Quando eu era pequenina, meu pai toda noite me surpreendia com uma guloseima escondida em algum canto da casa. Eu esperava, ansiosa, pelo anoitecer. Assim seria a hora de vê-lo entrar em casa com o sorriso gostoso de quem tem uma surpresa, a menor que seja, pra alegrar alguém em especial. Nas folgas do velho bar, meu pai me via desenhar e me ajudava a dar nomes a cada integrante das minhas obras de arte de giz de cera. Me mata a saudade do melhor homem do mundo.
Na escola, fiz amizades que sei que vão durar pra sempre. Mas em alguma parte do caminho cada um traçou a sua própria rota e seguiu em frente pra abraçar cada novo destino. Saudades de quando tudo parecia fácil, quando as lágrimas eram de alegria, quando a raiva durava cinco minutos. Saudades da amizade que muda com o tempo, mas que a tudo resiste.
A vida tropeça em mudanças que invertem o nosso mundo de ponta a cabeça. Mudar é assustador. Não sabemos o que nos espera no próximo ponto. Não sabemos como agir se tudo der errado - e nem mesmo se tudo der certo.
Mas acontece que não existe vida sem sacolejo. E, pra ser sincera, ainda bem! Vida que não muda, é vida parada no tempo, sem nada a acrescentar àquele que vive. Se é que pode-se dizer que se vive sem mudanças. As cartas do destino vira e mexe são embaralhadas pelas nossas decisões e devemos aceitar as mudanças de braços abertos. Só assim teremos a chance de crescer e a oportunidade de deixar a vida se consertar. É no mosaico dos caminhos embaralhados que temos a chance de descobrir quem somos realmente.
Que as mudanças em nossos destinos sejam ladras de infelicidades!
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