“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram.” (Mt 7:13,14)
Os dois casais ainda cruzaram pelo sábio e seu amigo quando perceberam um grande tumulto. Vozes desesperadas gritavam desconexas. Pessoas corriam sem saber o que estava acontecendo. O desespero comandava toda a cena.
Mais tarde repórteres procuraram sofregamente levantar os fatos para compreender a tragédia ocorrida naquele princípio de tarde. “Bala perdida: Tragédia Grega” viria a ser uma manchete. “Nem no Shopping há segurança”, estampava outro jornal em sua primeira página. “Sangue derramando, pacotes abandonados”, fez menção um jornal mais sensacionalista.
O simples, quando percebeu o tumulto, tombou no chão como que levado por uma golfada de ar. Sentiu um estranho peso sobre si, sem compreender ao certo o que se passava. Sabia apenas que seu estomago revirava, sem saber se por causa da comida ou pelo cheiro do sangue, não sabia de onde, ou uma mistura dos dois.
Uma testemunha contou depois que tudo fora muito rápido. Ao sair do Shopping percebera pessoas desesperadas correndo de um lado para o outro, sem direção. Pouco antes ela ouvira uma saraivada de tiros. Não sabia quantos tiros foram disparados. Ela só sabia que gritara histericamente – Meu Deus! Diante dela um homem tombara, depois vira, ferido por uma bala perdida.
De longe uma mãe agoniada gritava o nome de seu filho – Mauro! Mauro! Não se sabe ao certo se influenciados por filmes ou habituados com a violência, muita gente estava deitada no chão, esperando aquela tempestade passar. De longe se ouvia o ruído da sirene, não se sabia se da polícia, do corpo de bombeiro ou de alguma ambulância. Pelo tempo era mais certo ser a polícia.
Caído sobre o simples, um corpo grotescamente se contorcia, como perdendo seu alento de vida. A última coisa que o sábio se lembrara de clamar fora – Jesus! Ele não sabia ao certo se vivia ou morrera. Sentia algo pegajoso escorrendo do lado, foi com custo que percebera sangrar. Ele não entendia ao certo o que se passava, até que num "flash" lembrara que lera tempos atrás acerca da morte por uma bala perdida de uma professora na Bahia. Na época o repórter relatara que ela fora atingida enquanto dava aula. Escrevera o repórter:
“A professora Isabel Perez, 39 anos, foi atingida na panturrilha direita por uma bala de pistola quando dava aula em uma das salas da Escola de Serviço Social, no Campus da Federação. No local, havia 54 alunos, que, assustados, se jogaram ao chão. Isabel Perez foi medicada em um posto médico do estabelecimento e levada para casa.” (1)
– Não é possível estar acontecendo comigo, pensou em meio a uma dor terrível. O Sábio não compreendia como, mas a única palavra que lhe vinha à mente era:
“Declarou-lhe Jesus:
Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11:25)
De algum modo a lembrança desta palavra lhe fortaleceu na esperança. – Hei! Dizia o simples – Você está ferido! Socorro, ajude-me! Gritava desesperado. Foi quando ouviu quase um murmurar – Amigo, ouça! Apenas diga a minha esposa – Jesus está comigo, sussurrava o sábio agoniado. Então seu corpo relaxou, esvaindo sua vida.
Nada supera a dor da morte. Não a dor do que morre, mas dos que ficam, a dor da separação, a dor da solidão, a dor da impotência, a dor da fragilidade humana diante das circunstâncias adversas. Ninguém pode dizer o que lhe sucederá no minuto seguinte, impossível saber que a morte está à espreita. A morte não faz caso de quem quer que seja, quando surge, leva.
A morte é um inimigo vencido na vida de todo que confia no Senhor, diz a palavra de Deus (I Co 15:55), contudo esta mesma palavra diz que o justo perece antes do ímpio e ninguém faz caso da grandiosidade da misericórdia de Deus (Is 57:1). Nunca se saberá nesta vida quando chegará a hora de prestar conta ao Criador, todavia todo aquele que, em arrependimento, entrou sua vida a Jesus Cristo, a morte não tem mais poder sobre ele.
Nesta hora, longe dos olhos de todo vivente, o sábio compreendera porque a porta era tão estreita, porque a porta era minúscula como aquela tipo casinha de rato de tão pequena que era. Por esta porta só passava aquele que, ao esvair-se de sua vida, sentia sua alma conduzida pelo sopro do Espírito de Deus (Jo 3:8), isto porque o corpo vai ao pó e o espírito volta a Deus que o deu (Ec 12:7). Como cercado por uma milícia celestial o sábio entrara no seio de Abraão (Lc 16:22), subindo com asas como águia (Is 40:31), aguardando o dia em que seu corpo haveria de ser remido (I Ts 4:16). Nesta perspectiva se compreende a fala de Jó:
“... Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor.” (Jó 1:21b)
Nesta perspectiva se compreende a loucura deste mundo:
“Disse então:
Farei isto:
derribarei os meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os meus cereais e os meus bens; e direi à minha alma:
Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te.
Mas Deus lhe disse:
Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.” (Lc 12:18-21)
Fica a pergunta: Se hoje Deus pedir conta de sua alma, como dará conta dela a Deus?
|