Como crianças acreditamos em dólar e pudim,
o primeiro para comprar o segundo,
o segundo para se comer no jardim
onde passeiam duendes e fadas,
onde vaga-lumes atravessam a madrugada
escrevendo poemas no escuro,
onde seremos mais puros
por sermos a viva palavra...
Como adolescentes já temos dentes
e mordemos com furor a carne do presente,
queremos ser robot's,
queremos mais que amor,
queremos o controle de tudo,
nos jogamos contra os muros
do passado que custa a passar,
mais, queremos os navios afundados
que dormem no fundo mar
com seus tesouros,
queremos mais que isso,
todo o ouro
do Fort Knox,
viver perigosamente,
arranhados,
sem botox,
delirantemente...
Como adultos montamos estantes
e empilhamos livros,
vamos à praça de forma constante
dar aos pombos o milho
de nossa colheita incessante,
damos sabedoria aos nossos filhos,
bebemos o vinho noturno e vamos dormir, felizes,
mesmo sabendo que ouvimos os uivos
dos lobos que querem entrar pela janela,
querem espiar nossa solidão
que protegemos, escondida,
como feras...
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