CARLOS ALEXANDRE NASCIMENTO
A ROSA
E O
PENHOR
CAPÍTULOS
PREFÁCIO
O QUARTO ESCURO
NOS TRILHOS DO ABANDO
O FAROL
O PENHOR
NO ENGENHO DO PERDÃO
O ENCONTRO
RESTAURADO PELO AMOR
A ROSA E O PENHOR
PREFÁCIO
No contexto de um mundo hodierno, o palco da vida apresenta sua versão dançante na procura de um amor em meio a desertos de solidão. E no cenário de um quarto escuro; uma meiga menina de musgos olhos profundos, entoa sua melodia no assoalho de um teatro, a falar de seu amor em um mundo de flores e faróis de varias cores, no revelar de um penhor.
Envolva-se neste romance e descubra no final de uma estação; um vagão descarrilado dos trilhos nas saudades de um coração ferido, em encontros de um passado esquecido, no final de um grande amor a buscar.
O QUARTO ESCURO
Ao abrir as cortinas no teatro, do palco da vida, à vírgula pleiteia suposta interrogação das mãos frias guardadas na prisão. Sua mente perplexa pondera a meditar; sobre o quarto escuro escondido no lar. Nas entrelinhas da escrita sobre a pauta da vida, a pena se põe a deslizar, rompendo a vírgula que fica sobre relutante anseio de expressão, expondo um afogueado sentimento sublime, das angustias que sangra de um coração.
De paixão seus olhos se encheram, quando a viu desabrochar; naquele jardim tão florido de pássaros a cantarolar. Sob estagnadas pupilas em negros tons de prisões na mente, do obscuro quarto fechado vigia as pálpebras o bailar da alegria em meio ao frio noturno da solidão.
No estalar das labaredas ardentes ante o lume do fogo acolhedor, seu vulto ela o percebeu. Em um pequeno relance de olhares de um clímax encantador; sobre uma sintonia perfeita suas almas ardiam de amor.
Aquela invasão inesperada jamais sentida em seu ser, de temor em flagelos voltou, para sua mente em amarras e no oculto quarto fechado suas lágrimas ele derramou.
- Se achegue, o aceno dizia; - Venha se aquentar, em envolventes abraços amigos, ao redor da fogueira a dançar!
- Sou tão bruto de rústico linguajar, áspero em sentimento eloquente, na sua ciranda dançante de clássicos sons para amantes, não sei como elucidar.
- Não temas, apenas venha, ainda que em pedregulhos teu verbo te sintas em diamantes lapidado serás. Quando em prelúdio teu ser derramar sobre nossa ciranda dançante, das mordaças suas ânsias liberto serás.
No compasso de sua mente a pensar, sua dança ele trança no tear, como a lança de um tecelão a chamar sua atenção. Então a aranha tece sua teia, em palavras a se prenderem no ar, armando-lhe uma rede aos seus pés, para o quarto escuro a levar.
- Quem és tu ó gentil melodia que em êxtase baila no ar, trazendo suaves sintonias que de encanto me deixo levar?
- Sou relâmpago de lanças mordazes, inflamados dardos na mente. Ora sou fogo que o gelo consome, ora voraz geleira ilhada, consumida no fogo de tuas palavras, que desmancha em águas amargas de um mar vazio perdido em solidão.
Nos trilhos do abandono
No bailar das estrelas dançantes ao redor da fogueira que ardia, dos seus braços ela se perdeu, envolta pela melodia em serena noite fria de vozes a cantarolar. E em meio a jardins tão floridos varias rosas ela o viu apanhar, em vermelhas pétalas macias aveludadas caídas ao chão, marcando o caminho com flores mostrando a direção.
E sobre um jogo de amarelinhas no compasso do cirandar; seus passos vacilam no prosseguir do céu ao inferno pro quarto escuro ir. Em seu esconderijo secreto descoberto ele estava pra ser, e de dentro do seu baú escondido pronto pra uma peça a pregar; seu boneco de molas saltita aos sorrisos de sustos a dar.
-Espere não fuja de novo, disse ela retendo-lhe a mão, no saltar de seu mundo obscuro para fora de seu vagão. No apitar do trem que partia de sua mente a recordar; - sou criança sou travesso, do apito tenho medo, mamãe está a me chamar, se ela me pega aqui não poderemos mais brincar.
