Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
A BONECA DE SOPHIA - PARTE IX
EMANNUEL ISAC

O chefe de polícia continuava a examinar o rosto de Marcelo. O policial que havia caído com o susto que tomou, foi até ele e perguntou:

          - O senhor já viu uma coisa dessas? Quando?
          - Sim! Há muito tempo atrás, quando entrei na polícia!
          - E conseguiram descobrir o que tinha acontecido com a vítima? – Perguntou o policial interessado no caso;
          - Na época, surgiu o boato de uma velha senhora que mexia com magia negra, vodu ou algo parecido assim. Quando chegamos na casa onde ela morava..., - O chefe de polícia fechou os olhos e respirou fundo. O agente Bruno esperou em silêncio que ele concluísse a fala;
          - Encontramos sete corpos de meninas, entre os cinco e sete anos de idade, com os rostos iguais a este – Apontou para o rosto do morto – estavam todas dentro de um círculo desenhado no chão, sobre a figura de uma cruz de ponta-cabeça, sem uma gota de sangue no corpo!
          - Caralho chefe! Mas vocês pegaram a velha, ou quem fez aquilo com as meninas? – Perguntou Bruno;
          - Testemunhas informaram que no dia anterior ao qual chegamos na casa, viram quando duas mulheres jovens saíram às pressas, carregando uma boneca grande nas mãos!
          - Uma boneca...? Mulheres jovens...? E a velha...? – Bruno já estava envolvido completamente na estória;
          - Levei tempo para entender também, o que haveria de tão importante em uma boneca. Comecei a pesquisar sobre o assunto e descobri, que às vezes, essas pessoas podem usar animais, objetos e até mesmo bonecas, para realizar um ritual!
          
          O chefe de polícia Viegas, continuava a olhar para o corpo inerte de Marcelo, quando uma senhora passou pela porta do quarto e parou; olhou para o teto e depois para o piso onde estava a poça de sangue deixada pelo corpo de Marcelo, e começou a gritar:

                         - BILOXIH! BILOXIH!
     
                         Os policiais que estavam em pé na porta, dentro do quarto, seguraram-na pelo braço e já estavam a levando para fora, quando o Chefe falou:

                         - Espere! Espere! – Eles largaram a senhora;
                         - O que a senhora estava dizendo mesmo? – Perguntou Viegas se aproximando da mulher;
                         - BILOXIH! Isso só pode ser obra dele! – A mulher falava com os olhos arregalados, como se estivesse apavorada com alguma coisa prestes, a atacá-la;
                        - Senhora..., quem é ou o quê é Biloxih? – Perguntou Viegas, a segurando pelo braço. Precisou sacudi-la levemente para que ela voltasse ao mundo dos vivos;
                        - Ele ainda está aqui! Tenho que sair daqui! Você tem que sair daqui! – Livrou-se das mãos do chefe de polícia sem dificuldades.

          Viegas olhou para as mãos que pareciam queimar. Deu ordens aos peritos que recolhessem os corpos para o IML, chamou Bruno e saiu atrás da mulher...
   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

                         ... Norma olhava para o rosto da mulher com espanto! A mulher sorriu e se aproximou. Éster a segurou pelo braço e falou:
                         - Precisamos dar início ao ritual, antes que seja tarde demais!
                         - Você tem razão! – Concordou ela com Éster;
                         - Não! Vocês não vão fazer mais nada com minha filha! – Norma começou a se afastar com Sophia nos braço;
                         - Você chegou até aqui e agora vai desistir de salvar sua filha? – Éster apontou para Sophia nos braços de Norma;
                         - Vocês nem sabem se vai dar certo! Você mesma me disse que...
                         - O que conversamos no carro? Você tem que confiar em mim! – Disse Éster para Norma, segurando em suas mãos;
                         - Mas..., como isso é..., possível???- Norma olhava para o rosto da mãe de Éster;
                         - É melhor não saber! Eu juro que é melhor você não saber mesmo! – Disse Éster para ela.
                         A velha, agora com o rosto rejuvenescido, entrou no quarto e voltou em seguida carregando uma mala preta com uma cruz vermelha, em volta de um laço. Mandou Éster fechar a porta e arrastar a mesa e a única poltrona que havia na sala, para o canto. Estendeu no chão um tapete quadriculado em preto e branco, com a figura de BAPHOMET, ao centro.              

