Capítulo 1 - Ghaphollah
Existem algumas histórias com finais felizes. Eu diria que é a maioria. Mas essa, não é definitivamente uma história com final feliz.
Tudo começou...
Em um grande reino de Malávia uma deprimida princesa vivia. Seu pai fazia de tudo para agradá-la. Comprava caixas e caixas de jóias. E elasempre dizia:
- Não papai. Nada de ouro afasta minha tristeza.
O velho rei tentava de todas as maneiras possíveis e pagáveis para ver sua única filha sorrir. Pelo menos uma vez na vida. Mas ela sempre dizia:
- Não papai. Nada de ouro afasta minha tristeza.
A princesa chorava dia e noite. Sempre buscando por algo que não sabia o que era. Poderia ser alguém. Ela percorria todo o reino atrás de algo que a fizesse feliz por alguns meros segundos. Olhava entre os arbustos. Tentava falar com os animais. A única princesa de toda Malávia. Reino conhecido por abrigar as pessoas felizes. Onde todos os contos de fadas viviam. Ou viveram. Já que as fadas e os gnomos foram mortos na última Guerra dos Reinos. E os únicos unicórnios se transformaram em monstros da noite. Certas partes do reino eram proibidas para a pequena Molley. Esse era o nome da princesa. Em homenagem a sua mãe que honradamente morreu na Guerra dos Reinos, muito antes do seu tempo.
Todas as noites seu pai, o rei, lhe contava histórias de Malávia. Todas as guerras, criaturas mágicas, criaturas sombrias. Um verdadeiro reino fantástico. Mas a história que ela mais gostava era da sua mãe. Uma brava guerreira que foi contra a reforma de poder e acabou perdendo a cabeça ao afirmar que não iria ter outra guerra. Molley amava saber que sua mãe tinha tido mais coragem que qualquer guarda de seu pai. Mas chorava toda vez que lembrava de como ela morreu.
O rei não gostava de contar a história sobre a mãe de Molley. Acreditava que esse era o principal motivo de sua tristeza. Afinal a pequena nunca havia sorrido na vida. Nem mesmo ao nascer. E isso só estava piorando cada ano que passava. Os choros viraram berros sofridos. As lágrimas queimavam a face que envelhecia mais rápido. A princesa já não queria mais comer. Não tinha amigos. Não tinha irmãos. Não tinha mãe. Apenas o velho rei. Que após muitas tentativas para animar sua filha acabou pedindo ajuda para a feiticeira local. Mulher essa que ninguém ousava confiar. Mulher essa que mataria um unicórnio para beber seu sangue em troca de juventude e eternidade. Mulher essa que o rei resolveu pedir ajuda.
A casa da feiticeira era de difícil acesso. Ficava embaixo do Rio dos Mortos perto da Ponte das Cordas. Uma pequena casa quase sem teto, com duas janelas e uma porta pequena, tão pequena que apenas um anão passaria tranquilamente. O rei então sem esperar bateu na porta. Uma mulher gorda, baixa e com grandes olhos vermelhos apareceu na janela.
- Veja só quem bate na pobre casa da pobre feiticeira. Nem trajes decentes tenho para lhe atender. Em que posso ser útil majestade?
- Você é meu último recurso. Minha filha não sorri. Não come mais. Passa noites em claro gritando de sofrimento e não consigo lhe dar
a cura. Lhe peço um feitiço ou qualquer coisa para que minha princesa volte a ser minha linda filha. Temo por ela, bruxa. Temo por ela.
- Eu poderia lhe ajudar, majestade. Mas meus feitiços são perigosos demais e sua filha é frágil demais. Porém tem um..
- Sim, qualquer coisa. Qualquer coisa.
- O senhor sabe que não confiar na velha feiticeira de Malávia não é? Sou uma velha mentirosa. Para alguns até assassina e sequestradora de crianças. Apenas acho que confundem muito os contos de fadas. Não é mesmo Majestade? Pois sou apenas um pobre feiticeira. E quem acredita em feiticeiras depois da Guerra dos Reinos?
- Eu fui alertado sobre tudo. Agora me diga o que devo fazer para minha pequena Molley?
- Existe um sacrifício antigo que meus pais costumavam fazer quando eu me sentia mal. Não é de se estranhar eu ser a única Wurwick viva não é?