No deslizar dos trilhos da vida, locomotiva se pôs a soar, melodia fúnebre dos sinos de sua mãe a enterrar. Caiu por entre os vagões quando começou a procurar; aquela criança traquina, que nos trilhos se pôs a chorar.
-Papai era o maquinista, gritou ele em sua fúria a lembrar, do triste episodio terrível de nodoas no passado a deixar, vendo a maquina apitando ao longe da estação abandonado a ficar.
Menino de rua cresceu até no orfanato chegar, e pro quarto escuro correu pra um passado poder enterrar.
No ajuntar dos seus papiros ao findar o expediente do dia, pra casa ela se recolheu. Aprofundando em suas questões de um exaustivo quadro em conflitos, deliberando uma maneira em sua arte de analisar; àquela disforia profunda, para do quarto escuro o tirar.
Com os olhos carregados de sono, já em alta madrugada; no vacilar um pequeno cochilo e um trem a apitar. E dentro da locomotiva ela estava a viajar, quando de susto acordou sem sono de tanto pensar e incomodada com tamanha questão ao Pai das luzes foi rogar;
- Senhor, vem iluminar meus pensamentos, em minha alma há um tão grande tormento de um mar revolto a banir-me em solidão. O nevoeiro ofusca o meu barco, mas tu senhor és um farol iluminado a mostrar-me em tua bonança a direção de um porto em segurança.
- Em meio a conflitos de indiferença, do lar me distanciei e em grande pranto na alma o seio materno eu deixei, na esperança de um dia poder reconciliar e os braços paternos novamente abraçar.
- E os trilhos me mostram o caminho de um menino sem destino pedido em uma estação a mostrar-me a direção. Ó meu senhor me dê forças para o lar poder chegar e aqueles trêmulos braços abraçar, porque eles estiveram sempre abertos a me esperar.
Então, de sono ela adormeceu aguardando um novo amanhecer pro trem no passado voltar e em lágrimas de perdão seus pais abraçar. Nos trilhos da vida ela passou a valorizar a melhor coisa do mundo que é o aconchego de um lar, de quem tem no final de uma estação um abraço amigo sempre pronto a esperar.
O Farol
Dentro do covil de lobos como ovelha foi jogado, bem no fundo da caverna de um frio orfanato. Já no meio da matilha de cordeiro vira lobo e dentro da rebelião ele traça seu escopo.
Sua fuga alucinante termina em um mirante, bem no alto do velho farol, preso como castigo nos fundos do covil perdido, sobre uivos de uma alta temporada em duas luas cheias no quebrar da enseada, de um mar vazio pedido em solidão.
Da vidraça encantada no topo do arranha céu era seu segundo dia. E ao longe do horizonte seus olhos se perdiam no silêncio do farol, de sua mente em lembranças no passar de suas semanas. E no findar daquela cena, surpreendido foi por ela que de longe o contemplava, perdido em seus conflitos. E ao vê-la com seus livros meio que atordoada pelo silêncio vigente de sua fria recordação; ele rompe em melodia sua voz a entoar em grande sintonia sua musica a declarar;
- No horizonte por traz de teus olhos o mar se esconde. Tímido mar em ondas que retraem barulhentas no bater de teus contornos molhados. O azul do céu em elo ao tímido azul do mar mostra o branco das ondas no aproximar de teu sorriso alvejante para lhe tentar ofuscar. Porem teus lábios irradia a luz da vida que ele jamais vai expressar.
- E no profundo alto mar então, uma ilha ele revela; solitária em rochas profundas de um mar vazio perdido em solidão. Ó mar tão tímido e voraz, de ondas que vem e que vai, traga estes contornos molhados pra minhas mãos deslizar, em aveludada pele macia e assim minha solidão apagar. Então saberei entender; que tua beleza também tem seu lugar, quando meus olhos assim contemplarem estes contornos molhados que trazes pra minha alma amar. Olhando tua beleza escondida em tua úmida areia fria, em contraste com o horizonte que se esconde, pelos contornos que trazes ó mar.
Após a declaração sua pele incendeia-se como centelha e em sussurros de emoção, explodindo feito um vulcão em grande erupção, ela faz a sua declaração;
- Vejo que és poeta, pois de amor me deixo levar pelas tuas lindas melodias, que encantam meus olhos a chorar.
