Pois então, só te quero ver em outra vida portanto,
Quandos nós formos gatos.
A vagar errantes sobre tetos, e tetos
Das vidas e vidas de tantos ninguéns
Contemplados voyeuristicamente pela lua, mãe dos ausentes
Que nos explodirá as retinas, translúcidas, felinas
De tantos quereres baldios, terreno sempre à deriva
De tantos sabores gratuitos, céu de Dali a pairar
Da matéria do sonho, a poesia gatuna surgirá, gatuna sim
E larápia, fazendo de cada galho um abrigo, mais que poético,
Apoteótico de amor.
Quando nós dois formos gatos, sim.
Fugiremos de todos e de tudo.
Renasceremos à cada instante, sedentos pela morte e vida
Como errantes certos, exilados no país do tempo.
A hora já acordada, correndo alucinada em nosso encalço
Nos fará lembrar dos fartos pomares de poemas à espera, mas responderás: se o tempo é relativo, o amanhã também o é. Então o que dizer das palavras?
E eu te abraçarei um abraço de gato, suando o suor que dos gatos não sua e amando um amor que dos gatos não emana.
É uma paisagem em sépia, a mente em teu espectro
Um blues sem notas, nem catarse. Retenho o choro,
tal qual o gozo
Para, em claro enigma,
Revolver a exatidão dos pesares.
E mais do que nunca a poesia que aprisiona nessa redoma de máscaras é a mesma
do tom confessional, da qual não tiro sequer uma migalha de drama para ceifar o meu desejo
ímpeto e sôfrego de busca por um par, ímparmente poético.
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