Em homens cobiçosos há dois tipos de pensamentos por meio dos quais a cobiça deles opera:
Os que são estimulados por oportunidades e objetos externos. Assim como se deu com Acã, em Josué 7.21. Ele disse:
“Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma barra de ouro do peso de cinquenta siclos cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata por baixo.”.
A visão dele destes objetos, com uma oportunidade de possuí-los, inspirou pensamentos cobiçosos e desejos nele.
Isto é o que ocorre diariamente com outros, aos quais as ocasiões os chamam a conversar com os objetos das suas cobiças.
E eles ficam aprisionados por estes pensamentos.
Eles se torturam e se movem para se empenharem para obter o objeto da sua cobiça.
E alguns, através de tais objetos podem ser surpreendidos em pensamentos com os quais as suas mentes não estão habitualmente inclinadas; e então quando forem conhecidos, é nosso dever evitá-los.
É através do conhecimento deste princípio de se produzir a cobiça através da produção de pensamentos a partir de estímulos externos, que a mídia opera, uma vez que as pessoas em sua grande maioria recebem tais impulsos sem submeterem tais pensamentos a um juízo crítico de valor.
Mas há um tipo de pessoas que têm pensamentos desta natureza que surge deles próprios, de suas próprias disposições e inclinações interiores, sem qualquer provocação externa.
“O louco fala loucamente, e o seu coração obra o que é iníquo” (Is 32.6).
“Mas o nobre projeta cousas nobres, e na sua nobreza perseverará.” (Is 32.8).
A pessoa de coração transformado, que tem recebido a coparticipação da natureza de Deus, pelo novo nascimento do Espírito, esta pode e deve ter pensamentos nobres e perseverar na nobreza, pela vigilância e estruturação de seus pensamentos, ocupando-os nas coisas nobres recomendadas em Fp 4.8.
Mas o ímpio, da sua própria disposição e inclinação interior, permanece inventando o modo de agir de acordo com os seus pensamentos, para satisfazer a sua cobiça.
Para evitar esta armadilha, Jó fez um pacto com os seus olhos (Jó 31.1), e nosso Salvador fez a declaração santa sobre o mau uso do olhar em Mt 5.28.
Mas o ímpio tem em si mesmo uma fonte habitual destes pensamentos, para os quais está constantemente inclinado e disposto.
Consequentemente o apóstolo Pedro nos fala acerca de tais pessoas que elas têm “olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado, engodando almas inconstantes, tendo o coração exercitado na avareza” (II Pe 2.14).
Os seus próprios afetos lhes tornam inquietos nos seus pensamentos e ideias sobre o pecado.
Assim se dá com aqueles que são dados a excesso de vinho ou bebida forte.
Eles têm pensamentos agradáveis elevados em si mesmos do objeto da sua cobiça.
Consequentemente Salomão dá aquele conselho contra a ocasião deles, em Provérbios 23:31: “Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo, e escoa suavemente.”.
O ato de fixar o olhar nisto, pode produzir pensamentos de cobiça para bebê-lo, daí o conselho de não se fixar o olhar nas possíveis fontes de tentação.
O mandamento bíblico é que fujamos delas, que as evitemos.
E Salomão destaca as consequências do que for vencido pela tentação, por não seguir a instrução de Pv 23.31: “Pois ao cabo morderá como a cobra e picará como o basilisco. Os teus olhos verão cousas esquisitas, e o teu coração falará perversidades. Serás como o que se deita no meio do mar, e como o que se deita no alto do mastro, e dirás: Espancaram-me, e não me doeu; bateram-me, e não o senti; quando despertarei? Então tornarei a beber.” (Pv 23.32-35).
Assim é isto em outros casos. Os pensamentos deste tipo posterior são os pensamentos interiores dos homens.
O salmista diz no Salmo 45:1: “De boas palavras transborda o meu coração: ao Rei consagro o que compuz; a minha língua é como a pena de habilidoso escritor.”.
Ele estava meditando em coisas espirituais, nas coisas relativas à pessoa e reino de Cristo. Consequentemente “o seu coração transbordou para cima (como está no original) uma boa composição.”.
Aqui está insinuada uma fonte de águas vivas: de sua própria vida fluem rios de águas vivas (Jo 4.10,12).
Assim se dá com aqueles que são espirituais, que seguem a inclinação do Espírito e que nada dispõem para a carne.
Há uma abundância viva de coisas espirituais nas suas mentes e afetos, que os eleva para cima em pensamentos santos, porque o Espírito Santo produz neles estas águas vivas de bons pensamentos espirituais.
Assim como do próprio coração do homem fluem continuamente maus pensamentos, oriundos de sua natureza terrena, de igual modo, da presença do Espírito Santo em nós, pode fluir também agora, continuamente, pensamentos santos e bons.
Eles brotarão incessantemente da nova natureza implantada nos cristãos.
Se eles andarem no Espírito, eles verão que fluirá neles estes pensamentos celestiais.
A água viva que Jesus nos dá é de outra natureza.
Não é água para ser mantida num poço ou numa cisterna, de onde deve ser retirada por nós; mas está dentro de nós como uma fonte eterna, que não pode secar e se tornar inútil, e sempre produzirá bons pensamentos que conduzirão a boas ações.
É por isso que Jesus diz em Mt 12.35 que “O homem bom tira do tesouro bom cousas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira cousas más.”.
Primeiro, o homem citado é bom; como ele disse antes no verso 33: “Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom, ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore.”. Ele é feito assim por graça, na mudança e renovação da sua natureza; porque em nós mesmos não habita qualquer bem.
Este homem bom tem um bom tesouro no seu coração. Mas todos os homens têm; como está dito: “mas o homem mau do mau tesouro tira cousas más.”.
E esta é a grande diferença que há entre os homens neste mundo.
Todo homem tem um tesouro no seu coração; quer dizer, um princípio inesgotável de todas suas ações e operações.
Mas em alguns este tesouro é bom, em outros é mau; quer dizer, o princípio prevalecente no coração é o que leva junto com isto suas disposições e inclinações, para serem boas ou más.
Do bom tesouro saem coisas boas.
É a presença do Espírito no coração do cristão que lhe dá tal inclinação para o que é bom, e que lhe permite ter bons pensamentos, segundo o coração de Deus.
Os pensamentos que surgem do seu coração são da mesma natureza do tesouro que está nele.
Se os pensamentos que naturalmente surgem em nós forem em sua maior parte vãos, tolos, sensuais, terrestres, egoístas, tal é o tesouro que está em nossos corações, e tal somos nós; mas onde os pensamentos que assim naturalmente procedem do tesouro que está no coração são espirituais e santos, é uma prova que somos de fato espirituais.
Alguém que seja meramente religioso, que não tem o Espírito Santo, está desprovido da fonte de onde fluem os bons pensamentos, e assim, poderá apresentar uma fachada religiosa como os fariseus, que eram tidos na conta de homens santos, mas os seus pensamentos, ainda que não manifestados exteriormente em palavras e ações, tinham sua prevalência na fonte má de suas naturezas caídas.
Por isso nosso Salvador lhes tirou a máscara quando disse que eram sepulcros caiados, bonitos por fora, mas cheios de podridão no seu interior.
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