Deem-me uma faca
e prometo não matar o pão:
apenas espalharei manteiga
sobre seu coração...

Deem-me um sorriso
e prometo transformar em trigo
a quem chora sua aridez em plena solidão...

Deem-me um tostão de bondade
e prometo espalhar sobre a cidade
esse manto que desorienta a vil razão...

Deem-me um cetro
e prometo transformar em cem metros
de terra para cada homem deste chão...

Deem-me a miséria humana
e prometo torná-la limpa e sã
mesmo que a loucura dos poetas
às vezes pareça vã...

Deem-me o amor que lhes sobra
e prometo confortar a quem chora
a perda de um do seus em guerras vãs
que acontecem a cada segundo pelo mundo
a cada manhã...

Deem-me as palavras que caem de suas mesas
e prometo transformá-las em pura beleza
aos ouvidos dos que ouvem o canto da areia
derramando sua fugaz voz que soa plena
na eternidade da ampulheta...

Deem-me o vosso silêncio
e prometo oferecê-lo ao vento
que leva todas as mágoas abraçado à chuva
que cai mansamente ao chão
como doces grãos de uva...

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