O mundo estava doente
O mundo estava doente. As pessoas corriam como baratas tontas de um lado para outro, sem saber por que nem para que, simplesmente corriam e corriam. Além de correr pegavam filas. Filas para se divertir, filas para comer, filas para pagar contas, filas para receber dinheiro, filas para pegar filas. Você percebe que o mundo está doente quando vê que o homem criou a escada rolante. Isso é o cumulo do sedentarismo, é uma das invenções mais sem sentido da humanidade. Não éramos mais capazes de decorar números telefônicos, de gravar nomes, de conversar olhando olho no olho, não éramos capazes nem mais mesmo de subir simples escadas.
O mundo estava doente. Ninguém ligava para ninguém. Não eram capazes de notar a beleza do mergulho de um pássaro para apanhar um peixe. Não eram capazes de perceber um cão que estava com sede. Não eram capazes de perceber que estavam incomodando os que estavam ao seu redor. Não conseguiam perceber que era melhor conversar com as pessoas de verdade, aquelas que estavam bem ali na sua frente, não, todos preferiam conversar com as pessoas virtuais presas em um mundo de mentiras.
O mundo estava doente. Todos queriam igualdade, mas ninguém era capaz de ajudar ninguém. Todos queriam a igualdade, mas não queriam perder suas empregadas. Eram revolucionários vivendo com os pais até os trinta anos de idade. Queriam mudar o mundo, mas não eram capazes de parar um carro para alguém que fosse atravessar a rua. Queriam mudar o mundo, mas não eram capazes de jogar o lixo no devido lugar. Queriam mudar o mundo, mas não abriam mão de usar sacolas plásticas para transportar suas compras. Lutavam contra o sistema, mas não podiam perder os últimos lançamentos tecnológicos. Lutavam contra o sistema vivendo para consumir.
O mundo estava doente. Eles queriam prédios mais e mais altos. Queriam carros mais rápidos. Queriam comidas mais práticas. Queriam resoluções maiores para suas câmeras. Queriam investimentos mais seguros para seu dinheiro. Não se lembravam da beleza da natureza. Não se lembravam de observar um simples nascer do sol. Não notavam mais quando a lua estava cheia ou minguante. Não percebiam a beleza de uma brisa suave num fim de tarde quente e ensolarado. Não percebiam o doce aroma da chuva quando tocava a terra. O mundo estava doente.
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