                         Em uma ponta do tapete colocou um ACRATÓFORO**, e entre as pernas de BAPHOMET, um pilão pequeno feito com ossos humanos, mas que somente ela e Éster sabiam de sua origem:
          
                         - Vá buscar os ingredientes para fazer o CUXÁ! ** * - Disse ela para Éster;
          Éster sumiu por uma portinha pequena. Norma observava a mulher arrumando no chão da sala, aqueles objetos. Cansada, resolveu sentar na poltrona que Éster havia arrastado para o canto, quando sentiu o celular no bolso de trás da calça; Hélio! Meu Deus! Exclamou sozinha. Puxou o celular do bolso, e discou o número de casa...

***CUXÁ: Molho feito com folhas de caruru-azedo - Arbusto herbáceo, da família das malváceas (Hibiscus sabdariffa), cujas flores, sésseis, axilares, solitárias, róseas ou purpúreas, com máculas escuras e cálice muito carnoso, são usadas no preparo de geléias, doces e xaropes, e cujo fruto é cápsula vermelha; as folhas são comestíveis.
               xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx          ... Nênia ainda gritava quando viu aqueles braços esqueléticos, passarem através do espelho em direção ao pescoço de Hélio, que estava paralisado pelo medo. Correu e puxou o sobrinho pela camisa, fazendo com que os dois acabassem no chão. Olhou novamente para o espelho, e agora, aquele corpo cheio de feridas, com buracos e carne pendurada nas costelas, saia rastejando de dentro do espelho, sendo seguida por outros seis corpos iguais ao dela.
          
                          Nênia, mesmo com terror no olhar e pavor, pode observar que todos aqueles corpos eram de meninas. Levantou do chão e puxou Hélio com ela, saindo de dentro do quarto. Começou a descer as escadas, quando viu que alguma coisa parou no pé das escadas e olhou para cima; Nênia viu dois pares de olhos vermelhos brilharem e um grunhido agudo chegar aos seus ouvidos, fazendo ela recuar.                                                        
                   Hélio gritou quando viu que aquelas meninas rastejavam para fora do quarto, indo em sua direção. Nênia parou e se viu encurralada. Segurou firme na mão de Hélio e falou:
          - Vamos ter que descer as escadas e pular quando chegar lá embaixo!
          - Eu estou com medo tia! – Hélio choramingava e tremia com os olhos fechados;
                - Hélio! Olhe pra mim! Abra os olhos Hélio! – Nênia gritava com o sobrinho. Ele abriu os olhos;
          - Vamos descer as escadas correndo e quando chegar perto do último degrau, vamos pular! Entendeu? – Norma correu puxando o sobrinho, escadas abaixo.

          As meninas começaram a rastejar pelas escadas, deixando pedaços de carne, espalhadas pelo chão e o morto-vivo a subir. Nênia chegou no penúltimo degrau e pulou o corrimão. Sentiu quando a mão de Hélio lhe escapuliu. Caiu de mau jeito, torcendo o pé, e com dificuldades, chegou até a porta, achando que Hélio estava logo atrás dela. Olhou para a escada e viu quando o sobrinho tentava se livrar de duas mãos que o seguravam pelas pernas.

          Nênia gritou pelo nome do sobrinho. Hélio conseguiu se livrar daquelas mãos que feriam as sua pernas e subiu no corrimão. Nênia respirou aliviada ao ver que o sobrinho estava prestes a pular para o meio da sala, quando viu que uma das meninas deslizou sobre o corrimão e abraçou Hélio no exato momento que saltava, fazendo ele cair para trás, na escada e rapidamente, sendo envolvido pelas outras meninas:
          - Não! Hélioooo! – Gritou mais uma vez;

          Tentou voltar, mas no chão da sala começaram a surgir buracos, onde ela pode ver mortos vivos querendo sair daquele abismo que começava a se formar bem à sua frente. Ouviu ainda o sobrinho chamar pelo seu nome e o som de sua voz, sumir aos poucos, como se estivesse sendo repetida por um eco.
          
