Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
O EDITOR BONZINHO
Roberto Axe

Resumo:
O jovem escritor, o editor, e uma proposta...


    - Oh, sim, meu caro escritor, adorei seu livro! Puxa, de onde tirou essa estória? Que imaginação, hein? Sabe, você tem talento. Acredite, eu conheço um gênio de longe, sim, meu garoto, de longe! E você é bom, aliás, diria... muito bom! Quantos anos você tem? É quase um menino, acredito.... é a primeira vez que submete manuscritos?

   - Sim. – respondeu o rapaz, sentado do outro lado da imensa mesa; mal podia disfarçar a alegria provocada pelas palavras do editor. Um riso meio tolo e impertinente lhe invadia o semblante amiúde, teimando em deixar transparecer uma felicidade pura e ruidosa. Era seu primeiro trabalho, e havia colocado ‘sua alma’ naquele livro.

   - Veja, querido – prosseguiu o editor – não é da minha índole ficar massageando ego de escritor, que já é bem dilatado, hehe... mas no seu caso... bem, estou impressionado. Seu livro é profundo, bem articulado, inteligente, instigante... bem, resumindo, não vou publicá-lo!

O rapaz sentiu um soco no estômago! Como assim? Depois de tudo que foi dito? Seu mundo desmoronou em um segundo – malditas palavras aquelas do editor: ‘não vou publicá-lo’ – não encontrou palavras para rebater a impertinência. Manteve, então, sua decepção em silêncio, em venenoso silêncio...

   - É que... entenda, meu jovem – continuou o carrasco – isso não vende! Pois é, fazer o quê? É o mercado, compreende? Sei que você deve estar me odiando, mas diga-me, o que posso fazer? Sou um empresário, sobrevivo das vendas de minhas publicações e... digo isto com um aperto no coração: seu livro é muito bom, logo, não vende... Ninguém quer ter de ficar quebrando a cabeça para decifrar códigos existenciais, querem sim é decifrar códigos Da Vinci, percebe? Olhe, nem tudo está perdido, quero lhe fazer um convite, quero convidá-lo a escrever para mim! Quero o seu talento, meu rapaz! Tenho cá comigo uma idéia que você poderá desenvolver com sua impressionante criatividade; é uma idéia para um livro que vende, percebe? A estória é a seguinte: uma vampira se apaixona por um fantasma, ou um morto-vivo, você escolhe, bem, o problema é que a vampira quer sugar o sangue do amado para torná-lo imortal como ela, porém, isso é impossível uma vez que ele é morto!Não tem sangue! Caramba! Isso vende! Entendeu?

O rapaz baixou a cabeça, estava morto por dentro.

- Não fique assim meu geniozinho.... vamos ganhar dinheiro juntos! Pare com idealismos bobos, mercado é mercado, filhote, fazer o quê! Isso que você está sentindo passa logo, é coisa de iniciante, é coisa de sangue novo, é ingenuidade. O negócio é grana, irmão. Grana! Entendeu? Olhe, vou lhe dar um pequeno adiantamento – ato contínuo, o editor puxou seu talão de cheques e rapidamente escreveu uma quantia, assinou e entregou o papel ao escritor; este pegou o cheque, examinou e sentiu o azedume de seu espírito esvaecer um pouco - Um profissional, hein? – prosseguiu o, agora, patrão - Como se sente? É bom, né? Pois é, isso é ser um autor. De que adianta todo seu romantismo se você não tiver grana? É grana que conta, irmão. Taí, trabalhe para mim, conceda-me seu talento e ganharemos muito dinheiro, você agora é um autor! – em seguida levantou-se de sua confortável cadeira, no que foi seguido pelo escritor, e dirigiu-se à porta do escritório. Cumprimentou mais uma vez o novato e abriu a porta – Uma vampira e um fantasma. Ou morto-vivo, não esqueça.... volte quando tiver alguma coisa. – deu um tapinha nas costas do moço, que saiu silencioso e em seguida escutou a porta bater atrás de si. Caminhou pelo comprido corredor do prédio em direção à rua, estava mais tranqüilo, quem sabe não era apenas um romântico irrecuperável? Ora, estava na hora de encarar a Realidade... ‘é o mercado’ disse o editor. Sim, estava certo ele... Começou então a sentir uma sensação de bem-estar, pegou o cheque no bolso e conferiu mais uma vez, sorriu e prosseguiu caminhando rumo a porta da saída – Vampiros? Zumbis? Ora, por que não? - apaziguado, resignado, um pouco feliz até, saiu do prédio e misturou-se aos transeuntes na calçada... nem reparou nas duas profundas marcas de dentes caninos bem finos que ostentava, alheio, em seu pescoço...     


Biografia:
Profissional da área de Marketing e Escritor.
Número de vezes que este texto foi lido: 59435


Outros títulos do mesmo autor

Contos O INIMIGO Roberto Axe
Contos O EDITOR BONZINHO Roberto Axe
Contos A RAINHA DA RUA! Roberto Axe
Contos A SENTENÇA Roberto Axe
Contos A ROUPA DO MORTO Roberto Axe
Poesias DOSADOR Roberto Axe
Contos O QUASE MORTO E O QUASE VIVO Roberto Axe
Poesias NADA INTERESSA A ELES... Roberto Axe

Páginas: Primeira Anterior

Publicações de número 11 até 18 de um total de 18.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
A ùltima Fronteira - José Ernesto Kappel 59861 Visitas
A casa - Ana Mello 59858 Visitas
Arguta Manhã - José Ernesto Kappel 59856 Visitas
Jogada de menino - Ana Maria de Souza Mello 59855 Visitas
O espírito busca a paz interior - Maria 59849 Visitas
A verdade está nas unhas - Ana Mello 59846 Visitas
Razão no coração - Joana Barbosa de Oliveira 59838 Visitas
Rala Memória - José Ernesto Kappel 59838 Visitas
Um coroa no Atacama - Rodrigo Nascimento 59837 Visitas
A Magia dos Poemas - Sérgio Simka 59834 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última