Por D. M. Lloyd Jones
O pecado merece a punição de total destruição: "Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara algum remanescente, já como Sodoma seríamos e semelhantes a Gomorra". O que aconteceu com aquelas cidades? Sodoma e Gomorra, cidades da planície, haviam sido totalmente destruídas. Há uma passagem em Gênesis onde Abraão, olhando do topo das montanhas para baixo, onde ele havia vivido, viu à distância essas cidades suntuosas, as quais haviam sido tão prósperas, tão cheias de alegria, prazer e de pessoas se divertindo, e que, de repente, desapareceram! "Eis que a fumaça da terra subia, como a fumaça duma fornalha" (Gênesis 19:28). Destruição total! E o profeta diz aqui que, no que nos diz respeito, é exatamente isso que merecemos.
O princípio que estou extraindo desta declaração é que, de acordo com o ensinamento bíblico, esta é a verdade a respeito de cada um de nós como indivíduos. Deus enviou seus anjos para destruir as cidades da planície como punição pelo seu pecado. Ló havia apelado a este povo, e tentado convencê-lo a parar com seus maus caminhos, mas não quiseram escutá-lo. E finalmente Deus disse: destruirei essas cidades por causa do seu pecado, seu mal e sua iniquidade.
E como já vimos, o profeta Isaías diz aqui aos seus contemporâneos: se fôssemos receber o nosso merecimento, isso é o que receberíamos - total destruição, sem sobrar nada.
Este é um ponto muito importante. Isaías nos está afirmando que não há súplica alguma que possa ser oferecida. Nada pode ser dito a favor do abrandamento da sentença e da ira de Deus - nada. E quero enfatizar isto: essa é sempre a primeira grande afirmação do evangelho cristão. Antes de nosso Senhor vir, João Batista apareceu. O que ele pregava? Ele pregava "o batismo de arrependimento, para remissão de pecados" (Marcos 1:4). Aqui estava o precursor; aqui estava a preparação para o evangelho. Ou, se preferirem, a lei vem primeiro, depois o evangelho, pois "a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo" (João 1:17). Arrependimento e fé no Senhor Jesus Cristo -é essa a ordem.
Aqui, então, está o primeiro passo. Precisamos compre ender que, como parte da raça humana, não merecemos nada menos que total destruição. Admitimos isso? Sou autorizado a fazer esta pergunta pois escuto muitas pessoas falarem: "Por que Deus não faz nada a respeito? Por que Deus não pára as guerras? Por que Ele não dá um fim a tudo isto, tudo aquilo ou aquilo outro?" Culpam a Deus pela condição em que o mundo se encontra. Mas, minha mensagem é esta, enquanto homens e mulheres falarem assim, não há esperança alguma. O primeiro passo é fazer o que Isaías faz aqui a favor dos filhos de Israel, isto é, admitindo que eles não têm nada a pleitear, que eles não podem pedir por nenhum abrandamento, confessar que, se recebessem seus merecimentos, seria total destruição.
Contudo, com que fundamentos digo isto? Deixem-me dá-los a vocês. Por que homens e mulheres não merecem perdão algum? Bem, olhem para o homem e a mulher como eram no princípio. Colocarei isto diante de vocês. Tornarei vocês membros do júri. Que defesa há para Adão e Eva, criados à imagem de Deus, no Paraíso, em perfeição absoluta, com a amizade e o companheirismo de Deus, com todas as bênçãos que qualquer um poderia desejar? O que fizeram? Deliberadamente se rebelaram contra Deus; desobedeceram-nO e colocaram sua própria vontade à frente da vontade dEle. Haveria qualquer desculpa para eles? Poder-se-ia oferecer algum argumento a favor deles?
Alguém pode alegar que o fizeram na ignorância. Mas isso não é verdade - eles foram avisados; foram prevenidos. Nada pode ser dito a favor deles. Não tinham como se desculpar, e não somente mereciam ser expulsos do Paraíso, como também destruídos total e eternamente.
