Por John Piper
Um amigo me escreveu e fez uma pergunta acerca de Isaías 65:17, que diz (na versão ACF), “Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão.”
Ele perguntou: “Você acha que este versículo significa que, quando formos para o céu, não haverá absolutamente nenhuma lembrança dos Céus e Terra passados? Se sim, você acha que também significaria que todas as lembranças desta vida desaparecerão?”
Aqui está o que eu respondi:
Não, este verso não significa que não haverá nenhuma lembrança no céu ou na era vindoura.
Duas razões:
1) Perceba o paralelo entre "coisas passadas" no versículo 17 e "angústias passadas" no versículo 16. O versículo 16 diz: “Assim que aquele que se bendisser na terra, se bendirá no Deus da verdade; e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus da verdade; porque já estão esquecidas as angústias passadas, e estão escondidas dos meus olhos.”
O estrito paralelo entre “angústias passadas” no versículo 16 e “coisas passadas” no versículo 17 leva-me a pensar que “coisas passadas” não significa todas as coisas, mas coisas que nos angustiariam se delas nos lembrássemos. E não nos angustiaremos na era vindoura. “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” (Apocalipse 21:4).
2) O livro de Apocalipse diz que no céu entoaremos a canção do Cordeiro e de Moisés (Apocalipse 15:3), que é uma canção sobre história passada. Logo, se vamos cantar sobre os grandes feitos de Deus na história, não podemos esquecê-los.
Mas aqui está uma dificuldade. A crucificação do Cordeiro foi uma das angústias do mundo. Foi horrível. Portanto parece estar no grupo das coisas que não deveriam ser mais lembradas - foi tão doloroso.
Então a minha conclusão é: O que esqueceremos e o que lembraremos não é uma simples classificação de bom ou ruim. Ao invés disso, esqueceremos e lembraremos das coisas de acordo com o que maximizará o nosso deleite em Deus. Se lembrar de algo intensifica a nossa adoração, nós nos lembraremos. Se atrapalha a nossa adoração, nós esqueceremos.
Como analogia, considere isto. Em Filipenses 3:13-14, Paulo diz: “mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” Então Paulo parece recomendar “esquecer” o passado. Mas em Efésios 2:11-12 ele diz: “Lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne... estáveis naquele tempo separados de Cristo.”
Desse modo, quando eu tento discernir o que deveria ser lembrado e o que deveria ser esquecido, eu respondo: Lembre-se de qualquer coisa que aprofunde o seu amor para com Cristo e o seu zelo em obedecer, e esqueça de tudo o que paralisaria o seu desejo de segui-Lo com alegria.
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