Meus pais pegavam o que era mais importante para eles e jogavam na fogueira das 6 horas. E nada resolvia. Não com coisas materiais. Mas aí foram acabando as velas, as roupas, os móveis, enfim, veja que minha casa não tem nada. Tudo foi queimado. Em nome do sacrifício. Porém coisas materiais não as coisas mais importantes para as pessoas não é mesmo minha majestade? Roupas, velas, candelabros, nada disso é muito importante. Então meus pais começaram a ficar entristecidos por seus feitiços falharem e o sacrifício sido em vão. Até que em um ano, um ano bem longo, decidiram fazer o sacrifício de novo. Da maneira correta dessa vez. E novamente na fogueira das 6 horas foram jogadas coisas. Está vendo esses potes em cima do armário?
- Sim, bruxa. Eu estou vendo-os.
- Cada um deles é um familiar meu. Meu tio no pote azul. Meu pai no pote laranja. Meu avô no pote..
- NÃO! Não! NÃO FAREI ISSO!
- Então sinto não poder lhe ser útil majestade. E sua filha morrerá em poucos meses de tanta tristeza em um pequeno coração. Uma pena.
Acho que um pai menos egoísta faria qualquer sacrifício para a felicidade de sua filha não faria majestade?
- Continue, bruxa. O que devo fazer?
- Nada tão ruim que não possa piorar meu rei. Só jogar algo importante para você na fogueira das 6 horas. Algo não material devo lembrá-lo.
E algo extremamente importante. Que você sentiria muita falta ou que alguém que você ame muito sentiria muita falta.
- Meu sacrifício...Isso foi predestinado desde o início. Escolheu ser a única Wurwick...então devo escolher quem será o único Ghrapholah.
Devo me sacrificar...deixar o reino para a Molley...a última e única Ghrapholah. É isso não é...bruxa?
- Vejo que vossa majestade não é de todos o mais tolo. Está corretíssimo meu rei. Se o sacrifício não acontecer, outras guerras virão, e enquanto Molley ser essa menina entristecida nosso reino, Malávia, corre grande perigo meu rei. Mas com o sacrifício, tudo mudará meu rei. Sua filha sorrirá meu rei. Sua filha irá guerrear meu rei. E poderá matar a única Wurwick meu rei.
- E por que eu confiaria em você bruxa? Se minha filha poderá matar a última e única Wurwick, isso pode ser uma armação. Não é?
- Está correto meu rei. Mas, não tenho perspectivas de vida. Estou com uma doença terminal. O reino já não é o mesmo. E eu também não pertenço mais a esse lugar. Considere meu último ato de vida, como um ato de bondade. Não peço para confiar em mim meu rei. Pelo contrário, lhe alertei dos perigos de se confiar em mim. Porém, a escolha será sua. A palavra final sempre é do rei.
- Eu aceito fazer o sacrifício. E não pense nem por um segundo que estou confiando em você bruxa. Faço isso em nome de Molley. Apenas pela felicidade de minha única herdeira e filha amada.
- Então prepararei tudo majestade. Não perca a hora da fogueira. Será as 6 horas. E um aviso final.
- O que é?
- Ninguém deve saber do sacrifício além do sacrificador e do sacrificante. Ou seja..
- Você e eu.
- Exatamente meu rei. Agora se não for de muito incômodo, preciso que se retire para preparar o ritual do sacrifício. Meu último e único ato.
Um ato de bondade. E em nome de Molley. Farei então meu rei. Agora lhe peço que se retire voltando apenas as 6 horas.
- Com licença.
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Capítulo 2 - Sacrifício
O velho rei voltou para o castelo na tentativa de dar um último abraço em sua filha que chorava desesperadamente em cima do baú onde guardava objetos de sua falecida mãe. Nele haviam balões, vestidos velhos, velas, escovas e outros objetos. Molley sonhava em ter o baú. Mas ainda não tinha idade para abrí-lo. Já que precisava saber proferir o Feitiço das Velas. E apenas Wurwicks tinham autorização para proferir feitiços em Malávia.
O rei após ter sido ignorado pela filha vestiu seu melhor traje e ficou sentado em frente ao relógio que marcava cinco e meia da tarde. Não aguentava mais de ansiedade.
- Será que Molley entenderá meu sacrifício - Conversava o rei com seus botões
- Molley saberá entender - Uma voz surgiu do nada
- Quem está aí?
- Meu nome é Frederic Hoover. Faço parte do castelo tanto quanto o senhor. Não pude deixar de ouvir que fará o sacrifício das feiticeiras. Senhor, ela é a última Wurwick. Ela não está para brincadeira.
- Preciso salvar Molley.
