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Já tentou dar um comprimido para um gato?
Jerônimo da Silva da Cunha

Durante uma tentativa frustrada de saltar do teto da casa para uma árvore, meu gato mais velho, Michel, devido a seu excesso de gordura, caiu de mais ou menos uns 3 metros de altura. Quando ouvi aquele barulho estranho que parecia que alguma coisa muito pesada havia caído, corri igual um louco na direção do barulho. De fato, a coisa pesada estava no chão: Michel. Ele estava zonzo devido á grande pancada no chão e resistia a qualquer tentativa de capturá-lo. Não sei se alguém de vocês já passou por essa situação, mas, já tentaram dar remédio a um gato?

Daí começa o dilema que durou um mês. Michel ficou adoentado e nem comer queria. Levei ao veterinário e o mesmo indicou uns comprimidos do tamanho de um grão de feijão. Logo imaginei:

- Esse é pequeno, vou colocar no leite e ele toma. E se não der certo eu coloco em um pedaço de carne.

   Assim que cheguei em casa, já peguei uma tigela e coloquei leite, dissolvi o comprimido e encostei nele. O gato parecia que sabia que ali tinha alguma coisa (acredito que sentia o cheiro diferente), e espirrava sempre que eu tentava encostar. Fui logo para o plano B. Peguei um pedaço de salsicha e coloquei o segundo comprimido, mas não adiantou. E lá vou eu tentando de tudo até sobrar um único comprimido na cartela que continha seis. Michel só piorava cada vez mais, não se alimentava, não saía do lugar, mas bebia muita água. Nesta última tentativa, segurei Michel entre as pernas e abri sua boca jogando o comprimido goela a baixo. Antes de o comprimido fazer a curva da garganta, o gato parecia ser o Hulk se debatendo e me unhando onde alcançava. Quando eu resolvi soltá-lo, ele se virou contra mim fazendo uns barulhos estranhos parecendo que estava engasgado cuspindo o tal comprimido lá no meio do quintal. Não nego, chorei de raiva. Teria que ir longe comprar de novo, outra cartela daquele comprimido.

   Dessa vez parei pra pensar e dissolvi o comprimido no leite e usei uma seringa. Michel agora estava mais debilitado e fraco, eu acreditava que ele não iria relutar tanto para tomar uma seringa de leite com remédio, já que, na ultima vez ele me deixou com dezesseis arranhões.
Peguei Michel mais uma vez, colocando-o na mesma posição entre minhas pernas e abri sua boca e derramei o leite com o remédio. Por Deus, eu nunca vi um vômito tão rápido e forte. Soltei Michel no chão e entrei em casa xingando e esmurrando as paredes, chamando Michel de mal agradecido e de mal criado. Deixei Michel pra lá e aceitei a ideia da morte dele. Minha mãe, coitada, levantou inúmeras vezes à noite com ele no lugar mais frio da casa, sozinho e triste no canto. Depois de muito chorar achando que ele não iria escapar, tentei de novo dar o comprimido infernal, e dessa vez o resultado não foi o pior; Michel engoliu e depois de um tempo veio a vomitar. E assim foi continuando até tomar os comprimidos necessários e sarar.

   Hoje ele manca de uma perna e é muito pesado. Está aqui comigo e de volta e meia, paro de escrever para acariciá-lo. O meu garotão foi um herói.

Jera Marley 01/07/2015


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