ZECO, O ÓRFÃO
Capítulo IV
INTIMIDADES
Os dias voltaram a correr normalmente. Rodrigo cumpria fielmente o que prometera a Zeco sobre o que ocorrera na residência dele no sábado. Semana puxada, como muitos trabalhos e provas. Zeco, como era peculiar, sempre se destacava. Era uma quinta-feira e haveria exame de Educação Física. Antes de se iniciarem os testes, Paulo André foi taxativo:
- Hoje não quero disputas em torno de Zeco. É prova e os times eu os formarei e não aceito reclamações.
Ouvindo isto do professor, Zeco disse:
- Apoiado, professor. Deveria agir sempre assim. Perdoe-me a insolência de falar desta maneira, é que já estou exausto com tantas disputas em torno de minha pessoa. Perdão mesmo, certo?
- Fique tranquilo, Zeco. Nada há para desculpar.
Tudo ocorrera com tranquilidade. No final, Zeco pegou seus pertences para ir embora , no entanto Miriam, uma colega de classe, pediu para falar com ele em particular.
- Pois não, Miriam. Sou todo ouvidos!
-Nem sei, Zeco, por onde começar, estou nervosa...
- De quê se trata? –Zeco perguntou.
- Coisa minha e que passará a ser sua também – Afirmou Miriam – Estou com medo de relatar... ai, meu Deus!
- Posso ajudá-la, Miriam? – Pediu Zeco.
- E você sabe de quê se trata?
- Mais ou menos. Vou direto ao assunto, caso não seja o que estou pensando, desculpe-me...
- Está bem, ajude-me, por favor...
-Você quer me pedir em namoro, não é isto?
Miriam procurou um lugar para se esconder, mas não achou. Estava vermelha de vergonha.
- É isto ou não? –Insistiu Zeco.
Miriam tomou coragem.
- É... É isto mesmo. Quer me namorar?
Quem ficou agora numa situação desagradável foi Zeco. Ele aventurara o assunto, porém não tinha certeza se era realmente o que Miriam desejava falar.
- Sinceramente? Olha, posso até namorar você, contudo não são estes meus propósitos no momento. Minha cabeça fervilha de problemas, eu não seria neste instante um bom companheiro.
- Puxa! Está me dando um fora? – Reclamou Miriam.
- De forma alguma. Você é a garota mais bonita desta escola, gosto muito de você... é que o momento para mim é inadequado. Estou envolto numa série de problemas para que sejam resolvidos. Minha cabeça não vai encaixar-se bem entre nós agora.
- Posso saber do que se trata? –Quis saber a garota.
- Questões de família, minha amiga. Não gostaria de remoê-los neste momento.
- Você é tão lindo! Estou perdidamente apaixonada por você e faz tempo...
- Se você quer alguém ao seu lado que não se encontra preparado para dar-lhe a devida atenção de um namorado, então eu aceito!
Miriam estava pouco preocupada com este detalhe. Ela sabia que havia muitas outras com este mesmo objetivo na escola e estavam conspirando sobre o assunto, assim não deveria perder tempo.
- Eu não me importo. Sei que um dia tudo passa e eu o terei como desejo. Então, posso já considerá-lo meu?
- Pode!
Ali mesmo se abraçaram e deram o primeiro beijo. Não foi um beijo assim tão apaixonado, não obstante foi um beijo.
- Eu o amo, Zeco. Com tempo você me amará também...
- Farei força para que isto aconteça logo!
Despediram-se. Cada qual seguiu seu destino. Porém, antes de chegar em casa, Miriam pegou o celular e ligou para ele.
- Oi, Miriam, fala...
- Lembrei-me do trabalho de Geografia para amanhã. O professor disse que poderia ser em dupla. Vamos fazê-lo juntos?
- Ótima ideia! Espero por você amanhã bem cedo em minha casa. Faremos o trabalho juntos. Disse Zeco.
Na verdade, Miriam já havia o trabalho pronto, o que ela desejava era estar perto do namorado.
No dia seguinte, às 8 horas da manhã, Miriam era recebida por Zeco. Zeco acabara de acordar, estava de caução e sem camisa. A garota suspirou...
- Desculpe-me, Miriam, recebê-la assim. É que acabei de acordar.
- Não tem importância... Você tem um físico lindíssimo – Elogiou a garota.
- Ah, isto é bondade sua, são seus olhos apaixonados, nada mais...
- Nada disso – Confirmou Miriam – Nunca vi um garoto tão lindo quanto você. E o melhor, é que é meu...
Zeco sorriu. Quis abraçá-la e beijá-la, então lembrou-se de que nem havia ainda escovado os dentes.
- Espere-me aqui na sala. Vou subir, tomar um banho, escovar os dentes, pôr uma roupa adequada e já desço.
