A pessoa de Cristo é o efeito mais glorioso e inefável da sabedoria, graça e poder divinos e, portanto, é o fundamento de toda religião verdadeira e culto aceitável.
Tudo isto depende de se ter a Deus como o nosso Deus, que é o primeiro de seus mandamentos. Porque a religião e a adoração pertinente à mesma, nada mais é do que a honra devida pelas criaturas racionais à natureza divina, e suas excelências infinitas.
Isto é a glorificação de Deus, como Deus; pelo modo de se expressar essa honra sendo regulada pela revelação de sua vontade.
De todos os efeitos da manifestação exterior das excelências divinas, a constituição da pessoa de Cristo, como o fundamento da nova criação, como "o mistério da piedade", foi a mais inefável e gloriosa.
Ele é a sabedoria essencial e o poder do próprio Deus. Mas falamos dele apenas como encarnado, quando ele assumiu a nossa natureza para subsistirmos pessoalmente com ele.
Sua concepção no ventre da virgem e a integridade e perfeição da natureza humana, foi o resultado de uma operação milagrosa do poder divino.
Aqui Deus glorifica todas as propriedades da natureza divina, agindo de uma maneira de infinita sabedoria, graça e condescendência.
As profundidades do mistério desta operação estão abertas apenas para ele, cuja compreensão é infinita, pois nenhum entendimento criado pode compreender.
Todas as demais coisas foram produzidas e realizadas por uma emanação exterior do poder de Deus. Ele disse: "Haja luz, e houve luz." Mas este assunto da nossa natureza humana em união com o Filho de Deus, essa constituição de um único e mesmo indivíduo em duas naturezas tão infinitamente distintas como a de Deus e a do homem - através do qual o Eterno foi feito no tempo, o Infinito se tornou finito, o Imortal mortal, e ainda continuando eterno, infinito e imortal - é isto a expressão singular da divina sabedoria, bondade e poder, no qual Deus será glorificado e admirado por toda a eternidade. Por isso assim se expressa o apóstolo: “Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória.” (I Tim 3.16).
Um mistério que é dessa dimensão nenhuma criatura pode compreender.
Quando Cristo encarnou ele não deixou de ser o que era (João 1.14). Não houve qualquer mudança de sua própria natureza ou essência.
Tradução e adaptação de breves citações do tratado de John Owen sobre Cristologia, realizadas pelo Pr Silvio Dutra.
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