- Os olhos, disse ele; é a candeia da alma que ardem pela emoção do desejo e satisfação do olhar. Trazendo angustias no cerne, pelas lágrimas que choram por não querer rolar. Assim é o âmago da minha alma poeta, que suspira por querer ver apagar, suas lágrimas que caem como orvalho do campo; em minhas pétalas para as amparar.
- Do farol sempre lhe via quando vinhas se banhar, neste mar de solidão, a me deixar sempre a pensar; sobre as rosas que apanhavas em pétalas a jogar, marcando a areia molhada, no farol sempre a chorar.
- Quem és tu ó guardião vigilante, que está sempre a olhar, cujo vulto por traz da janela sempre vejo observar?
- Sou uma torre que vigia o vai e vem da alegria. Pássaro ferido, faminto sem poder voar, nas asas da liberdade e um mistério revelar;
O Penhor
- No alto do farol, uma escrita na porta jazia, vermelha feito sangue a selar a minha sorte sobre uma revelação na seguinte expressão;
- “o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.”
- Por um instante em minha vida, o som do sino eu escutei, de um passado não muito distante e então investiguei, bem no íntimo do meu ser; que metal meu coração seria a tinir triste melodia, perdida no tempo e no vento até não mais se ouvir; se o perdão não liberasse, ao maquinista que tocava o sino da despedida no final da estação a partir.
No clarear da lua cheia, iluminando a velha aldeia no alto do farol se ouvia, uma doce melodia no badalar do sino que ardia, em belos uivos de perdão;
- Ó doador da vida, que sara minhas feridas; ao soar do meu perdão ao maquinista distante, leve esta canção em teus quatro ventos a buscar; a locomotiva errante, até ao fim da estação chegar.
No fechar de suas cortinas, da janela que ele via, ela volta-lhe a atenção, fitando-lhe bem nos olhos a segurar-lhe pelas mãos. Em suas meigas palavras num sorriso encantador, outra janela ela abre, em sua cidade de pedras cheio de arranha-céu e assustado com a imagem ele suspira para o céu.
- O que vê, disse ela em sua análise, correndo a escrever e pintar aquela imagem. - Vejo varias torres iluminadas são faróis na enseada em acenos com as mãos, de um mundo em conflitos, pensamentos tão perdidos, muitas vidas em prisões. São casulos sem escritas, são faróis sem melodias, belos sinos sem badalos de um trem sem estação.
No pintar de sua tela, misturadas cores amarelas, ela traça o seu rumo em meio a flores exóticas a mudar a sua sorte, sobre um ponto de fuga; vermelha rosa profunda, em essências exalando no ar, a mostrar-lhe o caminho, para do quarto escuro o tirar.
- Esta rosa é o meu penhor, disse ela a lhe abraçar. Cuida dela com desvelo pois vou me ausentar, passarei por entre as flores deste jardim de amores. Se a rosa vermelha murchar e o perfume não mais sentir; me procure nos faróis pois lá vai me encontrar, estarei em uma jornada, meus pais vou abraçar. E a rosa que lhe dei deste ramo que apanhei em nosso jardim de amores voltará a perfumar.
No passar das luas cheias, seus olhos de saudades se desfizeram, era uma nova estação de um farol na escuridão,sem um terceiro dia com sua rosa perfumada no regar de seu penhor, com suas lágrimas de amor. Suas pétalas macias com o tempo foram murchando e no enxugar de grande pranto, ao plantar seu lindo ramo em seu jardim de amores; ele colhe varias flores.
Então, por entre um mundo de torres, de faróis de varias cores, ele sai a procurar; com sua rosa vermelha aveludada e macia de seu lindo jardim florido, seu grande amor a buscar pra seu penhor entregar.
No Engenho do Perdão
Como o vento que toca o moinho, a mudar o curso das águas, em encanto sua mente é levada, no engenho que ela girava.
O suco da cana extraia, camponesa de olhos profundos, da cor do fundo do lago, semelhante ao caldo tirado. No degustar da garapa a beber, nos seus olhos tão musgos mirar, das moléstias do sol que ameniza, ao ouvir sua voz a cantar;
- A vida é como o engenho de moinho, que amassa o grão no seio da terra mãe tirado. E que depois de amassada farinha, retribui na forma de pão, o alimento pra sua jornada. Assim sou eu nesse engenho da vida, feito uma caiana amassada, que Três vezes passo moendo, retirando o sustento de casa. No ranger do moinho que gira, a farinha na roda de pedra; mamãezinha socorre depressa, sua filhinha presa na pedra. Sem as pernas sobrevivi, com a força nos braços girar, este engenho de vida que bebes, para tua jornada animar.