Entretanto, o que dizer sobre os homens e as mulheres desde então? Bem, não seria exatamente a mesma coisa? O que pode ser dito a favor da humanidade? Qual a súplica à qual recorrer como um tipo de mitigação da sentença de Deus para com o pecado? Não podemos alegar ignorância. Ninguém poderá dizer: "Eu não sabia". O que Deus espera de nós está de forma muito simples e clara na Bíblia, bem como o estilo de vida que Ele quer que vivamos. Há os Dez Mandamentos. Eles têm sido conhecidos através dos séculos.
Mas, mesmo se Deus não tivesse dado a lei a Moisés, Seu servo, todos nós temos uma consciência, e nossa consciência nos deixa sem desculpa alguma. Em todos nós há um senso do certo e do errado, do bem e do mal, e todos nós precisamos confessar que, mesmo sabendo que algo era errado, ainda assim o fizemos, e mesmo sabendo que algumas coisas eram certas, ainda assim não as fizemos. "Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço" (Romanos 7:19). Temos, deliberadamente, desconsiderado a voz de nossa consciência. Temos rebelado contra este monitor interno que nos advertiu e nos condenou com antecedência. Portanto, não há desculpa.
E não somente isso, temos a história nos falando. Temos a história registrada na Bíblia, e a história secular também o confirma. Temos lido a respeito do que acontece com as pessoas e as nações que desobedecem a Deus. Está tudo aqui à nossa frente. Vimos o que aconteceu até mesmo com o próprio povo de Deus, os filhos de Israel, mesmo sendo eles a menina dos Seus olhos. Quando O desobedeciam, eram carregados para o cativeiro e sua cidade era destruída. Está tudo aqui diante de nós, na Bíblia. Vemos também isso no caso de grandes homens: pecaram e sofreram. Está tudo contido nas biografias; está em todo lugar. A experiência da raça humana nos diz que a vida pecaminosa é uma vida de insensatez; uma vida suicida, uma vida que leva à miséria e penúria, e por fim, desespero. Sabemos tudo isso, e mesmo assim, em detrimento desse conhecimento, ainda persistimos no erro.
Acima de tudo isto, porém, está a oferta graciosa do evangelho cristão. Apesar de nos termos desviado e de termos trazido nossos problemas sobre nossas próprias cabeças, Deus falou e disse: mesmo que você tenha feito isto, Eu o receberei de volta. Eu o perdoarei. Dar-lhe-ei um novo começo. Mandarei meu Filho para lhe salvar.
A oferta do evangelho está diante de nós. Mas o mundo a rejeita. Nosso Senhor, Ele mesmo, deixou isto claro nestes termos: "E a condenação é esta: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más" (João 3:19). Ora, aqui está a evidência. O evangelho nos está encarando, a luz veio, mas apesar disso, qual a atitude dos homens e das mulheres para com o próprio Deus? E arrogante e crítica; é uma atitude de desprezo.
"Se há um Deus," diz a pessoa moderna, "por que Ele não pára as guerras? Por que Ele não está fazendo isto ou aquilo?" Homens e mulheres se levantam e criticam a Deus, e se aventuram a colocar suas opiniões arrogantes diante dEle. Não seria essa a pura verdade? A despeito de tudo que temos considerado, eles não somente desobedecem a Deus deliberadamente como o fazem jactanciosamente, pensando serem espertos. E não somente isto, eles desafiam a Deus. Levantam-se contra Ele e dizem: "Que Deus faça o pior que puder; não temos medo". Eles pensam que estão no controle! E acima disso tudo, como já os lembrei, rejeitam a oferta graciosa de Deus no evangelho de Seu Filho amado. Então, o que poderia ser dito? Repito: que defesa pode ser apresentada a favor da raça humana? O que se pode dizer, como lenitivo, com relação à sentença de Deus sobre o pecado? O que pode ser dito para que Deus pare de punir homens e mulheres como merecem com "eterna perdição, ante a face do Senhor (2 Tessalonicenses 1:9)? Que bases para queixas poderia haver se Deus destruísse toda a raça humana como destruiu Sodoma e Gomorra?
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