No meu laboratório doméstico fiquei analisando o vocabulário do meu filho de doze anos e sua tribo. Tem um dos índios que em cada frase coloca no mínimo dois: tá ligado. Tem também o tipo assim, direto, man, ô meu.
Sei que quando jovens usamos muitas gírias, roupas parecidas, gostamos do que nossos amigos gostam. É legal, dá segurança.
Mas além das limitações da escrita que o MSN permite e eu não dou conta de corrigir agora mais a comunicação oral para atormentar.
Não resisti, chamei o amigo para uma conversa.
- Mateus, não quero interferir no teu modo de ser, aprovo que tenhas amizade com meu filho, mas não achas que usas muito, tá ligado?
- Pois olha Ana, tá ligado, eu nem me dou conta, tá ligado.
Bom, a conversa aprofundou e os “tá ligado” até diminuíram.
Ele provou ser bom na argumentação, e que está bem no colégio. Ele acredita que os adultos também usam suas gírias e enchem a paciência repetindo-as até na TV. Referindo-se ao “na verdade”. Expliquei que “na verdade” não é gíria, é uma locução adverbial que quer dizer "realmente, certamente, de certo, por certo". Já usada há muito tempo. Machado de Assis já usou no romance D. Casmurro: “Na verdade, Capitu ia crescendo às carreiras”. E no conto Uns braços: “Na verdade, eram belos e cheios, em harmonia com a dona, que era antes grossa do que fina, e não perdiam a cor nem a maciez por viverem ao ar;”.
Muitos outros autores já usam há muito tempo.
Agora está na moda, os repórteres usam nas entrevistas da TV. É usado em diálogos informais e discursos acadêmicos. Os políticos usam muito. O que para alguns se faz necessário, pois existe também o “na mentira”.
Concordamos finalmente que tudo que é demais atrapalha, e que falar e escrever corretamente requer estudo diário. Cometer erros não deve ser motivo para desistir ou ficar acanhado. Corrigir com educação contribui mas usar o conhecimento para constranger está completamente por fora, é preconceito lingüístico.
MORFOLOGIA E SINTAXE
amor gramatical,
ele interrogação
ela ponto final
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