cheio de cordões, fios, barbantes até que chegaram junto aos representantes do grupo, que de imediato ficaram a par das notícias desfavoráveis às aspirações do grupo.
O oficial de justiça alertou a todos que o descumprimento da sentença judicial implicaria a retirada de todos à força, inclusive com a presença de força policial, o que não seria agradável para ambas as partes envolvidas.
Logo de início os integrantes não aceitaram a proposta e decidiram que ficariam acampados no local, no entanto o representante do executivo municipal, antecipando-se as contendas e continuando as explanações abriu uma pasta e retirou alguns papéis lá de dentro e mostrando a todos falou-lhes:
- Este é um projeto de habitação que está sendo executado na zona oeste da cidade e que já se encontra quase todo terminado, inclusive com algumas famílias já usufruindo das moradias construídas. A secretaria da habitação solicita que os senhores se organizem e façam o cadastro de suas famílias junto a esse órgão e tão logo resolvam a questão da “papelada” é só aguardarem serem chamados, pois suas casas estarão garantidas.
Os acampantes, reunindo-se, deliberaram por deixarem o local, tendo em vista a proposta oferecida pelo poder público municipal atender seus anseios.

Tudo terminou em paz com os invasores retirando-se cada qual para suas casas e deixando o terreno para ser feito as benfeitorias que a prefeitura assumiu executar... ou quem sabe ser invadido novamente por outro grupo de pessoas, caso a prefeitura municipal não cumpra com o acordado em tempo hábil.


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