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Ouro Fino,"Mon Amour"
Geraldo Affonso Pimentel Pereira de Araujo

Ouro Fino entrou em minha vida no momento em que nasci . Numa casa ainda existente que preserva o seu quase secular projeto original , bem no coração da cidade que é a Rua Treze de Maio , tive meu primeiro e barulhento contato com o mundo extra-uterino . Nasci sem a assistência imediata de médico ou parteira , pois as contrações apareceram um mês antes da data prevista e de inopino , pelo que , minha pressa em nascer não permitiu que se providenciasse o imprescindível socorro em tempo hábil . Assim , meu pai , homem experiente na arte de extrair dentes , em vista das circunstâncias, transformou-se num improvisado e talvez desajeitado parteiro . Não se aventurou, no entanto, a cortar o cordão umbilical , pois a tarefa coube ao meu padrinho de batismo , Dr. Francisco Bueno Brandão ( que saudade, Dr. Chiquinho...) , chamado às pressas para a tarefa de concluir o trabalho de parto .
     Mais tarde, já nos anos dourados da adolescência , Ouro Fino deixaria de ser apenas uma referência quanto ao local do nascimento para tornar-se uma verdadeira tatuagem em meu coração . Foi numa Semana Santa da década de cinqüenta que as longínquas e esmaecidas reminiscências ouro-finenses ganharam contornos mais nítidos, quando cheguei do Rio de Janeiro para conhecer de fato minha terra natal.
           Ao descer do ônibus , após uma estafante viagem pelas empoeiradas estradas de então, minha primeira visão da cidade foi a do Cristo de braços abertos , uma imagem que lembrava muito a que eu já acostumara a ver na Cidade Maravilhosa onde vivera desde os três anos de idade. Que beleza , que bucólismo tinha o conjunto arquitetônico formado pela bela Igreja Matriz com o casario antigo e mais ou menos uniforme que a rodeava . De qualquer ponto da parte baixa da cidade , vislumbrava-se o Cristo Redentor , imponente , abraçando, recebendo , abençoando e dando as boas vindas a quem chegasse . Hoje , é com muita tristeza, que vejo um verdadeiro paredão de concreto descaracterizando o patrimônio paisagístico daquele local.
          E o “footing” da Rua Treze ? Para um jovem acostumado na cidade grande, aquela prática de se concentrar as mais dignas representantes do belo sexo no mesmo local , representou a mais feliz idéia que alguém já teve. Nunca tinha visto tanta mulher bonita ao mesmo tempo e , em sua grande maioria , impecavelmente vestidas. Devidamente identificadas pelos meus anfitriões , passavam ante meus olhos extasiados, rostos empinados, olhares discretos e indiscretos , as marisas, as tânias, as marias luísas, as marias lúcias e tantas outras beldades de então .
        Daí em diante ,Ouro Fino deixou definitivamente de ser retrato, reminiscência, relatos de minha avó Maria Ignácia , para tornar-se o grande amor-cidade de minha vida. A Passárgada idealizada nos delírios poéticos de Manuel Bandeira incorporava-se em minha cidade natal e eu , constantemente passei a furgir para Ouro Fino , onde encontrava o lenitivo para as minhas preocupações e onde também   era “amigo do rei”.
        O tempo foi passando, casei , descasei , casei novamente , agora com o amor-mulher de minha vida , criei família , envelheci, até que resolvi viver definitivamente em Ouro Fino . E de minha casa no Bairro Montanhês , hoje   vislumbro grande parte da cidade e as montanhas verdes que a circundam . Ouro Fino , “mon amour”.


Biografia:
Geraldo Affonso é professor,radialista, advogado e membro da Academia Ouro-finense de Letras e Artes. Apresenta aos sábados, a partir de meio-dia e meia na Rádio Difusora Ouro Fino um programa de entrevistas, voltado, principalmente, para a cultura, que pode ser ouvido pela Internet no site www.difusoraourofino.com.br
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