Que música é essa que ouço?
Virá da flauta de Pã
ou então do osso
estirado na sarjeta do deserto,
apanhado pelo poeta que mora no fosso
das nossas profundas sensações,
tão longe, tão perto?
Tanta música e nenhum dono,
herege, profano, mundano,
dos corpos que se tocam,
que se chocam na cantiga de amor:
será a música do desejo
ou o assovio do torpor?
Cante e me leve junto em tua nau,
irei de bom grado,
a singrar mares de loucura,
atravessarei o rio do mal,
atravessarei a nado,
por tua mística música,
doce, pura,
o infinito quintal...
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