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PERFIL DE BENTO XVI
Similaridades entre Wojtila e Ratzinger
Valdivino Pereira Ferreira Godinho

Resumo:
Breve perfil acerca do atual pontífice e sucessor do Papa João Paulo II, Josef Ratzinger - Bento XVI.


A visita do papa ao Brasil se aproxima e nada mais apropriado do que comentá-la em minhas crôncias, traçando pobremente um perfil—, inacabado mas isento—, do novo ocupante do sólio sumo-episcopal, cuja sede fica no Vaticano, SS. o Papa Bento XVI—, título atual do cardeal Ratzinger. Sucessor do grande e jamais esquecido Karol Józef Wojtyła (*18.05.1920, Polônia—†.02.04.2005, Vaticano), que subiu ao trono com o título de João Paulo II e governou do ano de 1978 quando foi eleito, até o ano de 2005 quando faleceu.
Bento XVI, nascido Joseph Alois Ratzinger, (*16.04.1927, Alemanha—) foi eleito Papa pelo Sacro Colégio dos Cardeais no conclave do dia 19 de Abril de 2005, com a idade de 78 anos e três dias, e é atual pastor e Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana.
Creio não ser fácil suceder um papa da magnitude humana e intelectual de João Paulo II, de diálogo fácil com a juventude e a velhice, e de posições pendularmente tendenciosas à concialiação doutrinária. Sua via de diálogo para com as demais igrejas ramificadas do credo Católico, Bizantino, Oriental, e outros ramos da fé ocidental e oriental, será de difícil ultrapassagem por qualquer outro Pontífice. Por outro lado o amor fraterno e pastoral que emanava de João Paulo II fazia dele um ser humano especial e transcendente. Sua figura apostólica de pastor sempre alerta, vigilante, do viajante incansável para estar perto de seus fiéis—, o fizera amado de seus mais distantes liderados e de camada significativa das populações do globo. Foi esse o antecessor do cardeal Ratzinger—, Bento XVI.
Mas isso não significa que Bento XVI seja desprovido de qualidades, aliás muito pelo contrário. Não havia naquele momento, no inteiro conclave, um cardeal que fosse superior, em cultura humana e em manejo da diplomacia vaticana, ao Cardeal Ratzinger. Mesmo as candidaturas pulverizadas pelos vaticanistas especialistas em espalhar candidatos à rodo, não apontavam qualidades por demais superiores nos eventuais sucessores que se apresentavam.
Por outro, a imprensa começou a mostrar os chamados defeitos do cardeal, ao invés de traçar-lhe o perfil biográfico de forma isenta. Mas há a certeza de que Ratzinger é um sacerdote vocacionado e altamente preparado. Primeiro a vocação, que segue a sacramentação do entregar-se à Deus de maneira incondicional; segundo o preparo teológico/filosófico. Para entender o seu pontificado é necessário antes conhecer partes pontuais da sua biografia, e daí formularmos um juízo sobre sua atuação. Pois bem, vamos a ela.
Joseph Ratzinger nasceu numa pequena vila bávara, na Alemanha, oriundo de família formada por um oficial de polícia contrário ao regime nazista e uma mulher extremamente religiosa. No auge do nazismo, em 1937 o pai reformou-se na polícia e com a família mudou-se para Traunstein, na mesma região da Bavária. Ao completar os catorze anos de idade, em 1941, Joseph aderiu à Juventude Hitlerista e, de acordo com o escritor John Allen, seu biógrafo, não demonstrava nenhum entusiasmo por essa associação política e de extremo nacionalismo. Querem os atuais analistas de história impor uma imagem negativa à Ratzinger pelo fato de sua adesão, obrigatória e sem meios de esquivar-se, aquela associação. Acredito não ser um pormenor importante na sua biografia, não fazendo nenhuma modificação de maior na sua formação futura e/ou mesmo no seu caráter humano. O pertençer à juventude hitlerista para crianças alemãs naquela quadra histórica entre o período de 1938 até o fim do terceiro Reich em 1945—, era apenas uma ação mecânica, sem controle do indíviduo/ator social.
Em 1943, aos 16 anos de idade, foi incorporado no Exército Nazista Alemão, numa divisão da Wehrmacht encarregada da bateria de defesa anti-aérea da fábrica da BMW nos arredores de Munique, segundo informa uma fonte de pesquisa. Que ele não concordava com a guerra está implicíto na sua fuga do teatro da luta, em 1944. Estava treinando atividades básicas de infantaria, na Hungria, armadilhando minas de defesa anti-tanque. Com essa atitude estava arriscando-se à pena de morte imposta pelo regime hitlerista. O soldado Ratzinger foi dispensado do serviço militar em novembro de 1944 por motivos de saúde não declarados, e assim permaneceu até os aliados invadirem o estado Alemão, quando entregou-se e chegou a ser preso por curto lapso de tempo. Ficou preso em 1945 em Ulm, pelas forças aliadas, e foi libertado no mês de junho.
