Augusto estudava Literatura e era ativista numa ONG pró-direitos humanos. Não era do tipo articulista como Ulisses da Odisseia, seu coração era mais Aquiles, ou seja, incorruptível. Incrédulo sobre os rumores de um pacto entre o “armistício poético” e uma “moderna censura”, permaneceu alheio aos bastidores para não corromper sua alma libertária. Infortunadamente, a isonomia é arbitrária e prolixa nas mãos de intelectualóides saudosistas do militarismo. A academia nivela a literatura à pretensa egolatria de professores e ao mercado, ambos com duvidosa seleção ideológica de interesses. Um invólucro estético que se sobressai ao conteúdo, um preconceito enamorado com o fascismo. Com a palavra a academia:
- Lamentavelmente, o seu trabalho é esteticamente pobre. Drummond e Vinicius de Moraes são os únicos expoentes da poesia e do canto, que nos dizem algo adulto e revolucionário.
Ouvia isso com mútuo desinteresse, enquanto uma mosca se afogava no copo desse orador sem nome, que degustava um amargor em goles diuréticos entre assuntes e sandices, ininterruptamente falados com os pés. Pegou suas anotações com cheiro de pólvora e gás lacrimogêneo; saiu, e pensou com o estômago. Adentrou num lugar cujo nome era de um inglês indecifrável: nunca vira tantas apóstrofes...
Ainda ferido no calcanhar, retira a flecha e pensa em Henry IV de Shakespeare: O, gentlemen, the time of life is short!… An if we live, we live to tread on kings.”Em português soa melhor pelo contexto "Senhores, a vida é curta, se vivemos, vivemos para cortar as cabeças do reis". Lembrava do trabalho na ONG que aos poucos esvazia o celeuma do espírito guerreiro.
Lembrou-se de outra frase do Drummond, hoje parte do cânone, que corrobora com seu pensar: As academias coroam com igual zelo o talento e a ausência dele. E enaltecem a forma em detrimento ao conteúdo, se o Vinicius vivia a sua poesia, e Drummond, fora dela. O que deixar para o Ferreira Gullar militante, preso pelo DOPS? Refletia em intervalos de balbucia.
-Um sanduiche integral e um suco de laranja tem mais sabor que a caquética academia consumida pelo Alzheimer...
A voluptuosidade em pessoa, não o Fernando Pessoa, vai à sua direção: Loira, olhos verdes, com uma blusa vermelha estampada com a face do Che Guevara, empunhando de relance um livro do Gramsci e pede pela cadeira que sobra na mesa.
Augusto/ Aquiles: - sim.
-Moça, tortura nunca mais!
-O que?
- Moça, nunca o conteúdo e a forma teceram tamanha junção!
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