Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
O último caudilho!
Luiz carlos Rivera

Resumo:
Uma sátira aos políticos da minha cidade....



             Parece haver um certo consenso que os caudilhos, aqueles homens que mobilizavam comportamentos, opiniões e conduziam as multidões, desapareceram com a morte do Brizola. De qualquer modo,foram importantes em seu tempo e em sua época pelas contribuições que deram, nem todas muito dignificantes. Em suma, tiveram o seu lugar na sociedade do século passado e parecem ter desaparecido, engolidos que foram pelo processo natural da evolução social. Talvez ainda sobrevivam alguns... Pelo menos, penso que conheçí um... Me deparei com o horário político gratuito em andamento e já estava desligando a TV, quando surgiu o caudilho na tela! Lembro que a primeira vez que ouvi falar no sujeito, foi quando virou notícia no Jornal Nacional da Rede Globo ao interromper á tiros um julgamento onde atuava como advogado de defesa, por discordar dos argumentos da promotoria. Ao vivo e á cores, o caudilho puxou o seu revólver e promoveu um sensacional tiroteio em pleno júri. Foi tão grande o tumulto, que jurados, advogados, assistentes, o juiz e até mesmo o réu escafederam-se pela porta afora apavorados com a “balacera”. O caso teve enorme repercussão, sendo notícia em rede nacional de televisão e tornando o homem conhecido nacionalmente, quiçá no mundo inteiro. Mais tarde, quando inquirido pelos repórteres, alegou que não havia perigo de feridos, pois era “um exímio atirador”, e que o tiroteio foi apenas uma “manobra jurídica” ardilosamente arquitetada para interromper o andamento do júri, o que conseguiu. Não recordo se o réu foi absolvido, mas se eu fosse jurado, com toda a certeza o consideraria inocente, impressionado que fiquei com a veemência da “oratória” e do poder de convencimento do advogado de defesa. Tal atitude parece que mexeu com o atavismo dos santanenses, que mais tarde o elegeram para deputado estadual, cargo que abandonou rapidamente para concorrer à prefeitura da nossa cidade. Foi uma campanha política memorável, repleta de baixarias trocadas com o então ocupante do cargo e acompanhada com avidez pela população, que vibrava à cada capítulo da pornográfica “novela” eleitoral, pois eram descritas detalhadamente as (des)qualificações de cada um dos candidatos, tendo sobrado pedradas, impropérios e insultos para todos os lados. Eleito por esmagadora maioria de votos, o seu primeiro ato como mandatário foi mandar incinerar a cadeira onde sentava o seu antecessor! O espetacular auto-de-fé teve lugar no pátio da Prefeitura Municipal, com ampla cobertura da imprensa falada, escrita e televisiva da terra, tendo novamente grande repercussão na mídia de todo o estado. Homem inteligente e bem articulado, mas de gênio muito difícil, envolveu-se rapidamente em uma infinidade de discussões e contendas com antigos e novos desafetos, bem como com companheiros de jornada do seu próprio partido durante o seu atribulado mandato. A situação ficou mais tranquila quando o caudilho resolveu fundar o seu próprio partido político, sendo ele o Presidente, é lógico. Uma de suas últimas façanhas, foi mandar erguer barricadas de sacos de areia nas sacadas da Prefeitura Municipal, pois pretendia resistir até a última bala ao avanço do M.S.T., o qual, segundo ele, iria invadir a cidade para instalar um “soviet”. A tal invasão acabou não acontecendo, mas segundo os fiéis seguidores do caudilho, isso só não ocorreu tão somente pela firme atitude tomada pelo Prefeito, que ficando a frente da defesa da cidade, fez o M.S.T. recuar lá pras bandas do Alegrete. Ardente defensor das tradições e do tradicionalismo, desfila garbosamente nas comemorações do 20 de setembro pelas ruas da cidade, sempre muito aplaudido pela população, o que o levou a candidatar-se novamente para prefeito. Não sei se o homem vai ser reeleito, mas posso afirmar que a nova campanha eleitoral vai ser emocionante, pois o homem continua com a língua afiada. Também não sei se continua á andar armado, mas acho que sim, pois segundo declarou em recente entrevista ao Jornal da terra, “este negócio de desarmamento é coisa de veado”, o que me leva a pensar que o melhor é não provocar   o caudilho. Imagina se o homem vira prefeito de novo! È capaz de me mandar fuzilar no “paredon” ou ordenar o meu desterro para Dom Pedrito! Acho melhor me mudar para Rio Grande ou pedir inscrição no M.S.T., pois como se sabe, ele é um ás da pontaria e eu não tenho nenhuma vocação para alvo.              


Biografia:
Sou Psicólogo e Psicoterapeuta. Separado, 62 anos, pai de um casal de filhos, escritor amador recente. Leitor voraz, fumante inveterado e abstêmio convicto. Me interesso por fotografia digital e analógica e por antiguidades. Torcedor fanático do S.C. Internacional. Músico profissional (já aposentado). Me interessam também pessoas e suas histórias de vida, verdadeiras ou não...
Número de vezes que este texto foi lido: 59433


Outros títulos do mesmo autor

Crônicas Madrugadas de um guri insone... Luiz carlos Rivera
Crônicas As lágrimas da cobra... Luiz carlos Rivera
Crônicas O fantasma da Moron... Luiz carlos Rivera

Páginas: Primeira Anterior

Publicações de número 11 até 13 de um total de 13.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Ter - Anderson C. D. de Oliveira 59950 Visitas
Como nósa folha seca - Condorcet Aranha 59944 Visitas
Coragem, levanta! - Maria 59943 Visitas
A margarida que falou por 30 dias - Condorcet Aranha 59938 Visitas
MORTE, O PARADOXO DIVINO DA VIDA - Pedro Paulo Rodrigues Cardoso de Melo 59932 Visitas
O tempo todo tempo - André Francisco Gil 59927 Visitas
NEVEGANDO NA HISTORIA DA EDUCAÇÃO - francisco carlos de aguiar neto 59927 Visitas
TEMPO DE MUDANÇA - Regina Vieira 59909 Visitas
No Caminho de João - José Ernesto Kappel 59906 Visitas
Pássaro de Dois - José Ernesto Kappel 59905 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última