E pé ante pé subiu as escadas até seu quarto. Nem se ligou que deixara Miriam sozinha na sala e não se preocupou com a porta, deixou-a aberta. Despiu-se e entrou no banheiro. O banho estava uma delícia... Miriam, louca para vê-lo totalmente desnudo, não perdeu tempo. Com muito cuidado subiu as escadas e se deparou com a porta do quarto aberta. Pronto, era tudo quanto desejava. Entrou no quarto e ficou a observar Zeco tomar banho, recostada à porta do banheiro. Zeco nem percebeu a presença de Miriam ali... Tomava banho e cantava alegremente. Só se deu conta quando Miriam falou:
- Que corpo lindo e que linda voz!
Pego de surpresa, Zeco tentou esconder as partes íntimas com as mãos, porém era tarde... Miriam a tudo tinha visto e estava encantada.
- Que abelhuda que você é... você é doida, é? – Perguntou Zeco – Saia já daí, não lhe dei permissão para invadir minha privacidade.
Contudo Miriam não estava disposta a recuar.
- Que tolice! Você tem um corpo lindo, as partes íntimas são de fazer inveja a qualquer garoto. Você é meu namorado e não vejo nada demais em vê-lo assim.
- Mas eu vejo... Não fui educado desta forma, dentro deste esquema de libertinagem. Por favor, volte para sala, espere-me lá. Você foi afoita demais... Francamente, não gostei disto, não gostei mesmo.
- Como você é babaca! – Disse Miriam – Santo Deus!
Não tendo outra alternativa, Miriam retornou até a sala e lá esperou que Zeco descesse, o que não demorou muito. Logo veio e trajado adequadamente.
- O que você fez foi imperdoável – Afirmou Zeco – Não quero mais namorar você. Vá embora!
A garota não esperava por esta reação do namorado, ficou incontrolável.
-Perdoe-me, fui invadida por grande curiosidade, somente. Isto não mais se repetirá, prometo!
Zeco estava irredutível.
- Vá embora, eu faço meu trabalho sozinho.
- Zeco, pelo amor de Deus, perdoe-me... Não sei o que deu em mim... Perdi a cabeça, foi isso – Implorava Miriam, aflita.
- Perdeu a cabeça e o namorado. Sem chances, vá embora. Não quero problemas para mim, basta os que já tenho. Eu disse: vá embora e me esqueça!
Inconsolável, Miriam abandonou o recinto. No portão, ao despedir-se, pediu mais uma vez:
- Pense melhor, foi um ato impensado de minha parte, não se repetirá, eu juro. Eu amo você!
Zeco manteve a decisão.
- Pelo ato impensado, perdeu o namorado. Não há mais volta. Tchau!
E bateu o portão. Miriam voltava aos prantos para casa, arrependidíssima do que fizera. Súbito, um pensamento assanhou sua mente: “Deus meu, será que ele é gay?” Em dúvida, entrou em casa e buscou esquecer o incidente.
Zeco ficara chateadíssimo com o que acontecera. Com a mente atribulada, fez o trabalho e se arrumou para ir à escola. Almoçou no lugar de costume e logo estava a entrar no colégio. A primeira pessoa que encontrou foi Rodrigo e o chamou para conversar. Contou-lhe do que ocorrera, precisava do apoio do amigo.
- Sem dúvida, ela foi bastante libertina e atrevida. Mal começa o namoro e já põe as garras de fora. Você fez muito bem em não prosseguir, em seu lugar eu tomaria a mesma atitude.
- Obrigado, amigo, eu queria ouvir isso mesmo. Só uma coisa me preocupa...
- O quê? – Indagou Rodrigo.
- É que ela pode pensar que sou gay e, se assim o fizer, vai ficar chato para mim.
- Responda-me uma pergunta – Propôs Rodrigo.
- Diga – Disse Zeco.
- Você é gay?
- Claro que não! – Respondeu Zeco.
- Então manda Miriam ir catar coquinho...
Ambos riram a valer. Fazia tempo que Zeco não sorria daquele jeito, até ele mesmo ficou surpreso.
- Uau! – Falou Zeco – As coisas começam a melhorar para mim...
- Não compreendo – Asseverou Rodrigo.
- É que fazia tempo que eu não ria tão livre, tão espontâneo – Contou Zeco.
- Deus seja louvado! – Replicou Rodrigo – Manda mesmo Miriam ir catar coquinho...
E ambos tornaram a rir, desta vez até mais explosivos que antes...
Zeco descobrira em si que estava pronto para enfrentar o que viria pela frente. Houvera superado os últimos acontecimentos negativos em sua vida.
O sol iria brilhar ainda mais e a lua iria clarear suas noites de solidão.
FIM DO CAPÍTULO IV
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