- Ó doce caldo amargo, deste engenho de cana a beber, nesta torre perdi a esperança pelas minhas tristes lembranças, de um passado que não consigo esquecer.
- Quem és tu viandante amigo, que na torre não quer mais entrar, que destino tu trazes no peito, desta vida de moinho a girar?
- Sou peregrino preso na roda, um bagaço amassado de cana, sou amargo em fel de absinto, sem sandálias perdidas nos trilhos. Mas bebendo este doce de engenho, dos teus lábios solfejos que emana, conquistastes essa rosa vermelha; o penhor da minha alma que canta.
- Tu és o jardineiro das flores, esta caixa tenho que lhe entregar, a pedido de uma amiga, que ficou a me observar. Ela disse que alguém me daria uma rosa vermelha como penhor, fruto de sua maior riqueza, em amarras de um grande amor. Este então seria o sinal para também poder lhe dizer; que ela ainda o veria, sobre os trilhos da vida a vencer.
De alegria um sorriso ele deu, no abrir de sua caixa a pular, um boneco de molas jogando; mil confetes perdidos no ar. Bem no fundo um poema havia, rabiscado em um papel de pão, que deixaram seus olhos em lágrimas, ao lembrar-se daquela estação:
- Camponesa sem pernas que andava, com os braços chamado perdão, no engenho da vida cresceu, aprendendo a sua canção. Assim devemos nos perdoar, dos fantasmas que nos permeiam no ar, de nossas culpas que acreditamos e que nos fazem aleijados ficar.
Então ele compreendeu, que aquele seria seu terceiro dia de cura sob uma recuperação, ao ver seus fantasmas partir, por um simples papel de pão.
No escuro da noite sem lua, ao profundo sono da madrugada, em crescente luar uma espera, lua nova brilha na enseada. Na estação muitas flores havia, o jardim que mudou de lugar, aguardando o apito do trem, lua cheia pra rosa voltar
O ENCONTRO
Lágrimas que caem ao chão, sem as flores para amparar, pelo tempo que foi se passando, a fazer suas pétalas murchar. Seu olhar no cume da montanha, a fumaça não quer se mostrar, do apito de um trem que não chega, sem os trilhos a descarrilar.
De paixão sucumbiu o luar, em eclipse com o sol a brilhar, tendo como platéia as estrelas, de uma noite que não quer mais passar. Não há mais flores em seu jardim de amores, nem mais bonecos de molas a pular, de um vagão que não sai de sua mente, sem saber quando ela vai regressar.
Forjado no calor das emoções, incessante bigorna a sofrer, retinindo nos trilhos da aldeia, férrea linha locomotiva a trazer.
De jardineiro a ferreiro se fez, derretendo o ferro a moldar, no suor escorrendo do rosto, trilhos novos pro trem desfilar.
- Minhas rosas enferrujaram, solidão quer de novo envolver, no calor que suporto em minha alma, das angustias do quarto escuro a temer.
- Negras nuvens que cobrem o luar, desta aldeia sobre todo o meu ser, que destino terá a minha alma, como posso sem ela sobreviver?
- No vazio ilhado que invade, singular sentimento no coração, não há flores em minha jornada, somente pétalas de separação.
- Que os céus goteje esperança, em meus ombros queimados de dor, pelos trilhos pesados que levo, ao encontro de tamanho amor.
No caminho de um sol escaldante, de conflitos no deserto da vida, sucumbe a razão dos amantes, a provar a paixão envolvida. Já prostrado pelo cansaço, no tombar de uma imensidão, vulnerável desfalece em silêncio, sobre a sombra de um velho vagão.
- Quem és tu que o deserto atravessa, em coragem e determinação, que destino tu trazes na alma, nestes trilhos envolto em solidão? Sua voz ecoava ao fundo, toda tremula ante a situação, ao olhar que o menino dos trilhos; era o filho deixado na estação.
- Fui forjado nos trilhos da vida, sob a sina de um triste vagão, aprendendo em moinhos de trigo, melodia a falar de perdão. Em meus ombros feridos carrego, um só elo pro vagão andar, pelos trilhos rompidos na alma, de um amor descarrilado a buscar.
