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A GARÇA FURIOSA
garçca
Ismael Monteiro

Resumo:
É um conto sobre um garça nervosa.

A GARÇA FURIOSA
      Emotildes era uma garça toda branca, daquele tipo sobranceiro. Ela geralmente, gostava de viver em bandos, junto à família, a quem prezava muito.
      Desde cedo, Emotildes queria conquistar o mundo, queria trabalhar, tinha um grande coração, espargia bondade em todos os quadrantes. Outros animais que conheciam Emotildes, achavam que a mesma exagerava em sua bondade. Porém, ela nem se incomodava, - estava sempre certa, pensava ela.
      Numa bela manhã conheceu Astrakão, um misto de corvo ciumento com coruja mal resolvida, por quem Emotildes acabou gostando e se casou. Toda a floresta lhe prestou homenagens. A Girafa Clotilde lhe trouxe um quilo de frutas. O Elefante Timoteo, um quilo de sabão em pó esbranquiceiro. A Pata Patuska lhe deu uma escova para tirar o pó, e assim por diante.
      Porém, a vida de casada trouxe dissabores à Emotildes. Ela percebeu logo cedo que Astrakão gostava da vida noturna e voltava para casa tarde. Porém, a garça não desanimou e teve duas lindas garcinhas com ele: Fenilafina e Danusca.
      As poucos Astrakão foi se dedicando mais à vida noturna do que à do lar, e não restou outra alternativa a Emotildes senão divorciar-se. Por causa disso, houve grande comoção na floresta. Era um horror. Nunca um casal de bichos havia se separado! A notícia correu mundo afora! Parece que Emotildes foi a primeira a separar-se na floresta.
      Mas a vida continua. A Garça não se separou de suas filhas queridas, as quais deu todo apoio. Para poder suprir as necessidades do lar, Emotildes foi trabalhar numa dessas "Casas de Sangue" que recentemente se estabeleceu na floresta. Ela era uma espécie de enfermeira, inclusive nem precisava usar a roupa branca, pois já era branca por natureza. O que ficava difícil para Emotildes era usar uma máscara em seu bico para evitar contágios. Ela improvisou: acabou serrando seu longo bico e colocou uma espécie de parafuso ao lado, de modo que podia tirar e recolocá-lo em qualquer situação. Todavia, quando estava sem bico, parecia uma filhote de crocodilo com cobra d'água, era horrível!
      Um belo dia de sol conheceu Iscapalel, um Condor que habitava uma outra floresta. Imediatamente, Emotildes apaixonou-se! O Condor também! Parecia um sonho! Quando se encontravam era só alegria, paixão, flores... Facilmente podia perceber-se que havia amor entre os dois. Por outro lado, Astrakão revoltou-se contra a Garça, - quero matá-la dizia ele. Ela porém, não se intimidou. O ex-marido ciumento continou fazendo peripécias e ameaças: telefonemas anônimos, perseguição da garça, etc. etc. A medida que esta situação progredia, o amor entre Iscapalel e Emotildes continuava forte!
      Como se diz que o amor sempre triunfa, Astrakão teve que afastar-se, para grande alegria do casal.
•     Ufa, diziam os dois, agora podemos ficar em paz!
Um certo dia, Emotildes tirou férias de seu emprego e queria viajar, conhecer outros animais, contar sua história de vida e enfim, divertir-se! Iscapalel que também estava em férias, planejou uma viagem à Praia. A Garça ficou feliz: - Viva, viva, vou comer todos os peixes do mar!
Com toda essa felicidade no peito os dois seguiram para uma praia, onde alguns parentes de Emotildes residiam. Chegando lá, a Garça parecia um acordeão aberto de tanto rir. Seus parentes lhe abriam as asas felizes, afinal era uma visita inédita.
   Emotildes tinha três sobrinhos que no passado criara: o mais velho se chamava Bano, o outro Baninho e o mais novo Bananinho. Era um trio bastante típico e amavam a sua tia Garça.
        Estava aberto assim, o festival de emoções. Emotildes, milongueira que era, passava o tempo todo junto aos parentes trocando carinhos, lisonjas etc.
        Passados alguns dias, Iscapalel resolveu voltar, mas Emotildes queria ficar. Eis aí o ponto da discussão. Iscapalel insistiu e a Garça sentiu-se toda ofendida mas voltou junto.
        Chegando a Curitiba, eis que Iscapalel esqueceu-se de ligar para Emotildes, que revoltou-se com aquela situação e um belo dia foi visitar seu amado toda cheia de raiva...brrrrr....
        Chegando a estrebaria de Iscapalel, Emotildes teve que esperar, esperar, ruminava de raiva.
        Quando Iscapalel chegou começou a pugna: - Onde esteve? Que fazes? Você se apaixonou por uma vaca amarela? Ou foi uma girafa cinza? Você quer me enganar? Acha que tenho uma placa de besta na testa? Estou cansada. Você estragou minhas férias. Estou com raiva, raiva, raiva. Vou morder sua orelha! Cortar seu rabo! Depená-lo! Buf, Buf!
O Condor permaneceu estático! Puxa, ainda não conhecia esse lado da amada. Mas, aquietou-se! Porém, a carga recomeçou e a Garça queria acabar com ele! Ameaçou inclusive de se atirar pela janela!
Tanta encenação e Emotildes sentiu-se fraca. Parecia um resto de trombada. Estava tensa. Vendo que não podia fazer nada, pois seu Condor não retrucou, ela acabou se acalmando, tomando inclusive uma dose extra de capim que recebera de seu amado!
- Mas, eu não gosto de capim! Disse-lhe ela! - Gosto de lingüiça, charque, petiscos!
E aquela situação continuou. De repente, uma pulga brilhante que passava por ali, percebendo toda aquela confusão, exclamou: - Puxa, Garça pare de inventar, não fique nervosa pois tudo isso logo passa. – Relaxe, faça meditação!
Emotildes, parece que aquiesceu-se e conseguiu cochilar! Ela teve um sonho: era uma fada toda branca e só semeava e queria a paz entre todos! Ao acordar, um sorriso de soslaio passava-lhe o bico. Estava feliz! Nunca mais brigaria ou morderia alguém.


Biografia:
Sou pesquisador científico há vários anos e possuo conhecimento sobre diversas áreas.
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