Na camisa do meu sobrinho esta escrita 1976, em letras grandes.
Pensei na vida olhando aquela camisa
Minha vida passou?
Veja minhas rugas
Cabelos querendo branquear.
Não e justo, morrer assim.
Quem disse que justo, a vida não foi, quem foi?
O que dizer, consolar com quê, querer entender, pra onde vão todas as pessoas.
O palhaço na infância com brincadeiras sem graça.
A vizinha, clichê das vagabundas era uma ótima cristã.
Pra onde ela foi, cansou de ser pura?
O sorveteiro com delicias geladas
O padeiro nojento com catarro no pão
Onde foram todos.
A meretriz com pecados entre as pernas
Levando-nos para o inferno
As revistas nuas, mulheres nuas.
Empreitada do inimigo
Corria sem cansar para elas
Nervoso ansioso com sempre.
Par aonde vai o assunto
A camisa do meu sobrinho,
em letras vermelhas
Não lembro mais, efeito da velhice.
Mudo a pagina na cabeça sem esforço, mas ela volta.
Bem de manha nuvens brancas no céu
Rios no fundo barulho irritante
Minha escola pastagem repouso, não.
Minha saudade colchão pra repousar
Como e chata esta dor
Sempre ardendo desde sempre
A dor de estar vivo
Menos vivo sem inocência.
Barbosa welington
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