Acredito que o desabrochar da fé de Ratzinger nasceu dos horrores visão da Segunda Guerra ante o sofrimento humano numa guerra puramente desnecessária, puro desvario hedonista de Adolf Hitler. Pouco depois entrou para o seminário e junto do irmão Georg Ratzinger, recebeu ordens sacerdotais a 29 de Junho de 1951, pelas mãos do Cardeal de Munique, Dom Faulhaber. Já na sua dissertação, defendida em 1953, se pode notar que Ratzinger caminharia pelo caminho da teologia, pois versou tema relativo à ética “agostiniana”, seguida de outra sobre “São Boaventura”. Lecionou na Universidade de Bonn, entre 1954 e 1963, onde conquistou fama de mestre virtuoso e dedicado, até transferi-se para a Universidade de Münster. Em 1966, ocupou a cátedra de “Teologia Dogmática” da Universidade de Tübingen, onde passou a ter uma certa visão tradicionalista em oposição às tendências marxistas dos movimentos estudantis dos anos 1960, tão em evidência. E em 1969 regressou à Baviera, para lecionar na Universidade de Ratisbona. No Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965, Ratzinger teve participação como peritus teológico, assessorando o cardeal de Colônia, d. Joseph Frings. Na ocasião, Ratzinger apresentou e advogou com brilhantismo a proposta da realização da missa na língua nativa de cada local, em vez do latim obrigatório.
A ascenção de Ratzinger ao arcebispado e cardinalato foi repentina, pois nomeado arcebispo de Munique em 12 de março de 1976; alcançou o cardinalato no dia 27 de Março de 1977, no conclave presidido pelo Papa Paulo VI. Em 1981, Ratzinger foi nomeado prefeito da Sacra Congregação para a Doutrina da Fé, o coração teológico da Igreja Romana, pelo Papa João Paulo II. A sua proximidade com João Paulo II firmou-o no cargo que manteve até a data do falecimento do seu nomeador. Depois foi nomeado bispo-cardeal da Sé Episcopal de Velletri-Segni, já em 1993, sendo elevado à Decano do Colégio Cardinalício, em 2002, como cardeal-bispo titular de Ostia, Itália.
Foi um dos cardeais mais influentes no Vaticano e o mais próximo auxiliar do Papa João Paulo II durante todo o seu pontificado. Fontes sérias do Vaticano chegam a especular da predileção de João Paulo II em ser sucedido por Ratzinger, tal a necessidade da continuidade do pensamento joanino na comunidade católica mundial. Mas são especulações, por certo.
De fato, há disparidades entre os perfis de Ratzinger e de Wojtila. Um polonês, vindo do comunismo exarcebado e danoso, prisioneiro de um modelo político que o fez buscar a fraternidade como alternativa de viver e libertar-se de amarras de pré-conceitos velhos, às vezes inócuos; o atual alemão, com toda aquele jeito de ser alemão, professor/mestre, guardião de uma fé milenar, defensor de dogmas medievais. Há beleza no pastoreio de ambos. João Paulo II é aquele que vai em busca do rebanho, aquele que acolhe indo ao encontro para o abraço, o papa global. Bento XVI é aquele que espera o rebanho, aquele que prefere entender o rebanho para melhor o conduzir, aquele que ensina com docilidade para levar a fé que às vezes é áspera.
Mas não há dúvida que ambos são expressões de sólida vocação de servir à Deus e ao povo. Varões que escolheram a Mãe Igreja para serví-la e amá-la com todas as suas forças. Compreendamos Bento XVI na sua inteira dimensão humana e espiritual, além do seu significado pessoal e intelectual no andar da Igreja nos últimos 30 anos que chegaremos a conclusão que não havia melhor sucessor para João Paulo II. Benedictus est. (valdivinof@bol.com.br)


Biografia:
VALDIVINO PEREIRA FERREIRA nasceu em 15 de setembro de 1973, na comunidade rural de Bocaina, à margem do rio Jequitinhonha, no município de Turmalina–MG, filho do casal Geraldo Gomes Ferreira [*27.07.1932 – †22.10.1982], poeta popular, repentista, violeiro, cantador de modas de viola e de modinhas seresteiras, além de compositor de música sertaneja; e D. Maria Das Dores Pereira Godinho [*08.12.1941, Turmalina-MG – †22.03.2005, Porto Ferreira-SP], do lar e antigamente fazendeira e criadora de gado e cavalos, sendo ambos já falecidos. É autor de diversos livros e opúsculos sobre história, genealogia, biografia, poesia, folclore e religião. Tem artigos publicados nos jornais “O Estado de Minas” (Belo Horizonte), “Tribuna Regional” (Itamarandiba), “Estrela Polar” (Diamantina) e na Revista da Academia Mineira de Letras. Tem artigos publicados nos sites noticiosos seguintes: 1 www.ternuma.com.br 2 www.diegocasagrande.com.br 3 www.unainet.com.br
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