(Este poema foi escrito em maio de 1969 e traz nas suas (muitas) linhas um pouco da ingenuidade e da exuberância da juventude. Gosto dele, mesmo assim.)
Sentado,
Contemplo o pôr do sol,
A transfiguração das cores,
O desmanchar das nuances,
A composição dos quadros,
Num fluido escoar de tonalidades,
Num fluxo continuo, equilibrado, harmonioso.
Num tempo,
Curto!
Uma dor pungente me avassala,
E quase me leva às raias da loucura.
Como o escoar das águas entre as mãos,
Aqueles instantes tão belos,
Me escapam!
Sinto e vejo,
E, no entanto, não consigo
Possuir, nem ser possuído,
Unir-me, fundir-me,
Em suma, amar!
Amar de uma maneira total,
Perfeita e infinita,
Aqueles instantes tão belos,
Aquele presente tão escorregadio.
E só quando este flui no passado,
Assim como o amarelo flui no alaranjado,
E o alaranjado no vermelho,
Algo me toca,
Nem bom, nem mau: a dor!
A dor,
Saudade
De um infinitésimo que passou.
A dor,
Fração,
Muito pequena, eu sei,
Deste amor total,
Perfeito e infinito.
A dor,
Consolo,
Que ao me tocar,
Destrói,
Ao menos por algum tempo,
O monstro glacial:
A insensibilidade!
Quisera,
Caminhar eternamente,
Na direção do pôr do sol,
Para que tivesse,
Presente em vez de passado,
Amor em vez de saudade.
Mas sei,
Mesmo se possível,
O eterno presente
A rotina,
Trariam, de volta,
O monstro glacial:
A insensibilidade!
Só restaria então,
A fusão total,
E louca,
Num redemoinho,
Numa mistura de moléculas,
Profusa,
Infusa,
E rodopiante,
Com as cores,
O desmanchar de nuances,
O fluido escoar de tonalidades.
Só assim atingiria,
O amor total,
Perfeito,
E infinito.
Triste opção,
Triste sina.
Entre a morte por insensibilidade,
E a morte por amor total.
Entre o nada,
E a loucura.
Entre o vácuo,
E o delírio.
A dor,
Fração do amor,
Pequena, eu sei.
Claudio Thomás Bornstein
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