Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Congresso:
em (des)compasso com as vozes das ruas
Dallagnol Advogados Associados

Resumo:
De acordo com o autor, com a exceção da discussão sobre os valores e custos do transporte coletivo, nenhum outro fato pode ser creditado como conquista do movimento das ruas

Quando aquela parte do gigante que tranquilamente dormia e voltou a dormir em berço esplêndido acreditou ter acordado (o que não passou de um ataque de sonambulismo, numa reação imprevista da vacina manipulatex, inoculada por quem tem poder para isso - principalmente o “quarto poder”), muitos apostaram em grandes mudanças no exercício da cidadania e no aprofundamento da democracia, incluindo, por óbvio, a questão da representatividade política. Ao que me parece, ledo engano.
     Com a exceção da discussão sobre os valores e custos do transporte coletivo (provocado por um grupo de pessoas articuladas e organizadas com essa finalidade específica – Movimento Passe Livre e Bloco de Lutas), nenhum outro fato pode ser creditado como conquista daquele movimento das ruas. De impacto, é verdade, a rejeição da PEC 37 (competência de investigação criminal do Ministério Público) não como conquista das ruas, mas pela forte e organizada articulação dos membros do Ministério Público, além da maciça campanha feita pela mídia, que enxertou essa bandeira nas manifestações de rua, onde foi defendida às cegas.
Nos últimos dias, ocorreu uma reação do Congresso Nacional que parece ter ouvido a voz novamente silenciosa das ruas. Sim, porque o que restou foi a demonstração da incapacidade de uma articulação de massa organizada que, efetivamente, possa ter uma consequência concreta no sentido do avanço cidadão e democrático para além de uma mera onda estética e passageira.
Parte dos congressistas (é de frisar o “parte”, pois é necessário tentar superar o maniqueísmo de que todos os “políticos” são ruins e nós - não políticos - somos os bons) aprovaram o chamado orçamento impositivo, que impõe que o Governo Federal libere, incondicionalmente, as chamadas Emendas Parlamentares. Com a aprovação dessa proposta, cada um dos congressistas (deputados federais e senadores) terá, individualmente, acima de R$ 10 milhões em Emendas para usar, indiscriminadamente, ou seja, sem qualquer critério e planejamento prévio.
Isso significa que esses valores estão à disposição dos parlamentares para eles praticarem o verdadeiro “toma lá da cá” com os prefeitos e vereadores de suas “bases” eleitorais, disponibilizando recursos públicos em troca de apoios eleitorais em um verdadeiro clientelismo político (desconsiderando também a porta aberta para a prática da corrupção). Não é por outro motivo que grande parte dos próprios prefeitos já se deu conta do resultado nefasto dessa prática e quer a extinção das Emendas Parlamentares, pois aquele que não é “amigo” do parlamentar fica sem esses recursos.
Essa prática também subverte a própria função de cada um dos poderes da República, já que cabe ao Executivo a gestão do orçamento e dos recursos públicos e não ao Legislativo; cabendo a este a função legislativa e fiscalizadora.
Porém, ficando apenas na questão eleitoral (e de sua reforma que não acontece), não resta dúvida de que com o poder dos parlamentares disporem de parte dos recursos públicos para serem destinados, conforme a sua própria vontade, estabelece um privilégio eleitoral destes em relação aos demais candidatos, pois partem de um considerável valor de recursos públicos para verdadeiras “negociações” em troca de apoios eleitorais, em um desvirtuamento dos princípios que regem um Estado democrático. Com isso, se perpetua um processo eleitoral desigual e com vícios da pior espécie, para dizer o mínimo.
Portanto, questões importantes como as reformas tributária e a política-eleitoral (a forma do financiamento das campanhas eleitorais se mostra uma das questões mais importantes) são proteladas, ad infinitum, pela maioria dos parlamentares que entenderam que o gigante apenas esporadicamente ruge, enquanto que urge a reeleição de cada um deles e os recursos público das emendas é um impar cabo eleitoral.

Edson Luís Kossmann
Dallagnol Advogados Associados
edsonlk@hotmail.com
www.advogadosdallagnol.com.br



Biografia:
Advogados da Dallagnol Advogados Associados
Número de vezes que este texto foi lido: 61641


Outros títulos do mesmo autor

Artigos O ET de Varginha e a comenda do “Grande Colar” Dallagnol Advogados Associados
Artigos O número de deputados e a (in)competência para sua definição Dallagnol Advogados Associados
Artigos A questão dos precatórios Dallagnol Advogados Associados
Artigos Apenas um comercial? Dallagnol Advogados Associados
Artigos Vivemos tempos difíceis; Dallagnol Advogados Associados
Artigos Máxima vênia Sr. Ministro Dallagnol Advogados Associados
Artigos O problema são os outros, principalmente os políticos Dallagnol Advogados Associados
Artigos Controle do abuso de poder no processo eleitoral Dallagnol Advogados Associados
Artigos Quantos pesos e quantas medidas? Dallagnol Advogados Associados
Artigos Participação maior de mulheres nas eleições 2012 Dallagnol Advogados Associados

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 11 até 20 de um total de 22.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Resumo - Direito da Criança e do Adolescente - Isadora Welzel 62759 Visitas
A SEMIOSE NA SEMIÓTICA DE PEIRCE - ELVAIR GROSSI 62726 Visitas
O pseudodemocrático prêmio literário Portugal Telecom - R.Roldan-Roldan 62661 Visitas
A Aia - Eça de Queiroz 62634 Visitas
Jazz (ou Música e Tomates) - Sérgio Vale 62592 Visitas
Mistério - Flávio Villa-Lobos 62580 Visitas
O Senhor dos Sonhos - Sérgio Vale 62578 Visitas
Legibilidade (Configurando) - Luiz Paulo Santana 62560 Visitas
Minha Amiga Ana - J. Miguel 62554 Visitas
Você acredita em Milagres? - Keiti Matsubara 62509 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última