- Sua voz soa familiar, no apitar do apito do trem, melodia suave aos ouvidos, em lembranças de um passado de alem. Cicatrizes carrego comigo, de abandono de muito castigo, orfanatos de solidão, em um quarto escuro escondido, no vazio de um vagão.
- Quem és tu ermitão do deserto, qual o conto trazes no coração, o que fazes no vácuo perdido, na carcaça deste velho vagão?
- Sou a dor da saudade que bate, cada dia dentro deste vagão, consumindo a minha alma em angustias, estilhaços de separação.
- Ao redor de uma mesa ceava, a família no repartir do pão, de mãos dadas agradecíamos com o coração cheio de gratidão. Porem sobre aquela aldeia, pairava uma nuvem sombria, agressiva epidemia avassaladora a dizimar. Ceifando a vida no campo, derradeiros rastros em pranto, de lágrimas a contaminar.
- A fome foi chamada na terra, a morte passou a reinar, cada casa, cada família, triste peste a alastrar. O luto estampado no rosto, de um olhar tão perdido em desgosto, ao sentir o cheiro nas portas, da doença minha casa entrar.
- Nas perjuras de amor que fizemos, minha amada e eu a chorar, com o fruto do amor protegendo pro menino não contaminar.
- A aldeia obrigava a embarcar, no apito do trem a levar, todo aquele que a praga pegava, pro deserto errante vagar. Quão dura foi a decisão, pro filhinho não se contagiar, minha amada e eu decidimos, pra criança então sobreviver; na estação com o boneco de molas, brincaríamos de pique esconder.
- Mas os trilhos marcaram o destino, no ultimo apito do trem, assustado o menino gritou, coração de mãe desesperou, ao encontro do choro enxugar...
Um profundo suspiro na alma, interrompe o desfecho de dor, no silêncio do vácuo perdido, pai e filho no quarto escuro escondido, entre lágrimas perdidas nos trilhos, das lembranças de um grande amor.
Restaurado Pelo Amor
No frio da madrugada, no silêncio do deserto de dores, ao lume da fogueira aquentava, solitários de uma lua cheia, a lembrar-se da velha aldeia.
Com os olhos perdidos no tempo, de vidas jogadas ao vento, no assobiar de uma canção; ao redor do calor entoavam melodia vinda do coração;
- O amor que vence barreiras, em qualquer situação, ele cura profundas feridas de grande separação. De mãos dadas ao redor do fogo cantamos, sinfonia a falar de perdão. Assim vencemos o frio noturno, no aquentar dessa triste canção.
De repente um vulto passou, ao redor das brasas que ardiam, era sua rosa querida, no bailar de grande alegria, com seu sorriso solto no ar. Em um relance de olhar de um clímax encantador, sobre uma sintonia perfeita; sua alma queimava de amor.
Porem ela não o percebeu, quando ele começou acenar, com seus olhos perdidos no tempo, não podia mais enxergar. A praga roubou-lhe a visão, quando ela foi se encontrar, com seus pais no deserto perdido, pra poder os abraçar.
Então uma rosa de ferro mostrou, forjada de uma bigorna a sofrer, no calor das emoções a fazer, um penhor pra lembrar seu amor. - Este penhor que lhe dou não tem o cheiro das rosas, nem o perfume da flor em amarras de grande amor, mas resiste ao tempo, no calor e no frio relento, tempestades no deserto em ventos de dunas dos meus sentimentos, enlaces de meu grande amor. Porem pode enferrujar, se guarita não mais encontrar, quando a chuva serôdia cair, em minha alma no deserto a partir.
Quando ela a rosa sentiu, suas lágrimas nas pétalas caiu, exalando seu perfume no ar, melodia dos seus lábios a cantar, sua canção a falar de amor de um lindo jardim ao luar;
- No penhor do meu amor da rosa que lhe dei; fizeste um jardim de flores, em tempos de amores. E em meio a moinhos da vida, no verde do engenho a girar; saístes do quarto escuro, pra meiga camponesa ajudar, bebendo do doce do engenho até meu penhor lhe entregar.
- De sua maior riqueza, dividistes tamanha beleza, na grandeza de teu coração. Por isso deves voltar, à aldeia e anunciar, que de teu grande amor em poder, exalastes virtudes a envolver, proteção para todo o teu ser, até imune da praga ficar.
