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Messias Araújo
Um dia após o outro.
Fernando de Alvarenga Medeiros

Resumo:
O resumo de alguns elementos pegos na ida ao trabalho.

O céu estremeceu.
Havia melodias majestosas de ternura e venturas, formada por clarins, trombetas e chorus de tenor feminino, entoando o cenário melancólico ao raiar do sol na baia de Guanabara.
O astro já não se encontrava sob tons quentes de amarelo e dourado. Messias Araújo estava com os ósculos vidrados, magnéticos a fitar o Sol em tonalidades verdes, azuis e, púrpura sobre o fundo movediço, semelhante a pântano lamacento, sob constante movimento.
-- Maní?-- sussurrou Messias- Acorda Maní!, olha, o sol esta chamando e, o céu não pertence a deus.--supôs. Incapaz de desviar os olhos do Apocalipse que se desenrolava na abóbada do Rio de Janeiro, deixou Maní em paz, num sono de sonhos, seja lá quais fossem as fantasias de um recém nascido.
Encontrava-se logo abaixo de um viaduto perto da praia grande, praia está, fedida a peixe e maresia. Pouco importava os maus odores comparados a beleza da alvorada na baia, iluminando cima e baixo nos recônditos amontoados das favelas. A apoteose psicodélica e caótica desenrolava-se a meses em questões de horas sob efeito da heroína.
-- Cruzes pretas voam no céu! Maní! São tantos crucifixos do juízo final...-- prosseguiu com enfado. -- quando tiver do tamanho de um metro, eu mostro os sonhos do pai.--
Vozes dulcíssimas sobre arranjos de instrumentos de sopro, uniam-se em bem-aventurança nos clamores finais de um episódio inédito. Cessou. Eis que o efeito do ativo alucinógeno começa a esvair-se do corpo misérrimo de um tal Messias Araújo, filho de alguém, neto de fulano e, pai de Maní.
-- Duas vezes eu disse a sua mãe,-- Exclamou-- não podemos fazer isso, mas ela nem deu ideia pro pai. Dizia sempre que estava angustiada e, isso fazia-me ficar do mesmo modo. Sabe, tínhamos apenas um ao outro. Agora ela vive inerte naquele lamaçal!-- o desabafo do talvez coitado Messias ia e vinha em tons diversos, não por efeito da Heroína *, mas por assim ser sua mania tola de se expressar.
-- Que diz você Maní?-- fitou o pequeno menino criolo, envolvido numa manta azul desbotada e, carcomida . Que se pode dizer sobre esse infeliz que sobreviveu de um parto mal fadado por uma mãe drogada?, absolutamente resume-se a pequeno criolo infeliz.
-- Precisa aprender a falar. Vai ser bom pra nós dois, desse jeito vamos sobreviver quando puder falar *dois reais*.-- começou a rir no atoleiro de mediocridade em que achava-se.-- até esse dia chegar, o pai cuida de nós.--
Sentiu-se extasiado de tremenda fadiga e, pois se a deitar junto ao filho sobre um aconchegante improviso de papelões e sacolas ouvindo os automóveis transitar histéricos e, indiferentes.
Passadas algumas horas.
Sentiu um cutucar incomodo em seu ombro esquerdo, a repetir-se constantemente, um zunido muito agudo e quase inaudível ecoava. Aquilo o irritou por sua insistência em acordar lhe de seu repouso pós-droga, que sem pensar, acotovelou o problema. Passados alguns minutos, por sua consciência afetada lembrou-se de que havia Maní bem ao seu lado, quando de sobressalto levantou-se, e, cheio de remorso fitou o pequeno. Este encontrava-se absorto e, estagnado com as pupilas tão abertas de incredulidade a encarar o progenitor.
Muito esquisito esse ai. Pensou Messias ao ver a reação nada natural do menino.
Olhou ao redor. Estava em tempo de caçar as unhas dos pés*, foi o apelido dado pelos sem-teto na Ilha do Governador.
Conservara-se deitado junto ao pequeno, ponderando com os míticos neurônios que lhe sobrará; em busca de um motivo que o fizesse manifestar-se, agrilhoando no corpo moribundo o espírito chagado, por intempéries de vícios. Feito todos os dias, o mesmo repetia-se com essa desilusão rotineira e, os mesmos sucediam-se costumeiros com a ausência de civilidade, que apenas os da sua estirpe possuíam, deixando-se levar pelos instintos primários. Pôs-se de pé e confortando o Bebe Maní em outro canto forrado, arrumou seus pequenos pertences num carrinho de compras.


Biografia:
Esfinge. Observador. Ermitão.
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