Ver vinte e dois homens correndo atrás de uma diminuta bolinha, e outros tantos reservas, sentados num banquinho olhando, me fez pensar no fascínio que essa modalidade esportiva exerce sobre o ser humano, e ainda mais sobre nós brasileiros, doentes por uma bolinha. De futebol. Não me entendam mal.
O País pára para assistir futebol, com exceção de alguma Maria que acha que existem coisas mais fascinantes do que correr atrás de uma bola num tapete de folhas verdes. Mas também, nada tão fascinante assim, que não permita dar uma espiada de vez em quando e explodir em alegria com cada gol marcado.
O futebol tem regras claras que precisam ser obedecidas para que haja harmonia e beleza no jogo. Uma delas, que considero essencial é passar a bola para o companheiro, deixando as individualidades de lado.
Claro que em alguns momentos é crucial dar algumas arrancadas solitárias que finalizem num lindo gol de arrepiar a massa torcedora e arremessar o coração num galope alucinado ao céu das estrelas cadentes. Difícil é voltar de lá depois. E mais difícil ainda é desacelerar as batidas do coração.
Num jogo tem de tudo, de juízes a goleiras e chuteiras.
O campo é marcado, delimitado e só dentro dele se pode jogar. Mas isso todo mundo sabe.
Tem o "time do lado de lá" e tem o "time do lado de cá". Agora depende de que lado do País você está para saber em qual dos dois lados você vai jogar. Se no meu, ou no teu. E isso não quer dizer nada.
E a bola circula em todos os lados do campo. Uns tocam mais nela, outros podem até pegá-la com a mão. E nesse último caso, o Brasil está bem servido. Desde a destreza no serviço à humildade de aceitar ser substituído em algum momento do espetáculo. Mas também se não fosse assim...
Num jogo, existem faltas, pênaltis e devo parar por aqui, porque entendo tanto de futebol, quanto a coitada da bola que é chutada de um lado para o outro dentro do campo, sem nem ao menos saber porque é tão chutada e desprezada. Ou tão amada. Depende do ponto de vista não é? O meu, eu já sei. E você? Sabe o seu?
Mas, vendo nosso time jogar fiquei pensando no outro jogo.
O jogo da vida.
Esse também existe, e suas regras não são muito diferentes do jogo de bola. Claro que se o Brasil perdesse, iríamos chorar um bocado, mas não pararíamos de viver e nem mudaríamos nossa maneira de ser por causa disso. Ou tem gente que faz isso? Você faz?
Mas no jogo da vida é diferente.
No jogo da vida os resultados podem causar desastres que afetam gerações inteiras. Ou, trazer conquistas importantes que mudam radicalmente a vida da gente para melhor. Ou para pior. Depende do ponto de vista e do entendimento do que é vida. Eu? Já sei o que é vida. Resta saber se você sabe também.
No jogo da vida também vale tudo para tentar fazer um gol. De chute a longa distância a passe curto e rápido, além de alguns balões como se falava antigamente. Mas, bem antigamente mesmo, assim no meu tempinho de moleca. Mas isso não interessa a ninguém. Muito menos ao jogo que rola.
No jogo da vida é importante conhecer as regras, respeitar as orientações do técnico, as delimitações do território, os limites do corpo, as forças físicas, psicológicas e espirituais. E aquelas regras que a gente não vê, mas pode sentir. As regras emocionais. É emoção demais viver, imagina se ainda a gente pensar na vida. É de balançar qualquer um.
É importante ouvir a voz do capitão do time e principalmente passar a bola adiante quando você já não pode mais fazer melhor. E se for necessário sair de campo para a entrada de outro companheiro, é importante aceitar com humildade. Ah, mas essa parte é a mais difícil. Você quer continuar a escrever? Ah, mas não deixo não. De jeito nenhum.
No jogo da vida é importante o time reserva animar os companheiros que estão em campo, a torcida fazer a sua parte e todos sentirem-se como parte da equipe. Essa é a parte mais gostosa. É quase como ler os comentários do recanto animando a gente, jogando prá frente, empurrando prá novas conquistas e tentativas. Maior abrir de asas e vôos mais altos. É assim. Só assim. Tão assim.
No jogo da vida é imprescindível respeitar, ser amável e gentil com o time adversário, mas firme e decidido ao disputar a bola com ele. E não ter medo, dó ou pena na hora de fazer o gol. Eu? Não sei jogar essa parte. Morro de dó. E você?
No jogo da vida vale tudo, desde que todas as regras e limites sejam considerados e respeitados, assim como devem ser no jogo de bola. Aiaiai. Essa parte é difícil. A gente sempre quer ultrapassar alambrados, subir montanhas alheias, cruzar pontes de divisas, surrupiar a flor do jardim do outro, e tocar o céu, a lua e o sol, com os pés na terra.
Só não vale chutar contra a própria goleira. Isso não vale. Chutar contra a própria goleira e dar o gol feito para o adversário destrói a confiança, a alegria, a paz e a harmonia da equipe e daquele que marcou o gol contra.
Então já sabe. Não vale chutar contra a própria goleira. Isso não vale não. Pensemos nisso.
E fico me perguntando: No jogo da vida, será que não estou chutando contra minha própria goleira? E se estiver? E se der gol contra. E agora? Aiaiai. E você? Está?
Por isso digo: A que se pensar no assunto. A que se pensar.
Enquanto isso, segura essa bola juíz. Antes que se ponha tudo a perder nesse jogo que nem começou a ser vivido...
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