Foi então que ele sentiu, em seu corpo um forte calor, ao lembrar-se que o tempo passou deste que seus pés ali ele pisou, em uma noite sem lua, no frio do deserto a surrar e agora era já lua cheia, sem ele se contaminar.
No deslizar dos trilhos da vida, locomotiva se pôs a soar, melodia alegre dos sinos, de um coração feliz a embarcar. Ramalhete de flores colhia, de seu jardim na estação a entoar, sua canção a falar de amor, de um povo distante a buscar; doentes do deserto errantes, excluídos em tamanha dor, que aguardavam a chegada da cura, através de um gesto de amor.
E pra cada vida que vinha, a ouvir sua triste canção, uma flor vermelha ele tinha, em pétalas exalando no ar, o perfume de sua rosa amada, na partida do trem a apitar.
A Rosa e o Penhor
Ao fechar as cortinas do teatro, no palco da vida, após aquela apresentação, entra em cena o deslizar de duas rodas no assoalho do cenário a reter-lhes a atenção. Era uma meiga menina de musgos olhos profundos, da cor do fundo do lago a encerrar o espetáculo.
Havia um silêncio profundo pairando diante do publico quando ela começou a dizer, com sua voz bem suave a respeito da rosa amada e o que ela poderia ser;
- Seu nome, disse ela: era religião, tão bela nos seus dizeres, nos seus ritos de afazeres, mostrando caminhos profundos de belas canções ao luar. Procurando sempre uma maneira, em sua arte de analisar, os lapsos de uma humanidade caída para do quarto escuro os tirar.
- Religiões de homens valentes, que sucumbem nos desertos da vida, perdendo a razão envolvida, por paixões de seus ideais. Louváveis gestos humanos se praticados sem seus enganos, de suas fachadas de flores, sobre tantos jardins de amores, sem dolo e sem interesse, um simples estender de mãos, serias então preciosa ó doce religião.
- Porem tornastes tão cega, pelo ego de homens sem trégua, travando em corações suas guerras; de orgulho e aquisição, ganância, e execução, mostrando tua frieza por traz de tanta beleza ó doce religião.
- Ó inescrupulosos corações religiosos; quem vos persuadiu a hastear insígnias jactanciosas sob meros rótulos de ostentação, se no perfume da rosa amada se encontra tamanha dádiva, no vermelho carmesim que é o penhor de sua flor?
- Ó penhor derramado em graça de um céu tão cheio de amor, entregue a todos os homens, semelhante a essa flor, vermelha feito sangue a curar tamanha dor; tu és a maior riqueza, inefável em grandeza, marcando nossos caminhos em resgate de um destino, pro deserto a perecer.
- Em tua escarlata profunda, semeastes jardins a envolver, nas gotas de sangue da cruz, uma cura pro pecado a vencer. Do pecado podemos dizer; maldição para todo o ser, que só ama a religião, se esquecendo de ter o penhor, sem a marca da vermelha flor como prova de um grande amor, pra imune da praga ficar.
- És terrível ó epidemia, que ataca em toda família, sem fazer-te acepções, quer de credo raça ou religiões. Mas que levas consigo o castigo, de uma morte tão triste e terrível, causando tantas separações, em conflitos e até divisões. Fazendo do mundo um vazio, em sentimentos de desdém tão frios, de vidas sem seus jardins de flores, de homens sem seus amores, no oculto profundo de um quarto escuro, dos vagões descarrilados dos trilhos, e os corações tão distantes de Deus.
Então, no final da explanação a respeito de sua peça e daquela encenação, ouviam-se murmúrios nos cantos, queixumes de indignação, pessoas pateando ao fundo, em protestos de insatisfação.
Havia também muito choro, lágrimas de reconciliação, de vidas distantes dos lares, passados de magoas mordazes, abandonos de uma estação, em faróis na escuridão. Olhares fitos nos trilhos, sem saber qual caminho trilhar, religiosos de vários jardins sem o penhor querer carregar.
E no fim da estação da vida, no calor das emoções sentidas, de poucos aplausos confusos; a vírgula pleiteia suposta interrogação, dos meigos olhos profundos a tomar sua decisão em posse de uma flor colhida, no cenário do jardim florido a sair da encenação, no fechar das cortinas do palco, de um conto de amor; de uma meiga rosa querida e de seu tão amado penhor.
FIM
|