                          Ouviu o telefone tocar, e atendeu a extensão que ficava na parede perto da porta, a onde ela estava:
          - Alô! Norma..., é você? – Perguntou assim que reconheceu a voz de sua irmã do outro lado da linha;
          - Nênia? Aconteceu alguma coisa pra você estar ai em casa? Cadê o Hélio?
          - Você não vai acreditar! – Nênia começou a chorar;
          - Tem algo diabólico acontecendo aqui na sua casa!
          - Nênia, cadê o meu filho? – Insistiu Norma na pergunta;
          - Eu não sei! Alguma coisa levou ele! – Gritou desesperada ao telefone;
          - Do que você está falando Nênia..., que coisa..., quem levou meu filho? – Norma começou a desesperar-se;
          - Eu não sei! – Repetiu Nênia;
          - Aquelas coisas começaram a surgir depois que eu tirei a cama de cima dos símbolos no quarto das crianças e...
          - Que coisas Nênia..., que símbolos???
          - Nênia? Alô! Nênia? – O telefone ficou mudo...
                      xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

          ... O chefe de polícia alcançou a senhora já na porta de saída do hospital:

          - Espere senhora! Como é que sabe de tanta coisa e quem é BILOXIH?
          - Aqui não! Precisamos ir pra minha casa! – Disse ela, caminhando rapidamente;
          - Eu levo a senhora! Acho que temos muito, o que conversarmos! – Viegas fez sinal para Bruno ir buscar o carro.

          Em pouco tempo Bruno manobrou o veiculo, o chefe de polícia abriu a porta traseira para a mulher e entrou no banco do carona:
          - A onde a senhora mora? – Perguntou ele, virando-se para trás no banco;
          - Estrada da Jaqueira, Vila Escorpião!
          - Não é nesse lugar que as pessoas tem medo de entrar? - Perguntou Bruno;
          - Como assim? – Quis saber Viegas;
          - Dizem que os moradores de lá, mexem com magia negra! – Completou Bruno. Viegas olhou para a mulher sentada no banco de trás;
          - Você está certo meu filho! – Disse ela para Bruno;
          - Mas depende de como você usa seus conhecimentos e para qual finalidade!

          Não demoraram e logo chegaram no local indicado pela senhora. Passaram por uma estrada de terra batida, com casas, em sua maioria, com suas fachadas, em vermelho ou preto, e distantes uma das outras. Bruno seguia pelo caminho que a mulher ia indicando, até chegarem em um casebre velho, na beira do rio.

          A senhora nem esperou que o chefe de polícia lhe abrisse a porta; saltou para fora e rapidamente se dirigiu para a casa. Entrou, sem dar importância para os dois policiai que estavam com ela. Viegas e Bruno subiram as escadas do alpendre e pararam na porta; assustaram-se quando a mulher surgiu novamente na porta e perguntou se eles não iriam entrar.

          Viegas entrou primeiro, logo depois Bruno. Olharam para as paredes da casa e notaram vários quadros de ocultistas, pendurados nelas. Começaram a olhar para as imagens daquelas pessoas no quadro e a lerem seus nomes embaixo: JOHN DEE ASHMOLEA, ALEISTER CROWLEY, MARCELO DEL DEBBIO, MADAME BLAVATSK e ELIPHAS LÉVI, o responsável pela divagação da imagem de BAPHOMET.

          Viegas e Bruno estavam distraídos, olhando os quadros, quando a mulher voltou com uma bacia de água e um pano preto. Colocou no meio da sala e falou:

          - Vocês tem que lavar as mãos e os pés! – Apontou para a bacia;
           - Calma ai minha senhora..., ninguém aqui, vai fazer nada até a senhora nos explicar e dizer qual a razão pra tudo isso, e quem é esse tal de BILOXIH!
          - É por esta razão que vocês estão aqui! Mas não posso falar nada, enquanto não fizerem exatamente o que eu falei! Ou preferem morrer? – Falou seriamente, olhando o chefe de policia nos olhos.

          Bruno ao ouvir a mulher pronunciar: “preferem morrer”, foi o primeiro a tirar os sapatos e colocar os pés dentro da bacia. Viegas ainda meio desconfiado, retirou os sapatos com calma e colocou os pés dentro da água. A velha senhora se abaixou e derramou um líquido vermelho e viscoso, que Viegas logo percebeu, se tratar de sangue.