- Molley ficará protegida estando dentro do castelo. Sua mãe me nomeou como seu protetor antes de morrer. Eu estava lá no dia de sua morte. Sei exatamente quem vingar em nome do senhor. Mas sacrificando-se em nome dos Wurwick fará que Malávia sucumba ainda mais.
Frederic Hoover tentara ajudar os Ghrapholah desde o início das guerras. Mas sua falta de experiência com flechas e facas fez com que vários inocentes morressem. Ele sabia que deveria proteger Molley. Tinha prometido. Mas seu medo de falhar era muito maior que sua sede de vingança.
Os dois estavam prestes a elaborar um modo do rei escapar do sacrifício quando ouviram passos na direção deles.
- Papai?
Molley depois de notar a presença do pai no castelo decidiu então abraçá-lo. Mas não conseguira reconhecer Frederic.
- Quem é ele papai?
- Um amigo de família.
- Onde o senhor estava papai?
Ele não podia contar. Jamais. Beijou suas mãos pequenas e explicou que certos sumiços são explicados no futuro. E o dele era um desses. Começou a contar uma história. Uma das favoritas da pequena Molley. A história da Rainha Corfina.
"Malávia nem sempre foi esse reino abandonado e entristecido. Houve uma época onde as flores eram coloridas e enormes. Maiores que os cogumelos da Ponte das Cordas. Não existia cavalheiros nem cavaleiros. As pessoas andavam a pé com tranquilidade e sacos de arroz nas costas. Então o Rei Margorio Wurwick decidiu que Malávia deveria pertecer aos feiticeiros e não aos humanos e declarou guerra contra a Rainha Corfina. E então muita gente morreu. Malavianos e seus filhos , animais, plantas. Corfina acabou perdendo a guerra, e acabou se tornando prisioneira e escrava do rei. Então nosso reino começou a sucumbir e se tornou o que é hoje. Cheio de tristeza e maldade. Nossa pureza foi sugada para dentro do Cajado Dourado de Claire Wurwick. Junto com a pureza do espírito da Rainha Corfina. Mas antes dela se tornar um pedaço de luz em um pedaço de madeira amaldiçoado ela teve uma linda criança. Seu nome era Amelia Molley. Sua mãe. Que tentou de todas as maneiras possíveis salvar o reino dos poderes de Wurwick. E teve aquele triste fim então veio você, minha filha, mais uma Ghrapholah que tentará salvar Malávia e colocar nossa família no poder novamente e..."
- Eu não quero salvar Malávia.
- Mas minha filha, você não tem opções. A não ser que queira sucumbir junto com o reino.
- Não quero ter o mesmo fim que minha vó e minha mãe tiveram. Quero ser livre.
O rei sem palavras começou a chorar enquanto sua filha o encarava sem nenhuma expressão. Ele estava acabado. Olhou para o relógio e percebeu que tinha que ir.
- Meu tempo acabou Molley, Mas preciso que pense com cuidado e não se torne uma Wurwick.
Beijou a filha na testa e saiu.
Frederic encarava a pequena com certa incredulidade. "Como pode não querer salvar Malávia?" Pensou ele. Começou a desconfiar do caráter da criança. "Preciso proteger a pequena. Preciso convencê-la a salvar o reino".
Molley foi para o quarto e começou a rezar. Achava que assim teria sua mãe de volta e nunca houve um dia sequer em que não rezasse.
***
O rei já estava a 600 pés do local do sacrifício quando começou a se sentir um pouco tonto. Sentou numa pedra e tomou água. Começou a olhar ao redor.
- Onde estou?
Malávia era um reino famoso por ser um completo labirinto. Cheio de grutas, pontes e rios com portais. Mas uma ponte em especial era famosa por se alimentar de energia humana. Conta a lenda que quem se aproximasse da Ponte das Cordas saía dela cansado ou morto. Não existia ser poderoso que conseguisse passar por ela intacto.
O rei abriu seu mapa e percebeu que o único caminho que tinha era justamente a Ponte das Cordas. Tinha certeza que iria morrer afinal já estava muito velho e totalmente sem energia. O tempo estava passando e ele tinha que fazer o sacrifício para salvar Molley.
Então levantou e decidiu atravessar a ponte. O vento estava forte e era dificil se equilibra numa apenas segurando em cordas lançadas do céu. Apenas um ponte velha sem apoio lateral e com cordas que pareciam estar vindo das nuvens. Várias delas. Ao olhar para baixo o rei viu uma luz azul. Pensou em ir até lá ver, mas estava sem tempo. Pegou um pedaço de carvão que sempre levava em suas calças e escreveu na primeira árvore que achou: "Molley siga a luz embaixo da ponte". Na verdade o rei não fazia ideia do que estava fazendo. Provavelmente Molley nunca fosse achar aquelas palavras já que raramente passeava para aqueles lados do reino.
