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Gostaria de ouvir
Maria

As minhas palavras até hoje só souberam separar. Tudo o que disse e tentei expressar sempre trouxe mais dor do que amor. Você que me escuta há de saber sobre o que estou falando. Perdi pessoas queridas, muito amadas porque falei de mais e não disse nada. Palavras ocas, vazias que só causaram dor e sofrimento. Com isso sofri muito também. Debati-me em mim mesma como ave presa em uma gaiola sem espaço nem para caminhar.

Mas descobri que o predador era eu mesma. Me prendi dentro de mim, e lá vivi de andança interior a andança interior.

Se perguntar a alguém por aí, vão dizer: É uma andarilha! Não conheço, apenas passou por aqui. E foi tão rápido que nem deu para ver o seu rosto ou tocar em sua mão para dizer olá ou adeus.

E assim vivi. E sabe o que descobri? Descobri que não era só eu não. Sou várias dentro de mim. Caminhando para cima e para baixo, às vezes uma trompando com a outra. Para quê? Para magoar, ferir e machucar quem por mim cruzasse. Essa foi minha vida. E quando tentei sair dela e mudar, quando descobri porque me debatia tanto, o que aconteceu? Fiz tudo errado outra vez. E o resultado que colhi foi muita dor e sofrimento.

Dizer o que sinto? Já disse tantas e tantas vezes. Já expressei de tudo que é forma. Como achar as palavras certas? Se nem a trinta anos atrás quando só falei sobre um dia nublado e sobre a dor que minha intuição dizia existir em outro ser, não consegui me explicar, imagina nos tempos de hoje, onde o caminho é tão delicado.

Sabe. Duvido que encontre no mundo mulher que tenha se "explicado" mais do que eu. Nunca vi coisa igual. Era falar e se explicar. Por que será? Até hoje me pergunto.

Tamanha dificuldade em dizer o que se quer, jamais tinha enfrentado. E por isso o silêncio se abateu sobre mim.

Gostaria de ouvir os outros se expressarem também, falar o que pensam, o que sentem, sem medo, no tempo de hoje.

Penso que há uma lacuna, um espaço de silêncio muito grande que eu nunca consegui entender.

Mas, por outro lado, na urgência da vida, o que importa é o hoje. E sobre o hoje eu gostaria muito de ouvir alguém falar.

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