          Começou a pronunciar umas palavras sem sentido, e um a um, foi enxugando os pés, dos dois policiais. Levantou e derramou a água no chão da sala, indo sentar em uma cadeira de balanço, de frente para Viegas:

          - Vocês dois não sabem, mas entraram em um beco sem saída!
          - Como assim? Do que a senhora está falando? – Perguntou Viegas;
          - Aquele homem morto lá no hospital, é apenas uma peça do quebra cabeça do ritual!
          - Que ritual minha senhora? Pode nos explicar melhor?
          - Aquilo no hospital, foi obra de BILOXIH! – A mulher balançava-se na cadeira, com o olhar distante, como se os dois policiais não estivessem presentes ali;
          - A onde podemos encontrar esse tal de BILOXIH, senhora? – Bruno perguntou, sem nem mesmo saber de quem se tratava;
          - Você não encontra BILOXIH, ele é quem te encontra!
          - Olha, já chega! Se vai nos falar por qual razão nos trouxe aqui, tudo bem! Mas se não..., nós já vamos porque temos um duplo homicídio para investigar! – Viegas explodiu sem paciência, ficando em pé e se dirigindo para a porta de saída. Bruno o acompanhou no movimento;
          - BILOXIH, é o demônio do subsolo que controla a corrente de almas para o inferno. Quanto mais almas vão para o inferno, mais forte ele fica! – A mulher falou calmamente.

          Viegas já estava com a mão na maçaneta da porta. Parou com o braço estendido para a porta, e foi virando lentamente para a mulher que continuava a se balançar na cadeira, tranqüila. Deu meia volta e sentou novamente em frente a ela. Bruno parado estava, em posição de estátua continuou...
   Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

          ... Norma ao ouvir o telefone ficar mudo, começou a tremer as mãos. Olhou para a filha em seu colo e para a mulher no chão, que continuava a preparar tudo para o ritual. Colocou Sophia na poltrona e foi atrás de Éster.

          Entrou pela porta que vira Éster passar, e começou a caminhar por um corredor escuro. “não imaginei que esta casa pequena tivesse um corredor tão comprido”, pensou consigo mesma. Avistou uma luz fosca ao fundo, e foi caminhando em direção a ela devagar, ouviu vozes e pensou que Éster estava conversando com alguém. Chegou no lugar de onde emanava a luz, mas não viu ninguém. Foi quando olhou para frente e pode perceber uma luz com um brilho amarelado. Aproximou-se e viu quando Éster, sentada sobre seus joelhos e em frente a um grande espelho, dizia:

          - Vocês já voltaram minhas queridas?...

Número de vezes que este texto foi lido: 61649


Outros títulos do mesmo autor

Poesias CACHOS EMANNUEL ISAC
Poesias GUERREIRA EMANNUEL ISAC
Poesias REENCONTRO EMANNUEL ISAC
Poesias SILÊNCIO EMANNUEL ISAC
Poesias S O L I D Ã O EMANNUEL ISAC
Poesias MINHA METADE EMANNUEL ISAC
Contos FETICHE EMANNUEL ISAC
Poesias I N C Ó G N I T O EMANNUEL ISAC
Contos O MENINO DO PARQUE - PARTE I EMANNUEL ISAC
Contos O MENINO DO PARQUE - PARTE FINAL EMANNUEL ISAC

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 111.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Os Dias - Luiz Edmundo Alves 63162 Visitas
Jornada pela falha - José Raphael Daher 63109 Visitas
O Cônego ou Metafísica do Estilo - Machado de Assis 63022 Visitas
Namorados - Luiz Edmundo Alves 62948 Visitas
Negócio jurídico - Isadora Welzel 62941 Visitas
Viver! - Machado de Assis 62906 Visitas
Insônia - Luiz Edmundo Alves 62904 Visitas
A ELA - Machado de Assis 62844 Visitas
PERIGOS DA NOITE 9 - paulo ricardo azmbuja fogaça 62833 Visitas
Eu? - José Heber de Souza Aguiar 62766 Visitas

Páginas: Próxima Última