Conseguiu chegar vivo no local do sacrifício porém extremamente cansado. A feiticeira alegre estava cantando.
" Quando o dia chegar
O sacrifício virá
Tornando Malávia o reino sagrado
Paraíso perfeito de seres encantados
O sangue dos antepassados escorre
A lágrima dela o rio colore"
- Então meu rei decidiu de verdade fazer o sacrifício em nome da pequena Molley?
- Sem mais histórias bruxa! Termine com isso.
- Calma meu rei. O ritual é lento, doloroso e pesado. As chamas sagradas só aparecem no momento em que o sacrificante está realmente disposto a enfrentar a morte. Não parece seu caso meu rei.
- Estou fraco. Dê-me o que comer.
- Não posso. Estaria alimentando a galinha para comê-la em seguida. Prefiro não ter peso na consciência. Sou uma feiticeira, também posso ser boa.
- Molley está cada vez mais triste. Tenho medo de meu sacrifício ser em vão.
- Meu rei, um sacrificio como esse não satisfará apenas uma única pessoa. Molley se não se tornar alegre poderá ganhar alguma outra virtude. Como coragem. Que ambos sabemos que a pequena não tem.
- Se não for pela felicidade de Molley não será por nenhum outro motivo.
- Que seja feita então a vontade do rei. Siga-me.
A feiticeira caminhava em direção a um circulo de fogo com várias pedras no centro. Além de flores, cogumelos e facas. Do lado de fora do círculo tinha um enorme pote roxo.
- Para que serve aquele pote?
- Meu rei, Molley precisará de suas cinzas para guardá-las. Será meu presente para Molley.
O rei desconfiado deixou-se convencer pela resposta da feiticeira.
- Apenas termine logo.
A feiticeira então vendou o rei e amarrou seu corpo a uma cadeira. Colocou-o no centro do círculo de fogo. Tudo se transformou num grande fogaréu amarelo. Durou apenas alguns minutos.
Não existia mais nada além de cinzas e as marcas das chamas no chão.
- Finalmente consegui - Proferiu Claire Wurwick ao segurar o último pote que faltava em sua coleção - Agora poderei fazer o Feitiço das Rosas.
Enquanto isso a pequena Molley esperava ansiosa o retorno do pai para a história da madrugada. Aquela que ela ouvia antes de conseguir pegar no sono.
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Capítulo 3 - Frederic Hoover
Molley começou a chorar.
- Onde está meu pai?
Frederic não sabia o que dizer. Estava com pena daquela pobre criança mas precisava guardar segredo. Deixou-a falando sozinha e foi em direção ao enorme campo que tinha ao redor do palácio.
- Venha Molley. Deixe-me contar a minha história enquanto seu pai não vem.
Molley então se sentou na grama, sem se preocupar em sujar seu vestido branco de rendas. Frederic então começou:
- Sabe Molley, eu nem sempre fui amigo da familia de seu pai e sua mãe. Antes da minha família inteira ser destruída pelos Wurwick eu era apenas um jovem que queria atirar flechas e facas em árvores. Sonhava em ser um príncipe. Ter reinos como você. Mas minha família tinha pouco dinheiro e o máximo que eu conseguia era espiar os reinos vizinhos. Incluindo o seu. Quando Malávia sofreu o primeiro ataque, onde diversas famílias foram trucidadas, eu estava lá e não pude fazer absolutamente nada. Vi sua vó e sua mãe serem mortas. Mas prometi a elas que salvaria você. Além de vingar minha própria família. Então seu pai me contratou para serviços de guerra e proteção na família. Eu tenho a obrigação de salvar você não importa o que aconteça. Quando cheguei aqui não conseguia segurar um arco e uma flecha sem fazer algo errado. Foi então que seu pai me deu um treinamento. Ele me ensinou a caçar, me ensinou a atirar com diversar armas, me ensinou a lutar e me ensinou a perceber que não podia deixar minha vingança me cegar por completo. Antes de matar os Wurwick eu precisava de um plano. Seu pai me ajudou a montar um plano contra a última Wurwick. Aquela que você sabe que nunca deve mencionar o nome nessa casa...
