Joãozinho estava descontente: sua pirâmide não se sustentava de bico pra baixo. Ele já estava tão cansado de ver aquela pirâmide marronzinha, que ficava de enfeite no seu quarto, ali sempre parada com a base na superfície da mesa. Aquele objeto não podia ficar assim a vida toda, sem se mover - era tão injusto vê-la naquela eterna posição de... pirâmide!
Nenhuma tática traçada por ele invertia ou perturbava a ordem do objeto. “Que merda, isso aqui não serve pra nada”. Até que o moleque pegou o enfeite, rodeou a casa toda e, quando desistiu da loucura, atirou-o com raiva contra uma parede da sala: acertou justamente um espelho valioso, que custou tão caro para a mãezinha dele. Ih! Joãozinho quase caiu de medo, pois sabia que a ordem da casa seria perturbada. Qual tática adotaria agora?
Para não deixar vestígios, o menino posicionou a pirâmide na mesinha do quarto como estava antes. A empregada nem tinha ouvido nada e a mãe dele, Sofia, já estava pra chegar do trabalho. O menino resolveu então aguardar a volta da mãe na porta de casa. Quando ela chegou, o garoto não perdeu tempo:
- Mãe, escutei um barulho estranho na sala!
Os dois entraram na sala e pegaram a jovem empregada na cena do crime, varrendo os estragos. A elegante dona da casa, que odiava “baixaria”, fitou, sem dar um pio, os estragos e a jovem. “ O que vai acontecer agora?”, pensava Joãozinho.
A mãe foi para o quarto aguardando uma satisfação da empregada. Algumas horas passaram e nada foi dito.”Se ao menos ela falasse alguma coisa. Como posso manter uma mulher assim em casa?”.
Depois de deixar alguns dias correrem, para não dar na pinta que o motivo fora a quebra do espelho, Sofia desempregou a jovem. Julgando-se solidária, deu umas cinco cestas básicas mais uns litros de leite para a desempregada. “Vou dar essas coisas porque seus filhos não podem pagar pelo erro da mãe”.
Já naquela época, Joãozinho vibrava com a tática dos black blocs contra a injustiça social.
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