Molley começava a se sentir sonolenta. Mas ao mesmo tempo queria ouvir aquela história. Sentia que precisava confiar naquele jovem rapaz. Frederic Hoover por muitos anos tentara salvar sua família de todos os jeitos imagináveis. Desistiu de casar e ter filhos em nome de uma vingança. Ela não sabia ainda se isso era bom ou ruim. Então ela se levantou da grama e deu um abraço em Frederic. Que sem saber o que fazer levantou os braços na cabeça tentando evitar qualquer tipo de contato.
- Venha Molley, vou te colocar para dormir.
Frederic então levou a pequena princesa para seus aposentos e voltou para o pátio. Sentou em cima de um tronco de árvore cortado e começava a contar os minutos para a volta do rei. Tinha esperanças que o mesmo conseguisse escapar do sacrifício e voltar vivo para casa. Porém avistou uma sombra na floresta. Uma mulher envelhecida com os cabelos bagunçados, olhos esbugalhados e que olhava para ele fixamente.
- Venha Frederic. Tenho uma mensagem.
Temeroso foi em direção àquela estranha senhora.
- Quem é você?
Quando chegou bem perto dela notou que sua aparência era bem diferente. Agora via um jovem bonita, com um vestido vermelho bem sorridente. Foi então que percebeu.
- Você é uma bruxa! Guar..
Tentou gritar para os guardas do reino, mas a bruxa jogou um feitiço que paralisou suas cordas vocais.
- Querido Frederic. Eu vou falar. E você vai me escutar. Seu querido rei morreu no sacrifício. E como promessa tenho aqui seu corpo em pó para Molley usá-lo como enfeite em algum cômodo. Infelizmente não pude impedir. Tentei várias vezes convencê-lo do contrário. Mas o rei insistia que precisava se sacrificar para salvar Molley. Também expliquei que o sacrifício dele seria em vão, afinal não faria diferença nenhuma contra o feitiço jogado pela minha família anos atrás. Não é assim que se destroi uma grande maldição e salva uma pessoa. Falei para ele isso. Ele não me ouviu Frederic. Disse que Molley morreria se ele não se sacrificasse. Imagine, uma criança. Quem iria ser tão impiedoso a ponto de matar uma criança tão querida e doce como Molley? Eu jamais seria capaz de cometer tamanho crime. Você acredita em mim não é meu amado Frederic? Você me conhece tão bem.
A bruxa então acariciou o rosto de Frederic. E autorizou-o a falar.
- Bruxa maldita! Mentirosa! Você fez o rei se sacrificar! Você o obrigou a isso.
- Ora, Frederic não lembra mais quem eu sou? Quando foi que fiz alguém se matar seja qual fosse o motivo? O rei se sacrificou porque quis. Acreditava numa história de conto de fadas que alguém contou para ele no passado. Eu posso ter vindo de uma família muito ruim Frederic. Mas você sabe bem que eu não as mesmas maldades que meus antepassados. Eu sou uma boa Wurwick. Sou a última Wurwick. Não tenho motivos para criar uma guerra. Afinal sou sozinha agora. Seria perda de tempo.
Frederic encarava a bruxa sem saber mais o que era verdade ou mentira nas coisas que ela falava. Sabia sim que ela sempre foi diferente de todos os outros Wurwick. Mas também sabia que embora ela fosse diferente, poderia ser tão malvada ou pior que qualquer outro Wurwick. Estava no sangue dela.
- Agora você vai me deixar conversar com Molley. Explicar o que aconteceu com o pai dela e dar um abraço naquela pequena que deve estar em prantos.
- Não bruxa! Você não irá chegar perto de Molley.
Foi então que sentiu passos vindo pelas suas costas. Ao olhar para trás Frederic viu Molly, em seus pijamas com um olho arregalado.
- Frederic, o que aconteceu com o meu pai? Quem é essa mulher?
A bruxa então deu alguns passos na direção de Molley. Mas foi fortemente agarrada por Frederic que a empurrou pra frente.
- Vá embora bruxa! E Molley, volte para cama.
Porém a bruxa havia deixado um vaso cair no chão quando foi arremessada por Frederic. E nesse vaso tinha umas palavras grafadas. Molley as leu.
- O rei
A bruxa então desapareceu na floresta. Molley olhava para Frederic com os olhos enxarcados de água pedindo explicações.
- Meu pai morreu Frederic?
Ele sem saber o que fazer pegou o vaso das mãos de Molley. E guardou-o em um lugar secreto sem dar nenhum explicação sequer. Depois levou-a para seus aposentos e deixou a pequena trancada lá dentro.
- Agora durma Molley. Assim não terá tempo para inventar coisas.
Do outro lado da porta ele podia ouvir Molley chorando aos berros. Sem poder fazer absolutamente. De novo.
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